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COMENTÁRIO À ORAÇÃO DO SENHOR. 3º Petição: “Seja feita tua vontade assim na terra como no céu”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Reverendo Jorge Aquino.

Nesta terceira petição, quando pedimos que a vontade de Deus seja sempre feita, tanto na terra quanto no céu, somos inclinados a compreender que ela é um reflexo lógico da petição anterior, qual seja, a de que o Reino de Deus venha. Desta forma, quando o Reino se instala, a vontade do Rei é sempre feita. É nesse sentido que Calvino diz que “Deus será rei do mundo, quando todos estiverem submetidos à sua vontade” (CALVINO, 1981, III.xx.43). Assim, fica clara a relação existente entre estas três primeiras petições, já que o nosso Pai, que está no céu, terá sempre feita a sua vontade, na concretização do seu Reino. Lloyd-Jones concorda com essa leitura quando escreve que esta terceira petição “É uma espécie de consequência e conclusão lógicas da segunda petição, a qual, por sua vez, é uma conclusão lógica da primeira. O resultado da vinda do reino de Deus entre os homens será o cumprimento da vontade do Senhor entre os homens” (LLOYDE-JONES, 1984, p. 351).

Dito isso, devemos considerar, em primeiro lugar, sobre o que queremos dizer por “vontade de Deus”. Pelo que sabemos das Escrituras, podemos expor que esta vontade não se refere àqueles desejos que não são compartilhados conosco e com os quais Deus dirige todas as coisas, nos céus e na terra, mas àquela vontade que é revelada e que é boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2). Quando verificamos o texto grego, nos damos conta de que a palavra vontade “traduz um substantivo grego com um sufixo de resultado (thelema), enfatizando não o ato de querer tanto quanto o que é desejado” (STAGG In ALLEN, Vol. 8, p. 151, 152). Assim, esta é uma oração para que, aquilo que Deus deseja, se concretize no céu e na terra. Esta vontade de Deus nos é plenamente conhecida por meio das Sagradas Escrituras, e que deve nos levar a uma perfeita obediência. É nesse sentido que se inclina Hendriksen quando afirma que “A vontade de Deus a que se faz referência é claramente sua vontade ‘revelada’ expressa em sua lei” (HENDRIKSEN, 1986, p. 346). Por óbvio, pedir que a vontade de Deus seja sempre feita, implica em pedir que realidades que nós não compreendemos – ou que jamais compreenderemos – venha a ocorrer. Isso implica em nos colocar sempre em submissão ao seu querer, ou ao beneplácito de sua vontade.

Em segundo lugar, por certo que, com essa petição, conforme afirma o reformador de Genebra, estamos renunciando “aos apetites e desejos de nossa carne” (CALVINO, 1981, III.xx.43). isso significa logicamente que, fazer essa oração é o mesmo que reconhecer que não somos nós os senhores de nossa vida, nem da realidade que nos cerca, muito menos podemos dispor da vida de outras pessoas ou mesmo interferir para o malefício do meio-ambiente e do nosso planeta. Segundo escreve Leonardo Boff, muitas vezes “Temos que assistir, pasmados, que frequentemente as melhores causas são derrotadas, o junto é posto de lado, o sábio ridicularizado e o santo martirizado. Triunfa o frívolo, ganha a partida o desonesto, comanda os destinos de um povo autoridades arrogantes e tirânicas. (...) Neste contexto rezar ‘seja feita a vossa vontade’ exige comprometer-se com a justiça, com uma relação includente de todos e com um sentido forte do bem comum. E simultaneamente, sabedores de nossa insuficiências, abandonamo-nos ao Mistério de Deus que sabe quando intervir e garantir um desfecho feliz ao drama da história” (BOFF, 2011, p. 116). Ademais, somos igualmente induzidos, por essa oração, a negarmos a nós mesmos a fim de permitir que Deus nos guie, dirija e governe sempre em conformidade à sua vontade. E dizemos isso porque, quando teimamos em realizar nossos próprios planos, nossas próprias ideias e nossos próprios sonhos e anseios, a terra jamais refletirá o céu. Portanto, pontua Wesley, quando fazemos essa oração, estamos “Orando para que toda a humanidade se comporte de um modo que agrade a Deus” (WESLEY, 2017, p. 153).

Por fim, em terceiro lugar, quando fazemos essa oração de uma forma sincera, estamos dizendo ao Senhor que queremos nos submeter à sua vontade de forma plena e cabal, estamos dizendo que, aqui na terra, queremos nos comportar como os habitantes do céu, onde a vontade do Senhor é plena. Essa novidade trazida por Jesus se dá porque, conforme ressalta Tasker, citando Chapman, “os judeus naturalmente entendiam uma referência à vinda externa do reinado de Deus sobre o mundo, mas não sobre o coração dos que o servissem” (CHAPMAN, In TASKER, 1985, p. 58). Não é esse o entendimento de Jesus. Ele nos ensina a orar que a vontade de Deus seja realizada em todos os espaços, inclusive em nossas vidas e nossos desejos. Há, aqui um entrega plena à vontade soberana e misericordiosa de Deus sobre nossas vidas. Não é uma entrega cega ao “destino”, é uma entrega consciente à perfeita vontade de Deus para nossas vidas. Sabemos que sua vontade nunca é contrariada ou desfeita. Por isso ele afirmou: “Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará” (Isaías 14:24). Assim, aprendemos com Lutero que a boa e misericordiosa vontade de Deus é feita mesmo sem a nossa prece, “mas suplicamos nessa petição que seja feita também entre nós” (LUTERO, 1983, p. 373). Por fim, para que realmente nos submetamos à vontade de Deus é preciso que crucifiquemos o velho homem (Romanos 6:6) que sempre nos inclina a desejar fazer a vontade da carne, e desejemos ardentemente fazer a vontade do Espírito. Assim, “Nossa natureza pecaminosa, nosso temperamento irritável ou impulsivo, frouxo ou covarde, o orgulho, a vaidade, os vícios e toda sorte de fraqueza humana devem submeter-se à vontade santa e soberana de Deus” (GIOIA, 1981, p. 126).

Dito isto, encerramos este breve comentário citando as importantes palavras do bispo São João Crisóstomo, que afirmou: “Faze crescer a tua vontade em nós a fim de que encontremos o caminho da verdadeira liberdade, a fim de que todos nós caminhemos para Ti. Seja feita a tua vontade na terra como no céu, ‘a fim de dela seja banido o erro, nela reine a verde, o vício seja destruído, a virtude floresça novamente e que a terra não mais seja diferente do céu”’.

 
 
 

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