COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 4: “e em Jesus Cristo”.

Padre Jorge Aquino.

Desde nossas primeiras aulas na escola fundamental, aprendemos que a história da humanidade está dividida em duas partes: antes e depois de Cristo. Ao fazer isso, ensina Brunner: “o mundo reconhece publicamente, o advento de Cristo como início de uma nova era” (BRUNNER, 1970, p. 55) Mas afinal, quem ele é? Quem foi Jesus Cristo? Responder a essa questão é fundamental para nós.

Para iniciar nossa breve exposição, creio crer ser necessário apresentar, em primeiro lugar, o que ele mesmo dizia sobre si. Lendo os textos daqueles que andaram com ele e testemunharam suas palavras, aprendemos como ele se apresentava. João, por exemplo, afirma claramente em seu evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Mais à frente, depois de dizer que Jesus era Deus, ele afirma que ele é o criador, ao dizer: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito, se fez” (João 1:3). E, para não deixar dúvida, ele arremata dizendo: “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). Depois da ressurreição, Jesus aparece à Tomé e apresenta as marcas em seu corpo, exigidas por ele para que pudesse crer. Em resposta, Tomé cai de joelhos e diz: “Meu Senhor e meu Deus” (João 20:28), confessando sua divindade. Essa também era a crença de Paulo, que escreveu ser ele “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação (...) porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude. (...) Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 1:15, 19; 2:9). Não é sem razão que Mateus registra as palavras do anjo sobre seu nome dizendo que ele seria chamado Emanuel, “que quer dizer: Deus conosco” (Mateus 1:23). Encerro citando as palavras de Jesus registradas por João, nas quais se identifica com Javé, no Antigo Testamento, ao afirmar: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou (João 8:58). Ora, ao dizer “eu sou” (em grego: ego eimi), Jesus usa a mesma expressão que Javé usou quando se apresentou à Moisés, e isso é tão clero que, logo em seguida que os judeus pegaram em pedras para apedrejá-lo. Concluímos dizendo que, do que lemos nas Escrituras do Novo Testamento, Jesus dizia ser igual à Deus, e seus discípulos acreditavam nisso. Frente a essa afirmação, somente existem duas possibilidades, ou bem ele estava certo, ou bem ele estava errado.

Seguindo nosso raciocínio, chegamos a uma segunda conclusão. Imaginemos, que ele estivesse errado em dizer que era Deus. Se isso for verdade, ou seja, se ele dizia que era Deus e na verdade não era, então ou bem ele não sabia disso e acreditava no que ensinava (o que faria dele um louco), ou bem ele sabia disso e continuava a ensinar essa tese, o que faria dele um mentiroso (porque ensinava o que sabia não ser verdade), um hipócrita (porque ensinava que deveríamos ser honestos) e um verdadeiro demônio (porque ensinava que as pessoas deveria confiar suas almas à ele). Em outras palavras, se ele dizia que era igual à Deus e não era, então jamais poderíamos dizer que ele era uma boa pessoa ou um grande mestre. Se ele estava errado ao dizer que era Deus, ou ele era um louco, ou era um mentiroso, um hipócrita e um demônio. Simplesmente não temos outra opção! Quem afirma que Jesus foi um “grande mestre da humanidade” é alguém absolutamente ingênuo que jamais leu o que ele ensinou. Se ele não é quem disse ser, ele jamais poderia ser um grande mestre da humanidade. Diante dele, precisamos acusa-lo de mentiroso, hipócrita ou, no mínimo, um louco.

No entanto, seu comportamento não era o de um louco – porque loucos não socializam e Jesus construiu um corpo de discípulos -, e ele não se comportava como um hipócrita, porque sempre assumiu as consequências de seus ensinamentos, sendo até capaz de morrer por aquilo que acreditava. Então, meu querido, se ele não era um louco, se ele não era um mentiroso e não era um hipócrita, então ele não estava errado.

Isso nos faz chegar ao nosso terceiro ponto: se ele não estava errado, então ele estava certo! E se ele estava certo no que afirmava sobre si mesmo, então nossa única possibilidade é fazer exatamente o mesmo que Tomé fez: cair de joelhos aos seus pés e reconhece-lo como nosso Senhor e nosso Deus! O grande problema é que, muito embora a lógica nos leve claramente a essa conclusão clara e translúcida, as pessoas preferem posar como sábios, procurando adjetivos pomposos para aplicar à Jesus. Meu querido, isso é a ultima coisa que ele deseja. Seu desejo, para todos nós, é muito claro: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (Mateus 11:28,29).

Assim, quando Deus se fez carne em Jesus e vem habitar entre nós, acontece algo absolutamente extraordinário. Segundo escreveu Bruno Forte, “A humanidade de Deus é o fundamento da grandeza e da esperança de nossa humanidade: é o ‘sim’ dito ao fato humano, a todos os fatores humanos, capazes de torna-los o lugar da presença de Deus na história e da história em Deus” (FORTE, 1994, p. 38). Assim, pela encarnação, Deus habita entre nós, assume nossa humanidade, e nos convida a andar fortalecidos pela sua presença e na direção que ele aponta, o seu Reino! Tudo isso é uma questão de fé. É claro que, como tentamos demonstrar acima, temos boas razões para crer em Jesus Cristo. No entanto, não cremos por causa da razão, nem apesar dela. Cremos e compreendemos que porque somos seres complexos que operam tanto com a razão como com o coração. Assim, minha alma e minha razão estão juntas em minha declaração de fé em Jesus.

Referências bibliográficas:

BRUNNER, Emil. São Leopoldo: SINODAL, 1970

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994