
Padre Jorge Aquino.
Chegamos à quinta afirmação do Credo Apostólico. Aqui aprendemos duas grandes verdades a respeito de Jesus Cristo. Em primeiro lugar, aprendemos que ele é “seu [de Deus] único Filho”. Dizer que Jesus é o único Filho de Deus, significa o mesmo que dizer que ele é seu Filho “unigênito”. Quando falamos de “Filho”, estamos nos referindo a alguém que mantém a mesma natureza que seu Pai. Em outras palavras, quando confessamos isso, queremos destacar que Jesus é o único que tem a mesma natureza que Deus (João 1:14). Jesus não é uma criatura como todos nós. Sendo ele da mesma natureza do Pai e mantendo as mesmas características, ele procede do Pai e é uma manifestação do Pai entre nós. Ele é, realmente, “Deus conosco”. Ao dizer que era Filho de Deus, os judeus entenderam que ele estava afirmando ser igual a Deus (João 5:17,18). Em resumo os filhos herdam as características e a natureza de seu Pai. Assim, se Jesus vem de Deus Pai, ele mantém a mesma natureza do Pai. Assim, se o Pai é divino, o Filho é igualmente divino. E, nas palavras de Forte (1994, p. 37), “se Deus se fez homem, a humanidade de Jesus não só não faz concorrência com sua divindade, mas é, antes, o lugar concreto em que a face de Deus é revelada para nós”. Assim, por meio dessa humanidade densa e humilde, Deus revela seu grande amor por nós. Assim, arremata Forte (1994, p. 38), “A humanidade de Deus é o fundamento da grandeza e da esperança de nossa humanidade”.
Mas, afinal, se somente Jesus é o único Filho de Deus, como podemos dizer que nós também somos? A resposta é simples. Jesus é Filho em função da sua natureza, nós o somos porque fomos “adotados” como filhos amados de Deus. Paulo explica essa questão de forma muito clara quando escreveu aos Gálatas: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, o qual clama: ‘Aba, Pai’”. (Gálatas 4:4-6). Assim, na condição de filhos adotados pelo Pai, também podemos chama-lo como os filhos legítimos, ou seja “Aba”, que significa “paizinho”.
Em segundo lugar – e como corolário do que acabou de ser dito -, aprendemos que ele é “nosso Senhor”. Dizer que Jesus é o Senhor é fundamental, pois entre os romanos, acreditava-se que César era o senhor. Quando dizemos que alguém é “senhor”, estamos afirmamos que ele é o dono, o proprietário e o que tem direito sobre algo e/ou alguém. Sendo “Senhor”, sua vontade não pode jamais ser contrariada. Assim, Jesus é o Senhor de tudo porque dele, e por ele e para ele são todas as coisas (Romanos 11:36). João nos ensina que tudo foi feito por meio dele e para ele (João 1:16). Segundo Paulo, “nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Colossenses 1:16,17). Assim, sendo o criador e mantenedor de tudo, Jesus é o Senhor de tudo e nosso. Sendo nosso Senhor, ele é nosso dono e nós seus servos. À Ele, devemos obediência, reverência e amor.
Nós estamos comentando um dos primeiros documentos de fé da Igreja Cristã, o Credo Apostólico. No entanto, se observarmos a história, descobriremos que uma das mais recentes profissões de fé confeccionada pelos Cristãos foi a conhecida Declaração Teológica de Barmen. Esse documento, produzido durante o sínodo da Igreja Evangélica Alemã, reunida entre os dias 29 a 31 de maio de 1934, declara muito claramente que “Unifica-nos a confissão de um só Senhor da Igreja”. Em outras palavras, em um momento em que a expansão do nazismo por toda a Alemanha levava pessoas a afirmarem ser Hitler o único Führer ou líder do grande Reich (Reino) que se estava sendo construído, os Cristãos Alemães declaram que somente existe um Senhor na Igreja de Cristo, e esse Senhor é Jesus. Sendo nosso Senhor, Jesus assume contornos de absolutidade, o que relativiza todo e qualquer discurso ou doutrina que contrarie sua vontade. Ademais, nossa mais absoluta fidelidade e subordinação somente pode ser dada à Jesus. Somente ele é nosso Senhor, assim, nenhum outro homem pode ser visto como um “cristo”, ou seja, um “ungido”, ou um messias. É nesse aspecto que a Igreja entende que deve dar a César o que pertence à César, mas a Deus àquilo que somente pertence a Ele, ou seja, toda a glória, todo louvor e toda majestade que lhe pertencem e a nosso Senhor Jesus Cristo. Lembremos que, diante de Jesus, todos os joelhos da terra se dobrarão e todas as línguas confessarão que ele é o Senhor, para a glória do Deus-Pai (Filipenses 2:10,11).
Referências bibliográficas:
FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994
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