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COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 2: “em Deus Pai Todo-Poderoso”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

Chegamos ao complemento da primeira afirmação do Credo Apostólico: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso”. Sobre a complementação dessa afirmação existem alguns elementos que precisam ser destacados. Em primeiro lugar, destacamos que o Credo Apostólico se inicia dizendo que se crê em “Deus”. Assim, quando usamos a palavra “Deus”, estamos cientes de que estamos fazendo uma afirmação que precisa ser encaradas com cuidado e reverência. Digo isso porque acredito que ninguém é capaz de falar adequadamente sobre Deus. Afinal quem é Deus? Deus existe? Para responder a esta pergunta me sirvo das palavras de Emil Brunner quando diz: “Não, Deus não ‘existe’. Existe o elemento rádio, existe a cordilheira do Himalaia, existe o planeta Urano, existe o elemento rádio(...). Mas, Deus não ‘existe’, ou, em outras palavras: Deus não existe para os curiosos. Deus não é um objeto da ciência, não é algo que possamos incorporar ao nosso patrimônio de sabedoria, como o filaterista adquire e inclui em sua coleção uma estampilha rara” (BRUNNER, 1970, p.9). O que Brunner está dizendo é que Deus não pode ser colocado ao lado de outros “objetos” de conhecimento que podem ter existência “comprovada” pela ciência. Deus, além de não ser “objeto” de conhecimento é, por sua natureza um ser acerca do qual, sequer podemos falar de forma final ou última. Assim, nosso discurso ou fala sobre Deus (teo-logia) será sempre penúltima.

Em segundo lugar, o Credo Apostólico se refere a esse Deus como “Pai”. Antes de iniciar nossa exposição, creio ser necessário fazer algumas considerações acerca de nossa linguagem. Se pudéssemos buscar caracterizar nossa linguagem, diríamos que ela é traz consigo três marcas bem claras, a vagueza, a ambiguidade e a porosidade. A vagueza, que ocorre quando a palavra não esgota ou não preenche todo o sentido. A palavra “justiça”, é um exemplo de palavra vaga. A ambiguidade se dá quando uma mesma palavra comporta sentidos diferentes. A palavra “pena”, sabemos, tanto pode indicar um sentimento, um elemento da plumagem das aves, quanto uma forma de punição a um infrator. O último problema é a porosidade. Ele ocorre quando o vocábulo se permite influenciar, absorve outras leituras, visões e sentidos diversos. Além desses problemas ligados às palavras, quando lemos a Bíblia, os Credos ou outros textos teológicos, nos deparamos com um recurso fundamental para falarmos de Deus, o antropormofismo. Esta palavra é usada como a prática de utilizar características ou aspectos (morfê) humanos (antropos) para poder falar de Deus. Desta forma, quando o Credo se refere à Deus como “Pai” ele certamente está usando uma linguagem humana para falar de uma realidade acerca da qual não se pode falar adequadamente. É importante destacar que ao usar o termo “Pai”, o Credo certamente está se servindo tanto do pressuposto bíblico quanto do contexto social romano - no qual existia o “Pater famílias” (Pai de família) – para se referir ao líder de uma comunidade familiar ou territorial. Assim, o mais normal para alguém que estivesse no Império Romano no 3º século de nossa era, era ler este texto e imaginar que Deus seria o líder de nossa grande família de crentes. No entanto, como a interpretação é mais do que apenas a “reprodução”, mas também uma “produção” não seria inadequado ver nesse texto um aspecto de amabilidade da parte de Deus. Assim, veríamos Deus como aquele que gera, mas que também cuida, educa e sustenta nossa vida. E, considerando que nenhuma palavra diria tudo acerca de Deus, certamente também poderíamos destacar seu aspecto maternal. Afinal, diz a Bíblia em Isaías 49:15 “Pode uma mulher esquecer-se de seu filho de peito, de maneira que não se compadeça do filho de seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti”. Assim, nosso Deus Pai/Mãe, está sempre pronto a cuidar de nós.

Por fim, em terceiro lugar, o Credo Apostólico descreve esse Deus como sendo “Todo-Poderoso”. Esta expressão nos faz lembrar da expressão hebraica “Adonai Sabaoth”, ou do termo grego “Pantokrator”, que significa onipotente. Nosso Pai é o eterno amante e somente a ele cabe a iniciativa do amor. Este “Pai” é também “onipotente”. Assim, diz Forte (1994, p. 25, 26), que Ele é “o onipotente no amor, que jamais falha em sua fidelidade”. Neste amor onipotente, nosso Pai é aquele sobre o qual S. Afonso de Ligório diz em O divino Amor: “Não estavas ainda no mundo, nem mesmo o mundo era e eu já te amava. Amo-te desde que sou Deus”. Este infinito manancial de amor que se dá gratuitamente, já está presente na criação. Por isso se afirma que é o amor que cria (ipso amore creatur) e que se mantém ao lado das ovelhas desgarradas, das pecadoras, das caídas e das perdidas. Desta forma Deus é, sim, um Deus conosco, em cada circunstância e em todas as situações, mesmo na dor. Assim, esse é um Deus que, diante de nosso sofrimento, ele “sofre e o padece como frustração da obra de seu amor em nós” (QUEIRUGA, 1998, p. 21). Desta forma, sua onipotência se manifesta mais claramente na forma de seu poderoso amor por cada um de nós em todas as nossas limitações e sofrimento.


Referências bibliográficas:

BRUNNER, Emil. São Leopoldo: SINODAL, 1970

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

QUEIRUGA, Andrés Torres. Um deus para hoje. São Paulo: Paulus, 1998

 
 
 

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