top of page

COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 8: “Padeceu sob Poncio Pilatos”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Padre Jorge Aquino.

Eis que agora estamos diante da oitava afirmação do Credo Apostólico. Nesta afirmação se diz que Jesus “passus sub Pontio Pilato”, ou seja, morreu sob o domínio de Pilatos. Pensando acerca disso, existem alguns aspectos que precisam ser destacados.

Em primeiro lugar, esta afirmação destaca a historicidade de Jesus. Jesus era um personagem histórico que se relacionou com Pilatos. Mas quem era ele? Pilatos era o procurador, o praefectus (prefeito) romano da Judeia no momento em que Jesus viveu. Pelo que sabemos, Pilatos governou a Judeia por 10 anos, ou seja, entre os anos 26 e 36 d.C. E, ao vermos sua aparição no Credo, fica evidente que o evento salvífico de Deus realizado em Cristo ocorreu dentro de nossa história, ou seja, de nossa realidade vivencial. Em outras palavras, a história da salvação acaba se inserindo na história humana, que se revela como a história de Deus com os homens. Desta forma, o que ocorreu com Jesus sob o poder de Pilatos, pode ser historicamente delimitado e datado. Como percebemos, Pilatos não é apenas um mero personagem mencionado ao acaso pelo Credo.

Em segundo lugar, esta afirmação destaca a relação entre a religião e o poder. Os Evangelhos sinópticos fazem referência a essa relação por meio de uma expressão clássica de Jesus: “Dai, a César o que é de César, e a Deus, o que é de Deus” (Mateus 22:21; Marcos 12:13-17; Lucas 20:20-26). Para muitos há uma escolha a ser feita: ou bem devemos servir a César, ou bem devemos servir a Deus. No entanto, Jesus nos diz que Deus e César ocupam espaços diferentes e não excludentes. Só que, ao diferenciar um do outro, Jesus está dizendo que César não é Divino e, portanto, não tem todo o poder e não deve receber nossa adoração. Dizer isso, coloca o cristão diante de uma realidade clara: só Jesus é o Senhor. O Credo afirma categoricamente que Jesus padeceu sob Pôncio Pilatos, ou seja, Pilatos tinha o poder político e o exercia na forma de domínio sobre as pessoas. De acordo com a Lex romana, somente cidades livres e autoridades romanas possuíam o chamado ius gladium, ou seja, o direito de sentenciar alguém à morte. Na condição de praefectus romano da Judeia, Pilatos tinha direito sobre a vida e a morte das pessoas. Pilatos, assentado em seu trono, vivia seu momento de “autoridade” dispondo da vida das pessoas. Jesus, desde logo, deixou claro que nem César, nem nenhuma outra pessoa, poderia assumir uma postura que somente poderia ser assumida por Deus. Toda a atividade política deve, portanto, se submeter aos valores do Reino de Deus e ao grande Rei Jesus Cristo.

Em terceiro lugar, esta afirmação destaca os grandes aspectos da vida. De uma perspectiva topológica, o Credo coloca a morte logo após a declaração de seu nascimento. É claro que tudo o que ocorreu entre esses dois eventos teve e tem relevância para todos nós. No entanto, entre o evento da concepção e o da sua morte nada é dito no Credo. Esta ausência somente pode ser suprida nas páginas dos Evangelhos. A morte, contudo parece ter um papel muito significativo no Credo. Quando lemos os relatos de Marcos e Mateus, vemos que, na cruz, Jesus se dirige a Deus como Eli, não como Abbá. O que se vê aqui é uma apelação, não uma expressão terna e meiga. O que Jesus, no ápice de sua agonia, quer saber é: “por que me abandonas-te?”. Esta pergunta, “é carregada do tormento que atravessa o sofrimento, o pesar de não compreender seu sentido. A interrogação nasce da experiência de abandono real, da ausência e do silêncio daquele cuja presença, na hora da cruz, o Nazareno mais teria esperado e desejado. Este sentir-se abandonado de Jesus, ferido em sua consciência filial, está nos antípodas da mentalidade do salmista, para o qual o justo tem direito à proteção de Deus: o Crucificado é o mais desolado dos desolados da terra!” (FORTE, 1994, p. 53). Ocorre que a falta de sentido e de propósito frente a morte de Jesus é a mesma questão que atinge qualquer pessoa que perdeu um ente querido ou que enfrenta um grande sofrimento. Assim, o sofrimento e o escândalo do Crucificado expõe, diante de todos, os poderes injustos deste mundo, que não apenas sentencia à morte um inocente e justo, mas encobre esse gesto, mascarando-o de um ato legal e justo, agindo apenas por considerações politicas.

Referências bibliográficas:

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

MUDAMOS PARA OUTRO SITE

Caríssimos leitores, já que estamos com dificuldades de acrescentar novas fotos ou filmes nesse blog, você poderá nos encontrar, agora,...

Bình luận


Post: Blog2_Post

©2020 por Padre Jorge Aquino. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page