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COMENTÁRIO SOBRE O “CREDO” – 13: “Está assentado à direita de Deus Pai onipotente”

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Reverendo Pe. Jorge Aquino.

Como consequência da ressurreição e da ascensão de Jesus aos céus, agora o Símbolo dos Apóstolos nos fazem três afirmações importantíssimas para todos aqueles que confessam a fé cristã: Jesus “está sentado à direita de Deus pai onipotente”. No texto latino lemos: “sedet ad dexteram Dei Patris omnipotentis”, muito embora a versão mais simples deixe de usar o terno “onipotente” e prefira dizer “Todo-poderoso”. Seja como for, conforme afirmamos acima, para os que confessam a fé cristã, existem três verdades claras acerca de Jesus Cristo nesse texto. Em primeiro lugar, aqui se diz que Jesus “está assentado”. Na Carta aos Hebreus lemos que Jesus “depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3). Da mesma forma, afirma Pedro: “o qual depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, autoridades e poderes” (I Pedro 3:22). Assim, quando o Credo fala desse assentar-se, está se referindo, na verdade do seu senhorio ou seja, de sua realeza. Ao assentar-se no trono, Jesus é visto como Rei do Universo, iniciando, assim, o estabelecimento do Reino de Deus. Desta forma, embora o Reino ainda não tenha se manifestado plenamente entre nós, ele já é real porque Jesus já está assentado no trono.

Em segundo lugar, o texto do Credo Apostólico nos diz que Jesus está sentado à “direita de Deus Pai”. Assim, da leitura do Credo compreendemos que estar assentado à direita, significa e implica claramente em assumir um papel de proeminência no governo do Universo, e esse papel cabe, agora a Jesus. No texto A confissão da fé apostólica, publicada pelo Conselho Mundial de Igrejas, no nº 181 (1993, p. 88) diz: “Quando afirmamos que Jesus é Senhor, ‘sentado à mão direita do Pai’, afirmamos a fé que, apesar do pecado humano e de todas as suas dolorosas consequências, Deus é e será vitorioso sobre todas as forças do mal e da própria morte. Desde agora todos os poderes e governadores desse mundo estão sujeitos à sua soberania”. Mas o texto Credo ressalta que Jesus está assentado à direita do “Pai”. Ora, quando lemos os Evangelhos, percebemos que em sua boca, a palavra “Pai” tem um papel especial. Bruno Forte escreve que “Jesus o chamou de ‘abbá’, palavra carinhosa com a qual as crianças gostavam de se dirigir ao pai e que também os adultos usavam para exprimir intimidade filial” (FORTE, 2003, p. 80).

Finalmente, em terceiro lugar, o Credo Apostólico nos diz que Jesus está sentado à direita de Deus Pai “onipotente”. A noção de um Deus onipotente é extremamente significativa, mas não podemos nos envolver em falácias maldosas que pululam entre nós. Assim, a palavra onipotente ou onipotência é um termo que nos chega das palavras latinas omni, “todo” e potens, “poderoso. Ser onipotente, portanto, significa o mesmo que dizer “todo-poderoso”. Em toda as Escrituras encontramos essa ideia associada à Deus. É nesse sentido que no Antigo Testamento encontramos uma pergunta de retórica: “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gênesis 18:14; Jeremias 32:27). No Novo Testamento é utilizado o termo grego pantokrator, para se referir a quem tem todo (panta) poder (kracia). Assim, Paulo chama Deus de Todo-poderoso em II Coríntios 6:18 e Lucas põe na boca do anjo Gabriel a frase: “Para Deus não há impossível” (Lucas 1:37). No entanto, quando falamos em onipotência não estamos simplesmente dizendo que Deus pode fazer tudo. É nesse sentido que algumas pessoas procuram colocar essa crença na forma de um absurdo dizendo: “Se Deus é onipotente, isso significa que ele pode criar uma pedra tão pesada que nem mesmo ele possa levantar?”. Por óbvio, quando falamos sobre Deus, precisamos reconhecer que nossa linguagem é limitada e limitante. Por isso, creio ser importante citar o que Alister McGrath afirmou quando escreveu: “O ponto que está sendo discutido aqui também foi defendido com veemência por Anselmo de Cantuária na obra Proslogion, em sua reflexão sobre a natureza de Deus. Anselmo defendia a tese de que a onipotência – entendida como a capacidade de realizar todas as coisas – não era algo necessariamente bom. Se Deus é onipotente, logo ele poderia fazer coisas como mentir ou corromper a justiça. Entretanto, isso é claramente incongruente com o entendimento cristão acerca da natureza de Deus. O conceito da onipotência divina deve, portanto, ser alterado pelo entendimento cristão acerca da natureza e do caráter divinos” (MCGRATH, 2008, p. 333, 334). Ao dizer que Jesus está à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, o Credo está, na verdade, reafirmando nossa crença de que o Reino de Deus não pode ser impedido e que ele, inevitavelmente, será completamente revelado no tempo certo, por meio da parousia de Jesus. Assim, “ao penetrar no céu ele tomou posse do reino celestial; somente pede que o esperemos pacientemente até que volte novamente ao mundo para julgá-lo; porque ele não entrou no céu para ocupa-lo sozinho, mas para reunir-se com ele cada um de vós e a todos os demais fiéis” (CALVINO, IV, xvii. 27). Desta forma, para Calvino, sua ida ao céu e sua tomada de lugar ao lado de Deus, não aponta para outra coisa senão, para a majestade de seu império.


Referências bibliográficas:

CALVINO, Juan. Institución de la religión Cristiana. Países Bajos: FELiRe, 1981

Conselho Mundial de Igrejas. A confissão da fé apostólica. São Paulo: CONIC/Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1993

FORTE, Bruno. A essência do cristianismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003

MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2008


 
 
 

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