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COMENTÁRIO SOBRE A ORAÇÃO DO SENHOR: Invocação

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Atualizado: 27 de dez. de 2022



Invocação: “Pai nosso que estás nos céus”.

Reverendo Jorge Aquino.

Ao nos depararmos com essa invocação que principia a Oração do Senhor: “Pai nosso que estás nos céus” (no original grego: πατερ ημων ο εν τοις ουρανοις) que é feita por quem inicia sua oração, compreendemos que, segundo o ensino de nosso Senhor, nos deparamos aqui com três informações muito importantes para nossa espiritualidade e para nossa vida cotidiana. Em primeiro lugar, Jesus nos ensina a nos aproximar de Deus, em oração, chamando-o de “Pai”. Ora, como qualquer pessoa que já teve um filho sabe, “pai” é uma das primeiras palavras que uma criança aprende a falar. E que alegria quando um pai ouve seu rebento chama-lo pela primeira vez de pai! Este dia nunca mais sai da memória de um pai. Segundo escreve Boff, “Há uma constatação histórica absolutamente assegurada: Jesus chamou sempre a seu Deus de Abba, que é uma palavra tirada do vocabulário infantil”(BOFF, 2011, p. 106). Ela nos fala de uma expressão de intimidade e, na boca de Jesus, aparece 170 vezes. Seu desejo era nos ensinar que devemos trata-lo como “Paizinho querido”. Dessa forma, percebemos claramente que Jesus nos convida à sua mais plena intimidade e nos fez filhos de Deus. Se estamos em comunhão com Jesus, e já que Jesus está “no seio do Pai” (João 1:18), todos nós podemos dizer que Deus é nosso Abba, nosso Paizinho querido. Esta informação foi claramente recebida pelos apóstolos. Paulo, por exemplo nos diz: “Vós não recebestes um espírito de escravos para recair no medo, mas recebestes um Espírito de filhos adotivos: ‘Abbá, Pai’” (Romanos 8:15). Jesus nos fala aqui de “nossa parentela espiritual de filhos adotivos de Deus; e sem esta filiação espiritual não se pode, realmente, orar ao Pai Celeste” (GIOIA, 1981, p. 125). Um resumo desse ensinamento nos é exposto por Lutero em seu Catecismo menor quando escreveu: “Deus quer atrair-nos carinhosamente com estas palavras, para crermos que ele é o nosso verdadeiro Pai e nós, os seus verdadeiros filhos, a fim de que lhe roguemos sem temor, com toda confiança, como filhos amados ao querido pai” (LUTERO, 1983, p. 372). Assim, com a confiança de uma criança que ama e é amada por seu Pai, aproximemo-nos de nosso Abba a abramos nosso coração. Por isso, podemos afirmar que, muito embora o Senhor conheça todas as nossas necessidades e mesmo nossos pedidos, antes mesmo que esses cheguem à nossa boca (Salmo 139:4), ele espera que demonstremos nossa confiança e nossa dependência por meio de nossa oração.

Em segundo lugar, nosso Pai é apresentado como aquele que, mesmo quando estamos na solitude de nosso quarto, é apresentado como o Pai “nosso”. E porque Deus é nosso Paizinho carinhoso, cada pedido é considerado. Ele não faz distinção entre seus filhos e filhas. Assim, por meio desta oração Jesus nos ensina que, nas palavras de Santo Agostinho, todos dizem o mesmo, seja ele o imperador, o pedinte, o escravo, o senhor. São todos irmãos, pois temos o mesmo Pai. Em razão disso, Jesus nos ensina com essa oração que toda forma de discriminação desaparecem quando estamos diante do mesmo Pai. Se ele é o “Pai nosso”, se somos todos irmãos, não há espaço ou ocasião para julgarmos os outros em razão de suas diferenças de cor, raça, condição financeira ou sexual, ou qualquer outra forma de separar os que foram unidos pelo nosso Paizinho querido. Assim, compreendemos que Deus ama intensamente cada um de seus filhos com o mesmo amor exclusivo e com seu afeto sem fim. Por isso, todos os seus filhos devem tratar uns aos outros com afetividade, com amor, com respeito e atenção. O ilustre pregador John Wesley, assim se expressou sobre essa realidade: “com ele não há discriminação entre pessoas. Ele ama todos os que criou. Ama cada homem e cada mulher e tem misericórdia de todas as suas obras. Seu prazer está naqueles que o temem e confiam em sua misericórdia. Está naqueles que creem nele por meio de Jesus, sabendo que por ele são aceitos. Contudo, se ele nos amou desse modo, devemos assim amar uns aos outros. Devemos amar toda a humanidade” (WESLEY, 2017, p. 149, 150). Encerrando este ponto, lembro das palavras de Teodoro de Mopsuéstia, de Antioquia, que em torno do ano 400, escreveu: “Não quero que digais: ‘Pai meu’, e sim ‘Pai nosso’: porque Pai é comum a todos, e igualmente comum é a graça da qual recebemos essa adoção filial; de modo que não apresenteis somente ao Pai aquilo que é oportuno, mas tenhais também uns com os outros aquela concórdia que deveis conservar uns com os outros, vós que sois irmãos e estais nas mãos de um só pai” (MOPSUÉSTIA, In SECONDIN, GOFFI, 1993, p. 327).

Finalmente, em terceiro lugar, nosso Pai é apresentado como aquele que está nos céus. É claro que quando ouvimos alguém falar de céu, inevitavelmente nos inclinamos a olhar para cima. Contudo, quando se trata de realidades espirituais, é necessário que compreendamos que estamos usando uma linguagem metafórica. Assim, quando falamos que nosso Pai está nos céus, não devemos procura-lo além das nuvens. Como afirma o YOUCAT-Brasil (2011, p. 283), “Quando nos dedicamos a Deus na Sua glória e ao próximo em necessidade, quando fazemos a experiência da alegria do amor, quando nos convertemos e nos reconciliamos com Deus... surge, então, o Céu”. Assim, podemos compreender que, já que nada do que existe pode conter àquele que tudo contém, certamente podemos dizer que Deus não está no céu, mas o céu está nele. Ou, usando as palavras de Sta. Hildegarda de Bingen: “Na terra, o Céu está por toda parte onde as pessoas estão cheias do amor a Deus, ao seu próximo e a si mesmas”. Na verdade o que Mateus está fazendo aqui é preservar “o equilíbrio entre reconhecer a proximidade e a transcendência de Deus. (..) O paradoxo da proximidade e da transcendência nunca é perdido na revelação bíblica. Deus está em Cristo, e nós encontramos Cristo nas outras pessoas” (STAGG In ALLEN, Vol. 8, 1986, p. 151). Por isso, nesta oração o recôndito de nosso quarto pode se elevar até os céus. E isso ocorre porque a oração tem essa possibilidade de fazer o céu descer ou a terra subir. O nosso Paizinho querido espera que todos os seus amados filhos recorram a Ele pois ele está sempre pronto para atender.

 
 
 

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