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COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 19: “na ressurreição da carne”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Reverendo Pe. Jorge Aquino.

Já tivemos a oportunidade, aqui, de tratar acerca da ressurreição de Cristo. Agora, contudo, ampliamos nossa visão e vislumbramos a ressurreição que envolve a todos nós. Assim, quando afirmamos crer na ressurreição da carne - ou “carnis resurrectionem”- devemos ter em mente que, na Bíblia a ideia de “carne”, nos fala, simplesmente, “do homem, do homem sob o signo do pecado, o homem vencido. E a este homem se promete: tu ressuscitarás. Ressurreição não quer dizer continuação desta vida, mas consumação da vida” (BARTH, 2000, p. 178). Portanto, muito embora em muitos países, denominações tenham trocado a palavra carne por corpo, a ênfase, na verdade, é a mesma, ou seja, aponta para o momento em que nossa realidade humana será absolutamente e totalmente redimida.

Desta forma, estamos afirmamos existir, em primeiro lugar, uma relação entre as duas ressurreições, ou seja, a de Cristo e a nossa. Na verdade, somente podemos conceber a ressurreição da carne à luz da ressurreição de Jesus. Foi Paulo quem escreveu: “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a nossa fé” (I Coríntios 15:14). O mesmo apóstolo deixa essa relação muito clara em outro texto, quando escreve: “se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé, ainda estais em vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que adormeceram em Cristo estão perdidos. Se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram” (I Coríntios 15:16-20). A conexão entre o que ocorreu com Jesus e o que cremos que ocorrerá com os cristãos, está absolutamente estabelecida. Nesse sentido, Forte afirmou de forma muito feliz: “A ressurreição de Cristo é o fundamento da esperança da ressurreição final e a garantia indubitável de que o destino do mundo não é a morte, mas a vitória sobre a morte” (FORTE, 1994, p. 93). Eis a grande verdade que aprendemos com a ressurreição e com a Páscoa: a vocação da humanidade e do próprio mundo, é a vida, não a morte. Portanto, é no passado e no túmulo vazio, que encontramos fundamento para nossa esperança para o futuro.

No entanto, em segundo lugar, a ressurreição da carne nos mostra que existem implicações também para no nosso presente. Escrevendo aos Filipenses, Paulo pontuou: “Tudo eu considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor... para conhecê-lo, conhecer o poder de sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, com a esperança de alcançar a ressurreição de entre os mortos” (Filipenses 3:8,10). Portanto, das palavras de Paulo, entendemos que nossa fé na ressurreição de Jesus e suas implicações futuras para com o homem e o mundo, estabelecem um “estilo de esperança vigilante, próprio da existência redimida, e confessando a beleza de estar com Cristo, que se inaugura no tempo presente e continua, de forma diversa mas não menos real, mesmo depois do fim da existência terrena, na alegria da comunhão ou no drama da já irrevogável recusa” (FORTE, 1994, p. 94). Nossa vida presente, portanto, é considerada como uma perda para se obter algo infinitamente superior, qual seja, o conhecimento de sua ressurreição e, ainda que isso também implique na participação de seus sofrimentos e na conformação com Ele em sua morte, existe também a viva esperança de alcançar a sua ressurreição. E esta esperança, longe de ser uma evasão consoladora, “a esperança, que não decepciona, empenha coração e vida em uma ética e uma espiritualidade de plena responsabilidade para com Deus, para com os outros e para com o mundo. (...) não é sonho que foge ao presente, mas horizonte que estimula o esforço e dá a cada ser o sabor da dignidade, a um só tempo grande e dramática” (FORTE, 1994, p. 97).

Finalmente, em terceiro lugar, a ressurreição da carne aponta para a realização do sonho que se havia predito por Jesus, qual seja, o Reino de Deus. Se este sonho – o da realização do Reino – não possuísse qualquer sinal antecipador, ele continuaria sendo apenas um sonho, e seria muito difícil distingui-lo de uma mera projeção do desejo humano. Como escreve Boff, “O puro sonho, desgarrado da história, equivale à alienação e à fuga da brutalidade dos fatos. Significaria simplesmente a confirmação do absurdo da condição humana e do destino do universo” (BOFF, 2011, p. 140). A pregação desse sonho confronta o pensamento grego da época vez que, para eles, a volta ao corpo não implicaria em qualquer benefício à alma, muito ao revés, implicaria em um castigo, já que o corpo (soma) era visto como a prisão (sema) da alma. Essa realização, contudo é apresentada com outros contornos. Por isso, escreve Boff, “os cristãos começaram a usar a expressão ‘ressurreição’ com um sentido novo, não simplesmente como a reanimação de um cadáver, como o de Lázaro, mas como um novo tipo de corpo – ‘corpo espiritual’ (I Co 15:44). Um corpo real, mas que assume as dimensões do espírito, por isso transfigurado, livre do aprisionamento do espaço e do tempo, um corpo cósmico” (BOFF, 2011, p. 141).

Portanto, com a mesma fé com que afirma a ressurreição de Jesus, após três dias, a Igreja afirma a ressurreição da carne para todos aqueles que receberem e acreditarem na promessa da vitória da vida sobre a morte. Não é mais a morte que tem a ultima palavra, mas a vida. Se Cristo vive, viveremos com ele no realização de seu Reino.


Referências bibliográficas:

BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000

BOFF, Leonardo. Cristianismo: O mínimo do mínimo. Petrópolis/RJ: Vozes, 2011

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

 
 
 

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