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COMENTÁRIO À ORAÇÃO DO SENHOR. 1º Petição: “Santificado seja teu nome”

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Reverendo Pe. Jorge Aquino.

Estamos diante da primeira das seis petições que nos são apresentadas por Jesus Cristo. E nesta primeira petição lemos: “Santificado seja o teu nome” (Mateus 6:9), que originalmente aparece assim em grego: αγιασθητω το ονομα σου. Existem três questões que precisam ser levantadas quando se trata desse assunto. Em primeiro lugar, a importância do “nome” para se conhecer a pessoa. Expondo o pensamento desenvolvido por Von Rad, Marcelo Silva escreve que “A mentalidade, das culturas do antigo oriente no período do Antigo Testamento, estabelecia uma relação íntima e substancial entre o nome e o seu portador. O portador existe em seu nome e em seu nome há uma afirmação da essência de seu portador (RAD Apud SILVA, In FILHO, 2008, p. 716). Refletindo nesta mesma direção, encontramos o conhecido evangelista anglicano John Wesley, que afirma: “O nome de Deus é o próprio Deus. É a natureza de Deus, no que ela pode ser descoberta pelo homem. Significa, portanto, junto com sua existência, todos os seus atributos” (WESLEY, 2017, p. 150). Assim, não há dúvida de que na antiguidade, o nome não era apenas uma mera designação que apontava para alguém, em relação a outra, mas a expressão da natureza mesma da pessoa que estava sendo invocada pelo seu nome. Essa realidade era tão importante que, diante de um evento que teria o condão de mudar a realidade da pessoa envolvida, mudar-se-ia também o próprio nome. Eis porque Abrão passou a ser chamado de Abraão, ou seja, de “pai de um filho” ele passou a ser visto como o “pai de uma grande nação”. Assim, santificar o nome de Deus é o mesmo que santificar sua pessoa.

Em segundo lugar, para que possamos santificar o nome do Senhor, urge que tenhamos ciência da cultura secular na qual vivemos. O que é mais paradoxal em nossa realidade é que a falta de respeito que se observa para com a pessoa de Deus se manifesta, primariamente, entre pessoas que são – ou se dizem – religiosas. Nesse sentido, conforme pontua Boff, “no mundo, o nome de Deus, pela maldade humana e pela rebeldia da criação, é manipulado, distorcido e banalizado, por todos os meios, particularmente pelos programas religiosos das televisões, a maioria medíocres e indignos da grandeza de Jesus” (BOFF, 2011, p. 110). Assim, surpreende que as pessoas que se mostram mais religiosas, são justamente aquelas que esfregam a santidade de Deus na lama de suas ambições e pretensões mais obscenas. Eis que essa realidade leva as pessoas a quebrarem o mandamento que nos proíbe de tomar o santo nome de Deus em vão (Êxodo 20:7). Não se pode negar, pois, a desvalorização por que passa a ideia e o nome de Deus hoje, em nossa realidade social e política. O escritor Egídio Gioia nos lembra que “Diante da santidade de Deus, o homem deve temer e tremer” (GIOIA, 1981, p. 125). E, segundo ensina Lutero em seu Catecismo Menor, “Aquele, porém, que ensina e vive de modo diverso do que ensina a palavra de Deus, profana o nome de Deus entre nós” (LUTERO, 1983, p. 372). Para quem realmente deseja orar, não existe outro caminho senão o da humildade e do reconhecimento da distância qualitativa que existe entre nós e nosso Deus, diante de quem somente o reconhecemos – conforme lembra Rudolf Otto - como mysterium tremendum et fascinans.

Em terceiro lugar, urge que conheçamos o sentido e o significado de “santificar” o nome de Deus. Para um dos organizadores do Comentário Bíblico Moody, Everett Harrison nos resume o sentido dessa primeira petição dizendo que o nome de Deus deve ser “reverenciado e tratado como santo” (HARRISON, 1980, p. 15). Mas de que forma isso pode acontecer? Respondendo a essa questão, Lutero, em seu Catecismo Menor escreve que isso ocorre “Quando a palavra de Deus é ensinada genuína e puramente”, e, como consequência, continua o reformador, quando “vivemos uma vida santa, em conformidade com ela” (LUTERO, 1983, p. 372). Assim, o agente da verbo “santificar”, parece ser o ser humano. Segundo pontua Wesley, orar para que o nome de Deus seja santificado, é orar para que “todas as criaturas capazes de conhece-lo possam dar-lhe a devida honra, temor e amor” (WESLEY, 2017, p. 151). Implica em estimar, glorificar e viver de acordo com o ser de Deus. Desta forma, o termo “santo” aponta para algumas virtudes que são exigidas de todos os cristãos, tais como a paz, a verdade, a justiça, a bondade a pureza, o amor e a misericórdia. Desta forma, santificar o nome de Deus implica em que pratiquemos, persistentemente, estas virtudes em nossa vida cotidiana. No entanto, é muito importante frisar que a prática dessas virtudes não é um fim em si mesmo, é uma reação normal de quem desenvolveu um relacionamento com Deus.

Em resumo, santificar o nome de Deus é viver a vida revelando quem Ele é. Mas, antes de concluir, devemos lembrar que estamos diante de uma petição. Ou seja, estamos pedindo que Deus – e não apenas nós, os cristãos – atue para “que lhe seja dada a Deus a honra que se lhe deve, de modo que nunca falem nem dele os homens, sem que seja com grande reverência” (CALVINO, 1981, III.xx.41). Assim, cabe também a Deus zelar pela santidade de seu nome. E ele assim o faz, soberanamente. Assim, que nossa experiência com Deus reflita o que ocorreu com o profeta Isaías (6:1-8) que, enquanto estava no templo, viu o Senhor assentado em seu trono. Os serafins voavam ao seu lado e clamavam “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos! A terra inteira está cheia de sua glória” (v.3). Diante dessa realidade celestial, o profeta imagina que vai morrer frente a glória de Deus. Assim, um dos serafins, trazendo consigo uma brasa viva, com ela toca a boca do profeta que se vê, assim, chamado para glorificar a Deus por meio de seu ministério e sua vida.

 
 
 

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