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COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 18: “na remissão dos pecados”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Atualizado: 8 de nov. de 2022



Reverendo Pe. Jorge Aquino.

Estamos caminhando para o final de nossas reflexões sobre o “Credo dos Apóstolos”. Hoje, nós refletiremos sobre o tema: “remissão dos pecados” ou, no texto latino remissionem peccatorum. A palavra portuguesa “remissão”, vem do latim remissionis” e que, ao que tudo indica, significa e aponta para a “ação de pôr a caminho de novo”. Assim a remissão implicaria em um recomeço.

O Novo Testamento usa a expressão grega “αφεσιν αμαρτιων” (Atos 26:18) para falar da remissão dos pecados e da herança que recebemos pela fé em Jesus. Portanto, o substantivo “αφεσιν” indica a liberdade do pecador, o desligamento de um serviço ou a libertação do cativeiro. Falar sobre esse tema é tocar no tema central da fé cristã, pois o cristianismo não é outra coisa senão a religião na qual os pecadores são redimidos pelo próprio Deus. Ademais, “O perdão dos pecados, a ressurreição, a vida eterna, não são algo que ocorrem à margem de Cristo, mas a ação de Deus nele. Ele, o único, brilha, e o cristianismo caminha em sua luz” (BARTH, 2000, p. 172). Assim, Cristo e cristianismo estão essencialmente ligados, e o perdão dos pecados é esse elo que une o salvador aos que foram atingidos por sua graça. Mas o que queremos dizer por “remissão de pecados”? em primeiro lugar, esta afirmação nos leva a concluir que todos nós somos pecadores. Neste sentido, afirma as Escrituras, “todos pecaram e carecem da graça de Deus” (Romanos 3:23). Em outras palavras, todos os homens são carentes da graça salvadora, em função de sua realidade pecadora. Assim, vez que somos pecadores, acreditamos que Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz, nos remiu de nossos pecados cometidos por cada um de nós, de tal sorte que se impõe como verdadeira a sentença do apóstolo Paulo: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5:20). Não resta dúvida, portanto, de que todos nós somos pecadores e de Jesus é nosso salvador. E é isso nos leva a dizer, com João, que: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (I João 1:8-10). Assim, somente na boca de um mentiroso existe a declaração de que nunca cometeu pecado. No entanto, o mais importante que precisamos compreender é que, por mais grave que seja nosso pecado, ele pode ser perdoado pelo Senhor.

Em segundo lugar, esta afirmação nos leva a pensar que o pecado é simultaneamente um ato e um processo. Nesse sentido, quando falamos em “perdão dos pecados”, tanto olhamos para trás, ou seja, para o caminho pelo qual passamos até chegar onde estamos, como também olhamos para nosso atual estado. Nesse sentido, nosso perdão nos leva para o momento em que a Palavra de Cristo no atingiu, em nosso passado, nos fazendo afirmar com toda convicção que Deus já nos perdoou e nos livrou de todas as consequências do pecado. No entanto, o perdão também ocorre no dia-a-dia de todos os cristãos. Ou seja, a remissão nos atinge diuturnamente, sempre e sempre que caímos, e somos mais uma vez, atingidos pelo amor de Deus que nos levanta. Por isso as Escrituras afirmam que “pois ainda que o justo caia sete vezes, tornará a erguer-se, mas os ímpios são arrastados pela calamidade” (Provérbios 24:16). E é nesse sentido que, escreve Karl Barth, “Quando o cristão volta sua vista para trás, vê o perdão dos pecados; isso não acontece mais ou menos no instante de sua conversão, mas sempre” (BARTH, 2000, p. 173). Sim, ele ocorre sempre porque o mesmo Deus que nos perdoou no passado, esta aberto a nos perdoar a todo instante, na de uma forma infinita, como infinita é sua graça. Nesse sentido, diz o apóstolo Paulo: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5:20).

Por fim, em terceiro lugar, a única saída para nossa realidade de pecado é a remissão. Assim, considerando que “remissão” significa perdão, “remissão dos pecados” significa que Deus nos dá, gratuitamente, o perdão de nossa dívida. Escrevendo sobre isso, Calvino nos diz que “Os apóstolos afirmam também claramente que Jesus Cristo pagou o preço do resgate, para que ficássemos livres da obrigação da morte” (CALVINO, 1981, II, xvii. 5). Nesse sentido, diz Paulo: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Romanos 3:24,25). Nesse sentido, continua o reformador de Genebra: “o Apóstolo engrandece a graça de Deus, porque Ele deu o preço de nossa redenção na morte de Jesus Cristo” (CALVINO, 1981, II, xvii. 5).

Mas algo que precisamos sempre nos lembrar é que, é fundamental compreender que a remissão dos pecados não é o mesmo que esquecimento. Segundo afirma Forte, a “memória” de Deus “não é senão outro nome de seu amor e de sua fidelidade”. (...) “Sua ‘memória’ de ternura e perdão envolve toda a nossa existência, é como o colo em que nosso coração pode descansar em paz” (FORTE, 1994, p. 86). Por isso, em sua memória Deus abraça até nossos pecados e imperfeições. Ao nos perdoar ele não anula nosso passado, mas nos acolhe em seu amor. Por isso, precisamos entender que “Não esquecer, então, não se opõe a perdoar. Quem perdoa de verdade não esquece, mas assume de modo novo o passado, na memória do amor” (FORTE, 1994, p. 87). Por isso, pelo fato de ser todo amor, Deus nos acolhe a todos nós, com todas as nossas imperfeições. Quando existe o verdadeiro arrependimento, ou seja, quando dizemos como o filho pródigo: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados” (Lucas 15:18,19) -, então temos a alegria de sermos acolhidos pelos braços paternos de Deus e passamos a festejar.


Referências bibliográficas:

BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000

CALVINO, Juan. Institución de la religión Cristiana. Países Bajos: FELiRe, 1981

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

 
 
 

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