
Reverendo Padre Jorge Aquino.
Eis o texto indicado para este vigésimo domingo depois do Pentecostes, retirado do Evangelho de Lucas: “9Ele também contou esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos como justos e desprezavam os outros: ‘Dois homens subiram ao templo para orar, um fariseu e o outro publicano. 11O fariseu, em pé sozinho, orava assim: 'Deus, eu te agradeço porque não sou como as outras pessoas: ladrões, vilões, adúlteros, ou mesmo como este publicano. 12Jejuo duas vezes por semana; Dou o dízimo de toda a minha renda. 13Mas o publicano, que estava de longe, nem olhava para o céu, mas batia no peito e dizia: 'Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!' 14Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não o outro; pois todos os que se exaltam serão humilhados, mas todos os que se humilham serão exaltados” (Lucas 18:9-14).
No texto do Evangelho de hoje, Lucas registra uma parábola de Jesus no qual ele nos traz algumas lições bastante significativas sobre nossa relação com Deus. A primeira lição que Jesus nos traz é a de que a dimensão religiosa é buscada por todo tipo de pessoas. Na parábola contada por Jesus, ele se refere aos dois extremos de pessoas presentes em sua sociedade. De um lado, um fariseu; do outro, um publicano. Os fariseus eram os maiores exemplos de pessoas religiosas e corretas. Eles conheciam as escrituras como ninguém, frequentavam regularmente o templo, jejuavam duas vezes por semana, davam o dízimo de toda a sua renda e guardavam todos os mandamentos. Ninguém questionava seu comportamento porque eles, normalmente, iam muito além do que os mandamentos exigiam. Do outro lado, estava o publicano. Este tipo de gente era visto, geralmente, como desonestas e exploradoras, já que trabalhava para os Romanos, justamente, cobrando todos os impostos em desfavor dos judeus. Isso fazia com que os publicanos fossem odiados pelos judeus, já que serviam aos que ocupavam a Palestina e exploravam os judeus. Do que falamos, percebemos que todo tipo de gente, em maior ou menor grau, sente o desejo de “subir ao templo para orar”.
Uma segunda lição que Jesus nos dá neste texto é que, o fariseu saiu do tempo cheio de sua própria empáfia e distante de Deus. Como Jesus deixa claro em sua parábola, o fariseu sobe ao templo para orar. E, no templo, em pé e sozinho, orava dizendo “Deus, eu te agradeço porque não sou como as outras pessoas: ladrões, vilões, adúlteros, ou mesmo como este publicano”. Assim, o fariseu se considerava melhor do que as outras pessoas, porque não roubava, não era um vilão, não adulterava e, sobretudo, não era como o publicano que também estava orando no templo. Ademais, sua empáfia era tanta que ele era capaz de apresentar seus méritos diante de Deus. Por isso ele afirmava que jejuava “duas vezes por semana”, dava “o dízimo de toda” a sua renda, enfim, era um exímio cumpridor da lei de Deus. O grande problema das pessoas que são cheias de empáfia e arrogância é que, quando elas estão diante de Deus, acham que podem apresentar todos os seus méritos e as suas boas obras como uma espécie de “chave” para abrir as portas do Reino de Deus para eles. Mas o que aconteceu com aquele fariseu? Diz o texto sagrado que ele “não” desceu do templo justificado, “pois todos os que se exaltam serão humilhados”. Assim, eu te pergunto, como você tem se apresentado diante de Deus? Como alguém que merece as bênção do Senhor, porque você é uma pessoa boa? Porque você cumpre o que Deus estabeleceu? Não pense que isso o aproximará de Deus. Afinal, “Sabemos que Deus não ouve a pecadores, mas ouve ao homem que o teme e pratica a sua vontade” (João 9:31). A chave de tudo é nosso temor à Deus, não nossas obras ou méritos.
Há, por fim, uma terceira lição. Deus ouve aos que se humilham diante dele. Quando Jesus descreve o comportamento do publicano, a descrição é completamente diferente. Segundo Jesus, o publicano também foi ao templo para orar. No entanto, diferentemente do fariseu, ele não está de pé, mas “estava de longe, nem olhava para o céu, mas batia no peito e dizia: 'Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’”. Ele sabia de seus pecados, como o publicano Zaqueu que se encontrou com Jesus e o recebeu em sua casa. Por isso estava “de longe”. O texto diz que ele sequer elevava os olhos para os céus, em razão da consciência de seus defeitos. E mais, sua consciência de pecado era tão premente que ele “batia no peito e dizia: 'Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’”. Esse comportamento é absolutamente dispare daquele apresentado pelo religioso fariseu. Ele bate em seu peito, em sinal de arrependimento e, clama ao Senhor por misericórdia. Em momento algum o publicano apresenta seus méritos diante de Deus; até porque ninguém os tem. Por isso, a conclusão feita por Jesus em relação ao publicano é absolutamente diferente da feita em relação ao fariseu. Sobre o publicano o Senhor disse: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, (...); pois ... todos os que se humilham serão exaltados”.
Meus queridos irmãos, segundo escreve são Paulo “vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8,9). Em outras palavras, a nossa salvação não depende do que fazemos, de nossas obras, ou de nossos gestos extraordinários, a salvação acontece por causa da “graça de Deus”, ou seja, por causa do “favor imerecido” que recebemos, apesar de nossos pecados e de nossa imperfeição. A única coisa que somos convidados a fazer é seguir o Caminho de Jesus. E isso, foi exatamente o que fez o mais famoso publicano do Novo Testamento, são Mateus, ao ouvir de Jesus o convite: “segue-me”. Ao se tornar seguidor de Jesus, ele acabou por se notabilizando ao escrevendo o primeiro Evangelho do Novo Testamento. Desta forma, meu querido leitor, apenas deixe para traz o pecado e siga o caminho do mestre.
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