
Padre Jorge Aquino.
De conformidade com o lecionário anglicano, o texto do Evangelho indicado para esse domingo é o de São Lucas 14:1, 7-14. Esse texto diz o seguinte: “Certa vez, quando Jesus ia à casa de um líder dos fariseus para comer uma refeição no sábado, eles o observavam atentamente. (...) Ao perceber como os convidados escolhiam os lugares de honra, contou-lhes uma parábola. ’Quando você for convidado por alguém para um banquete de casamento, não se sente no lugar de honra, caso alguém mais distinto do que você tenha sido convidado pelo seu anfitrião; e o anfitrião que convidou vocês dois pode vir e dizer a você: 'Dê a esta pessoa o seu lugar', e então, em desgraça, você começaria a ocupar o lugar mais baixo. Mas, quando fores convidado, vai sentar-te no lugar mais baixo, para que, quando vier o teu anfitrião, te diga: Amigo, sobe mais alto; então você será honrado na presença de todos os que se sentam à mesa com você. Pois todos os que se exaltam serão humilhados, e os que se humilham serão exaltados’. Ele disse também ao que o havia convidado: ‘Quando você der um almoço ou um jantar, não convide seus amigos, seus irmãos, seus parentes ou vizinhos ricos, pois eles podem convidá-lo de volta, e você será reembolsado. Mas quando você der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E você será abençoado, porque eles não podem retribuir a você, pois você será recompensado na ressurreição dos justos’”.
No mundo em que vivemos, semanalmente vemos as festas que são feitas pelas pessoas dos níveis mais altos da sociedade. Geralmente, nestas festas, somente as pessoas mais importantes e socialmente mais relevantes são convidadas. Na verdade, o que percebemos é que essas festas não passam de uma constante afirmação de seus egos inflados e de seu consumismo desenfreado, procurando vencer uma interminável competição de frivolidades.
No texto do Evangelho de hoje, Jesus nos dá algumas lições significativas sobre nosso comportamento em sociedade. A primeira lição que aprendemos com Jesus é o de não procurar assumir os espaços de destaque na sociedade. É mais sábio, ao invés de sentar nas primeiras cadeiras, ficar atrás e deixar que o anfitrião da festa nos convide para assumir um lugar de hora. Os que buscam sempre os primeiros lugares são os autossuficientes que se fiam apenas em sua própria capacidade e virtude. O cristão age de forma diferente. Ele deposita toda a sua confiança em Deus e, por isso, sabe que não é autossuficiente para assumir os primeiros lugares. O que ele tem vem de Deus e, quando chegar a hora, Deus o honrará fazendo com que ele seja reconhecido entre todos.
A segunda grande lição que aprendemos nesse texto é que, quando nós formos os anfitriões ou os promotores de um evento importante, não devemos nos comportar como fazem os membros dessa sociedade corrompida, que somente convida as pessoas importantes e aqueles que ocupam um elevado espaço na sociedade. Segundo Jesus, “quando você der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos” (v. 13). Perceba que Jesus inverte a lógica social. O cristão não deve estar interessado no que a coluna social do jornal do dia seguinte vai dizer sobre o sucesso da festa ou do banquete. E nosso desinteresse se funda no fato de que a verdadeira recompensa não é aquela que vem da mídia ou dessa sociedade hipócrita. Nossa verdadeira recompensa ocorrerá “na ressurreição dos justos” (v. 14).
Dessa parábola e dessas duas lições paralelas, Jesus nos fez entender uma última e terceira lição, o Reino de Deus não é uma meritocracia. Se em nossa sociedade é nosso mérito que conta, se nela somente seremos alguém em razão do que realizamos ou fizemos, no Reino de Deus não é assim. Na meritocracia existe o predomínio dos mais dotados intelectualmente ou dos mais esforçados. O mérito é apenas e tão somente de quem se esforça. No Reino de Deus, não temos mérito algum. Não conquistamos a graça de Deus nem fazemos por merecer nada. A lógica é outra: “De graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8).
Portanto, meu irmão, faça a sua parte, faça o que é certo, o que é justo e correto, e, no tempo certo o Senhor o honrará e recompensará. Os méritos são de Deus, não nossos. A competência e a capacidade é de Deus, não nossa. Nosso papel é apenas o de permitir que o Senhor nos use para sua glória e para o bem das pessoas que nos rodeiam. Assim deve agir um cristão.
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