
Reverendo Pe. Jorge Aquino.
Uma das verdades mais desconcertantes que podemos dizer que acreditamos, é na Vida Eterna (Lat. “et vitam aeternam”). Jesus nos ensinou claramente sobre isso quando pontuou, preparando seus discípulos, que “Quem crer no Filho tem a vida eterna”(João 3:36). Mais adiante, nesse texto, Jesus faz uma comparação com a serpente do deserto ao dizer: “Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna(João 3:14,15). E, mais tarde ele repetiria a mesma verdade dizendo: “Aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6:47).
Ao fazer esta afirmação, Jesus adianta um tema que normalmente é tratado quando estudamos acerca da esperança cristã ou da escatologia. Em outras palavras, em primeiro lugar, a crença na esperança cristã – que está relacionada ao futuro -, em nada nos impede de refletir sobre suas consequências para nossos dias, hoje. Como asseverou Barth, “A esperança cristã não nos retira dessa vida; ela é mais a revelação da verdade na qual Deus enxerga a nossa vida” (BARTH, 2000, p. 179). Assim, ela é a superação da morte, mas uma superação que já é experimentada hoje, nesta vida. Por isso Paulo afirmou que, “Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’” (I Coríntios 15:54). Em outras palavras, hoje já podemos afirmar que a morte está vencida, muito embora a imortalidade somente nos seja plenamente revelada no futuro. Assim, o tema da vida eterna não é algo acerca do qual somente trataremos em um futuro remoto, mas uma realidade presente na vida de todos os que creem em Jesus. Por isso, os que acreditam em Jesus e que, por óbvio, creem já gozar da vida eterna, precisam viver no hoje e no aqui, os valores e a vida que se espera que vivamos nos além e no aquém. Como vemos, existem consequências para a esfera da ética que advém diretamente da esfera escatológica.
Uma segunda verdade que aprendemos sobre a Vida Eterna, é que ela está, por óbvio, intrinsecamente relacionada ao que ocorreu na Páscoa de Jesus. Tanto é assim que, para Bruno Forte (1994, p. 99), o Novo Testamento concebe esta vida como sendo inaugurada pelo evento pascal, que foi justamente a morte de Cristo. Assim, ter a vida eterna é estar com Cristo em sua morte. Por isso, ele escreverá em seguida: “A relação com o Crucificado Ressurgido vem caracterizar a existência pessoal e comunitária, na vida como na morte. E, como em Cristo é a Trindade que se revela e se deixa atingir, é na Trindade que se situa o horizonte último de compreensão não só da morte, mas também da vida além da morte, manifestada e fundamentada no poder daquele que ressurgiu dos mortos” (FORTE, 1994, p. 100). Porque entendemos ser incompreensível entender nossa existência pessoal separada de nosso corpo, preferimos não associar esta vida eterna a algo que acontece apenas com uma parte de nós que alguns chamam de “alma”. Por isso, nos associamos a Forte e preferimos “falar da sobrevivência pessoal da criatura humana, admitida, já após a morte, a participar do entrelaçamento misterioso e vivificante das relações das Pessoas divinas” (FORTE, 1994, p. 100). Assim, faz sentido entender as palavras de Paulo quando afirma que, quando todas as coisas estiverem sujeitas à Cristo, então o próprio Cristo se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, e assim Deus será tudo em todos (I Coríntios 15:28).
Por fim, em terceiro lugar, aprendemos sobre a vida eterna, que ela é uma graça concedida apenas aos que creem. Não há razão para citarmos dezenas de textos bíblicos aqui. Basta reler as palavras de Jesus registradas por João, nas quais ele diz: “Aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6:47). Neste mesmo sentido, João torna a ensinar: “Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida” (I João 5:12). Assim, não existe vida para quem escolhe a morte e vive a promovê-la e sob seu signo. Assim, nossa estada com Cristo, vivendo-o na totalidade de nossa vida, selará o nosso estar com Cristo após a morte. Por isso Forte escreve que “o juízo é o emergir da verdade de existência total, é o vir à luz da opção fundamental, com a qual a pessoa se põe na comunhão ou na recusa em relação ao mistério do Filho” (FORTE, 1994, p. 101). Assim, que nossa existência plena possa ser vivida na verdade do Cristo vivo, para que, quando o virmos, logo após nossa partida, ouçamos suas palavras acolhedoras: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34).
Referências bibliográficas:
BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000
FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994
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