top of page

COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 9: “Foi crucificado, morto e sepultado”

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

Logo depois de apresentar a relação de Jesus com o poder estabelecido por Roma na pessoa de Pilatos, o procurador para a Judéia, o Credo apresenta, em três palavras, o resultado desse encontro: Jesus foi “crucificado, morto e sepultado”, ou, no texto latino, crucifixus, mortuus et sepultus. Estas três palavras apresentam exatamente o clímax do mistério da encarnação e que se apresenta na sexta-feira Santa, apontando para o grande momento de alegria que ocorrerá no domingo da Páscoa. Estas três palavras são, na verdade, três verdades com implicações profundas para nossa espiritualidade e nossa teologia. Assim, em primeiro lugar, lemos que Jesus foi crucificado. A morte por crucificação era a mais penosa aplicada pelos romanos e utilizada apenas para os piores transgressores. Ser crucificado, para um judeu, dignificava ser apontado como a escória da humanidade e como o mais profundo sinal de indignidade. E foi, exatamente, na cruz que ocorre a maior de todas as mortes. Para Bruno Forte, “A morte da cruz é, então, na verdade, a morte da morte, porque no lenho da vergonha está o Filho de Deus, que se entregou à morte para dar-nos a vida” (FORTE, 1994, p. 55). De fato, quando morre o Cordeiro de Deus, é o poder da própria morte que começa a desaparece. Por isso Paulo pergunta: “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” (I Coríntios 15:55). Para todos nós, fica a memória da dor infligida pela cruz, mas também fica preso na garganta nosso grito de vitória.

Em segundo lugar, lemos que Jesus foi morto. Refletir sobre o que ocorreu com a morte de Jesus em relação a nós, nos leva a pensar sobre um texto muito significativo escrito por Paulo e que diz: “Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Colossenses 2:13, 14). Assim, se de um lado existe um documento contendo todo o relato de nossa culpa, a morte de Jesus na cruz é vista como a suspensão desse documento. Desta forma, “A sentença, ‘a escrita contra nós’, é autorizadamente preparada e assinada por Deus. Mas... esse ‘mas’ se chama: Jesus Cristo, o Crucificado. ‘Tendo cancelado a escrita de dívida, que era contra nós e que constava de ordenança que nos era prejudicial, removeu-a inteiramente, encravando-a na cruz’”. (...) É justamente isso que Deus nos quer dizer na cruz de seu Filho. (...) Deus toma a sério tudo aquilo que testifica contra nós. Não o considera ninharia. Ele não pode e não quer destruir simplesmente aquela escrita. Não lhe faltaria poder para tanto; mas ele não o quer por nossa causa. Não tomaríamos a sério nossa culpa. Quer mostrar-nos que tudo aquilo que está anotado na ‘escrita’ está certo e vale. Deseja inclusive que a sentença se cumpra. Mas ... sobre tudo paira o seu amor paterno que perdoa. Não quer destruir a escrita, mas quer neutralizar sua força superior. ‘Encravou-a na cruz’” (BRUNNER, 1970, p. 70, 71). Eis que, apesar de continuar existindo, nossa culpa é – em Cristo – pregada na cruz. O fabuloso mistério que ocorre na cruz é descrito por Barth da seguinte forma: “A reconciliação do homem com Deus acontece quando pomos Deus no lugar do homem e vemos o homem colocado no lugar de Deus por um ato de pura graça. Este milagre inconcebível é precisamente nossa reconciliação” (BARTH, 2000, p. 135, 136).

Por fim, lemos que Jesus, em terceiro lugar, foi sepultado. Esta expressão parece absolutamente insignificante, depois das duas grandes palavras que lemos anteriormente. Mas ela não está aqui por acaso ou sem qualquer sentido. Ela foi escrita para nos lembrar que, nas palavras de Barth, “Chegará um dia em que uma comitiva de pessoas irá a um cemitério e depositará na terra um caixão, e todos voltarão para casa; um porém não voltará, e esse serei eu” (BARTH, 2000, p. 138). Assim, segundo a interpretação do ilustre teólogo suíço, ser sepultado é o juízo que sobrevém sobre todas as pessoas. E continua: “Esta é a resposta de Deus ao pecado: ao homem pecador somente cabe ocorrer uma coisa, enterra-lo e esquece-lo” (BARTH, 2000, p. 138). O esquecimento é a grande condenação que paira sobre todos os pecadores e seus inimigos imaginavam ser possível impor sobre Jesus essa condenação. Mas eis que esse gesto durou pouco tempo.

Assim, com a morte da morte e com a anulação da culpa, vislumbramos agora nossa vitória sobre o esquecimento e a completa união entre os filhos remidos com seu Deus.


Referências bibliográficas:

BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000

BRUNNER, Emil. São Leopoldo: SINODAL, 1970

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

MUDAMOS PARA OUTRO SITE

Caríssimos leitores, já que estamos com dificuldades de acrescentar novas fotos ou filmes nesse blog, você poderá nos encontrar, agora,...

Comments


Post: Blog2_Post

©2020 por Padre Jorge Aquino. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page