
Reverendo Jorge Aquino.
O encerramento do Credo Apostólico, se dá com a utilização de uma expressão hebraica bastante conhecida de todos nós: “Amem”. Quando procuramos, por exemplo, o Dicionário Bíblico Universal, lemos que este termo é um “Advérbio hebraico, formado duma raiz, que significa ‘assegurar, firme’, e por isso é empregado no sentido de confirmar o que outrem disse” (BUCKLAND, 1981, p. 25). Amém, portanto, pode ser traduzido brevemente por Assim seja!
Um histórico dessa palavra, contudo, nos revela ser ela bastante rica. Oriunda do ambiente cúltico sinagogal judaico, este termo migrou naturalmente para o mesmo ambiente, agora, dentro da igreja cristã primitiva. De acordo com as palavras de R. Martin-Achard, o termo “Deriva de um radical que implica a ideia de firmeza, de realidade, originando termos tão diversos quanto importantes: subsistir, crer, verdade, solidez, fidelidade, certeza, fé, e talvez até mesmo Mamon” (MARTIN-ACHARD In VON ALLMEN, 1972, p. 26).
Seu aspecto litúrgico surge primordialmente, quando o termo passa a desempenhar de um responso, tendo como lugar apropriado o culto, conforme testemunham várias referências bíblicas como I Coríntios 14:16 e Apocalipse 5:14. Assim sendo, este termo pode ser encontrado no fim de diversas orações e doxologias, chegando até a fazer parte de hinos entoados em louvor à Deus e ao lado do Aleluia (Cf Romanos 1:25; 9:5; 11:36; 16:27; Gálatas 1:5; Filipenses 4:20 e Apocalipse 19:4). Em todas as citações, a palavra procura manter a noção de algo verdadeiro e real, bem assim, a certeza de uma comunidade que confia nas promessas de seu Senhor.
Como afirma Bauer, este termo, quando visto na boca de Jesus se manifesta de uma forma singular, aparecendo no início das expressões, com a finalidade de reforça-las. Assim, é comum ler “Amém, eu vos digo”, ou, no caso do Evangelho de João, um uso duplicado (amém, amém), procurando trazer uma ênfase ao que se é dito. Assim, “Poderíamos traduzir as palavras de Jesus mais ou menos da seguinte forma: ‘Digo-vos com toda a seriedade, digo-vos de uma vez para sempre’. Com isso, o Senhor exprime a sua autoridade e a força de suas palavras” (BAUER, 1988, p. 36). Neste sentido, Bauer nos lembra que esta expressão passa a revelar a ipsissima vox Jesu.
Mas o Amém não habita apenas a dimensão litúrgica, mas também a doxológica. Com esse termo assentimos à fé dos que acreditavam no início do cristianismo. Por isso, escreve Forte, ‘Dizer Amém significa aceitar a fé que nos foi proposta, confiando-nos definitivamente ao Deus que nos alcançou e tornando-nos, por nossa vez, suas testemunhas” (FORTE, 1994, p. 107). Portanto, ao dizer Amém, reafirmo com o coração a crença que acolhi em minha mente a mesma profissão de fé que a Igreja em todos os lugares e em todas as épocas, afirmou. Neste sentido, o Documento de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas afirma, em seu número 279, que “Nas liturgias mais antigas o que proclamavam e confessavam os ministros nos ofícios específicos da Igreja de Deus era recebido e confirmado pela assembleia toda, expressando a confiança no que fora confessado. Hoje em dia quando a assembleia toda proclama e confessa o Credo juntamente com os ministros, significa a comunhão de toda a Igreja de Deus na fé transmitida pelos apóstolos” (A confissão da fé apostólica, 1993, p. 128, 129).
Assim, o termo Amém pode ser encontrado tanto na esfera cúltica quanto dogmática, envolvendo tanto a esfera individual quanto a comunitária. Assim, estamos diante de uma das palavras mais significativas e expressivas da Igreja cristã. Por isso, e por muito mais, sempre que pronunciamos esta palavra, precisamos dizê-la com sentido e significado tanto para o coração quanto pra a mente.
Referências bibliográficas:
BAUER, Johannes B. Dicionário de teologia bíblica. Vol 1. São Paulo: Loyola, 1988
BUCKLAND, A.R. Dicionário Bíblico Universal. Miami: Editora Vida, 1981
Conselho Mundial de Igrejas. A confissão da fé apostólica. São Paulo: CONIC/Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1993
VON ALLMEN, Jean-Jacques (Org.). Vocabulário bíblico. São Paulo: ASTE, 1972
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