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COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 15: “Creio no Espírito Santo”.

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Reverendo Jorge Aquino.

Eis que, agora, chegamos a terceira parte do Credo Apostólico. Com uma construção claramente trinitária, o Símbolo dos Apóstolos, repete, mais uma vez a expressão “creio”, agora se referindo a nossa fé no Espírito Santo e sua obra. No texto latino lemos: “Credo in Spiritum Sanctum”. Dito isso, apresento, em primeiro lugar, o aspecto bíblico da questão. Desta forma, a vinda do Espírito Santo era o cumprimento da promessa de Jesus, antes de sua ascensão. Segundo registra João, Jesus afirmou: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16:7). Assim, é a ida de Jesus que garante a vinda do Espírito, para que não fiquemos sós. Mas, haviam, pelo menos duas razões para vinda do Espírito. Em primeiro lugar, Jesus havia afirmado que “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (João 15:26). Assim, o Espírito viria para dar testemunho de Jesus, mas não somente isso. Em segundo lugar Jesus afirmou que “o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14:26). Assim, a segunda razão da vinda do Espírito Santo seria ensinar, e também lembrar a Igreja de tudo o que Jesus havia ensinado.

Em segundo lugar, saindo da perspectiva bíblica e entrando no ambiente teológico, verificamos – grosso modo - que, no Oriente, o Espírito Santo é visto como “o êxtase de Deus” e no Ocidente, ele é visto como o vínculo do amor eterno que une o Pai e o Filho. Assim, segundo S. Agostinho, “E aí, na verdade, estão as três realidades: aquele que ama, o que é amado e o Amor” (AGOSTINHO, 1995, VIII.10.14). é por isso que, segundo Kasper, o Espírito é “Deus como pura superabundância, Deus como emanação de amor e graça” (KASPER In FORTE, 1994, p. 65).

Em terceiro lugar, existe um aspecto pragmático na ação do Espírito entre nós. Nesse sentido, todo esse amor que se revela no Espírito, é, voltado para produzir uma ação que gere a re-união do que se havia separado. Por isso, para o conhecido teólogo Bruno Forte, “No Espírito, Deus ‘sai’ de si para criar o outro e vivificá-lo com a força de seu amor. No Espírito, Deus reúne em si tudo o que está longe dele. O Espírito abre o coração do Deus trinitário ao mundo dos homens, até tornar possível o ingresso do Filho no exílio dos pecadores, e unifica o que está dividido, até à suprema realização da reconciliação pascal. O Espírito é dom que liberta e amor que une” (FORTE, 1994, p. 65). Em outras palavras, o que Forte entende ser a missão primordial do Espírito é a produção da unidade ou a reunião do que se havia separado. Na verdade, agir dessa forma seria exatamente o mesmo que fazer presente, oque Cristo realizou na cruz. Por isso Forte escreveu que “O Consolador atualiza a obra de Cristo, tornando-a presente e operante, tornando-a presente e operante, na variedade da história humana” (FORTE, 1994, p. 64).

Um quarto elemento ou aspecto fundamental da obra do Espírito Santo nos é apresentado pelo ilustre teólogo suíço Emil Brunner, segundo quem todos nós podemos verificar a importância da obra do Espírito em renovar a criação. Eis suas palavras: “O Espírito de Deus é o renovador. De resto costumamos afirmar: Eu sou assim mesmo. Nós sabemos muito bem como uma pessoa que herdou do pai ou da mãe este ou aquele caráter, é assim mesmo. Dizemos: Assim como não podes transformar uma maçã em pêra, não poderás, também, mudar o caráter de uma pessoa. Mas aquele que criou as maçãs e as peras pode fazê-lo. E ele também o faz. a Bíblia, por sua vez, está cheia do testemunho da renovação. ‘Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas’ (II Co 5:17). Este é o milagre do Espírito Santo” (BRUNNER, 1970, p. 74, 75). Assim, toda a novidade é fruto do Espírito Santo que, não apenas estava presente na criação, mas também – agora – está pairando sobre todos nós e renovando não apenas a natureza física, mas também a intimidade de cada um de nós.

Por fim, em quinto lugar, urge ressaltar que, um dos mais relevantes aspectos do Espírito Santo, estaria associado ao que Leonardo Boff descreve como a dimensão feminina de Deus. Eis suas palavras: “O Espírito despertou as dimensões femininas de Deus na criação: o amor, o cuidado, a solidariedade, a sensibilidade por tudo o que vive, a capacidade de captar as mensagens que nos vêm de todos os lados do universo, da natureza, da terra e de cada pessoa humana, o sentido de colaboração e de sofrer pelos outros, a força de gerar e de cuidar do mínimo sinal de vida, o sentido da beleza e da estética, o encantamento, a exaltação, a alegria pura e inocente e sua capacidade de captar o invisível e de sentir Deus a partir do corpo” (BOFF, 2011, p. 61). Deste texto, verificamos que a ação do Espírito sobre nós interfere diretamente em nossa sensibilidade, não apenas estética mas – e sobretudo – existencial. Nesse aspecto, Boff e Agostinho associam o Espírito ao amor.


Referências bibliográficas:

AGOSTINHO, A trindade. São Paulo: Paulus, 1995

BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000

BOFF, Leonardo. Cristianismo: o mínimo do mínimo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011

BRUNNER, Emil. São Leopoldo: SINODAL, 1970

FORTE, Bruno. Introdução à fé. São Paulo: Paulus, 1994

 
 
 

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