
Padre Jorge Aquino.
No texto do Evangelho de Lucas, indicado para o dia de hoje, lemos o seguinte: “Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse: Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:25-33).
Você pode dizer que é um discípulo de Jesus? Ser discípulo significa, antes de tudo, ser um aluno. Naquela época, diante da inexistência de uma estrutura educacional formal, era comum ver grandes mestres sendo seguido por seus discípulos. Foi assim com Sócrates que, segundo Platão, tinha discípulos, com Saulo, que era discípulo de Gamaliel, e também com Jesus.
Jesus estava se encaminhando para Jerusalém em direção à morte, e era acompanhando, diz São Lucas, por uma grande multidão. Sabendo da seriedade do que significa segui-lo, Jesus se volta para àquela multidão e começa a ensinar de forma bastante forte dizendo que, nem todas as pessoas podem ser seus discípulos. Na verdade, para sermos verdadeiros discípulos de Jesus, é necessário cumprirmos três requisitos fundamentais e basilares. Em primeiro lugar, os verdadeiros discípulos são aqueles que são capazes de romper com toda a segurança. Quando Jesus começa sua reflexão, ele diz que “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. O que ele queria dizer com essas palavras? Ora, sabemos que na sociedade judaica, os laços familiares eram extremamente importantes. A família dava segurança e identidade. Mas quando alguém passava a seguir a Jesus e ou outros familiares não, a família acabava se tornando um núcleo de inimigos. E nesse momento crucial, era preciso escolher. Ou bem voltaríamos para a segurança da família ou, por amor à Cristo, romperíamos com nosso passado e nossa identidade. Portanto, aprendemos aqui que, ser discípulo implica em escolher a ruptura com o passado, a segurança e uma identidade.
Em segundo lugar, Jesus nos diz que “qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo”. Ser um verdadeiro discípulo não significa simplesmente abrir mão da segurança e da identidade legada por uma família, para Jesus, o verdadeiro discípulo precisava seguir pelos mesmos caminhos que ele, ainda que isso o levasse a tomar a própria cruz. Essa relação entre caminho e cruz é indissociável. Não se pode caminhar pelos mesmos caminhos de Jesus sem abdicar dos valores e ideias de uma sociedade ou de uma cultura. Quando seguimos no caminho de Jesus, aprendemos a acolher pessoas que são vistas como socialmente execradas (prostitutas, pecadores, maltrapilhos, leprosos, etc.), aprendemos a acolher aqueles que passam fome e precisam de pão, e a abraçar aqueles que são vistos como os que vivem à margem da sociedade (publicanos, viúvas e crianças). Em resumo, os discípulos de Cristo reproduzem seu comportamento ainda que isso nos leve até a nossa própria cruz.
Finalmente, em terceiro lugar, aprendemos com Jesus que, para sermos verdadeiros discípulos, é necessário que sejamos capazes de abandonar o que nos dá segurança. Neste texto Jesus fala de pessoas que pretendem construir uma torre e que sabe que é necessário fazer cálculos para que ela seja concluída. Também fala de um rei que, indo para o combate, sabe que é preciso primeiro calcular, para ser vencedor. E arremata dizendo: “todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”. Ou seja, toda a segurança que os cálculos matemáticos ou as estratégias bélicas possam trazer, precisam ser relativizadas pela proposta de Jesus. É preciso que sejamos capazes de abandonar e renunciar tudo o que temos, que nos prende e nos atrasa na caminhada, para que estejamos sempre aos pés de Jesus em seu caminho. Somente assim, sem nada que de supérfluo e desnecessário, nossa caminhada será mais leve junto ao Senhor.
Concluímos dizendo que todos nós que fomos batizados, recebemos o chamado de Cristo para segui-lo em seu caminho. Coloquemos, então, a Cristo como nosso único e verdadeiro guia, nosso mestre e nosso messias. Somente ele possui a condição de absolutidade que a tudo e todos relativiza e que nos faz deixar tudo e todos abaixo de seus pés.
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