
Reverendo Pe. Jorge Aquino.
Com esta afirmação nós vemos o final da segunda parte do Credo, qual seja, àquela dedicada à segunda pessoa da Santíssima Trindade. Portanto, a declaração que passaremos a comentar agora é de suma importância para todos os cristãos, principalmente nos dias de hoje. O texto que será objeto de nossa reflexão diz: “donde há de vir julgar os vivos e os mortos”. Ao verificar o que diz a versão original latina lemos: “inde venturus est iudicare vivos et mortos”. Desta importantíssima afirmação, verificamos que a primeira grande verdade que o Símbolo Apostólico esta a nos trazer é a de que o mesmo Jesus que foi elevado ao céu, “há de vir”. Esta expressão é muito relevante porque quando o Credo Apostólico afirma que ele “venturus est”, ou seja, “há de vir”, toda a força da ação está sendo colocada sobre o ressuscitado. É ele quem virá, quem toma a iniciativa de intervir em nossa realidade e vir ao nosso encontro. E mais do que isso. Ao afirmar “de onde há de vir...”, o Credo está a nos dizer, “antes de mais nada, que [Ele] sairá do ocultamento em que agora está para nós, onde é proclamado e crido pela Igreja, onde está presente para nós apenas em sua palavra” (BARTH, 2000, p. 156). O grande paradoxo dessa expressão é que, aquele que virá, nunca nos abandonou, nunca nos deixou sós. Ele sempre esteve presente conosco por meio de sua palavra e do Espírito Santo. No entanto, assim como ele veio uma vez em sua humildade, virá agora em glória. Eis a razão pela qual o Novo Testamento usa figuras fortes para descrever essa vinda, como quando diz que ele virá “com pode e grande glória” (Mateus 24:30), ou quando afirma que “assim como um relâmpago sai do oriente e se mostra no ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem” (Mateus 24:27). É assim que sua vinda é descrita pelas narrativas do Novo Testamento: ele rasgará os céus e nós o veremos assentado no trono, à direita de Deus.
A segunda informação que retiramos do Credo, é que a vinda do ressuscitado terá como objetivo “julgar”. Na verdade, precisamos concordar com Brunner quando escreve que “Há muito tempo a mensagem do juízo não se faz ouvir na Igreja com a devida clareza. Talvez, em tempos passados, se tenha falado demais desse artigo, impensadamente, na intensão de, pelo medo, trotear os homens ao céu” (BRUNNER, 1970, p. 118). O que precisamos compreender é que o medo não é a chave adequada para abrir a porta do céu. É o verdadeiro amor a Deus que nos faz abandonar o mal e nos voltar para o caminho do Senhor. No entanto, apesar disso, precisamos nos lembrar sempre que, diariamente precisamos apresentar a Deus os frutos do verdadeiro arrependimento pois, ao fim, virá o juízo, no qual o pastor separará suas verdadeiras ovelhas do cabritos. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino... Então o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:34, 41). Não se engane, pois. O juízo virá contra todos os que praticam a maldade e a injustiça. No entanto, nossa atenção não deve estar voltada – como ocorreu entre os pintores das cenas do juízo final, durante a Idade Média -, para os que estarão à esquerda. Barth nos lembra que dentre as Confissões da Reforma, o Catecismo de Heidelberg tem a seguinte pergunta: “Que consolo te dá a volta de Cristo para julgar os vivos e os mortos?”. E a resposta é clara: “Que, em toda miséria e perseguição, espero, de cabeça erguida, o Juiz que vem do céu, a saber: o Cristo que antes se apresentou em meu lugar ao tribunal de Deus e tirou de mim toda a maldição”. Diante disso, Barth afirma: “A volta de Jesus Cristo para julgar os vivos e os mortos é uma mensagem de alegria” (BARTH, 2000, p. 157). De cabeça erguida, o cristão olha para frente, para seu futuro, e o que vislumbra é a realização plena do Reino e nosso encontro, para sempre, com nosso salvador Jesus Cristo.
Por fim, a terceira informação que retiramos do Credo nos diz que ele virá para julgar “os vivos e os mortos”. A volta de Cristo para julgar, conforme descrita no Credo, é sua manifestação definitiva e universal que atingirá a todos nós. Ele se manifestará não apenas para sua comunidade, mas a todos, sejam vivos ou mortos. Note que estas duas qualificações não se referem apenas a uma distinção física, mas, sobretudo, a uma distinção relacional com Deus. Assim como a “morte física” é a “separação” entre o corpo e a alma, da mesma forma, a “morte espiritual” é a “separação” entre Deus e o indivíduo. Desta forma, quem está em Cristo está vivo e, ainda que morra, viverá. Da mesma forma que lemos em João que “o que não acredita já está julgado” (João 3:18). Lembramos das palavras de Barth quando ele nos lembra que “o juiz não é, antes de tudo, o que premia uns e castigam outros, mas quem cria ordem e restaura o destruído. Podemos sair ao encontro desse juiz, desta restauração, ou melhor, da restauração, com absoluta confiança, porque ele é o juiz” (BARTH, 2000, p. 158).
Depois dessa breve exposição, registramos que o próprio Jesus manifestou seu desejo de vir em breve, quando disse: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22:20). Neste texto está presente uma expressão aramaica que diz “Marana tha” que significa “Vem, Senhor!”. Esta é a expressão mais forte do que deseja a alma de qualquer cristão que aguarda a manifestação final do Senhor.
Referências bibliográficas:
BARTH, Karl. Esbozo de dogmática. Santander: Sal Terrae, 2000
BRUNNER, Emil. São Leopoldo: SINODAL, 1970
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