
Padre Jorge Aquino.
Do texto do evangelho indicado para o dia de hoje, destacamos o ultimo versículo para, dele, retirarmos algumas lições para nossas vidas. O versículo escolhido diz: “Ninguém pode servira dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lucas 16:13).
Diante desse versículo aprendemos, em primeiro lugar, que todos os seres humanos possuem, quer tenham consciência ou não, um valor fundamental que orienta suas vidas. Esse valor fundamental assume contornos de absolutidade o que nos faz relativizar todos os demais valores que lhe são contrários. Assim, esse valor fundamental nos orienta e dirige em todos os nossos gestos, nossas escolhas, nossas palavras, enfim, toda nossa forma de ser e de viver. Não é sem motivo que todos somos descritos nesse texto como alguém que serve (δουλευειν) e, portanto, é escravo desses valores, princípios e padrões que escolheu para servir.
A segunda verdade que aprendemos neste texto é que esse padrões que exigem de nós absoluta submissão são, também absolutamente contraditórios. Por isso não podemos servir aos dois. Eis a razão pelas quais o texto diz que ou bem nos “aborrecemos” de um e “amamos” ao outro, ou bem seremos “devotos” de um e “desprezaremos” o outro. A realidade de oposição desses dois princípios é clara. Eis porque a nomeação desses dois princípios absolutos e opostos são apresentados e nomeados como “Deus” ou “Mamon”. De acordo com Brown “Nos escritos rabínicos, Mamon significa tanto o “dinheiro”, em sentido restrito, quanto as “posses”, em sentido amplo. Essas “posses” são tudo aquilo que tem preço ou tudo aquilo que o ser humano possui além do seu corpo e da sua vida” (BROWN, 2000, v. 2, p. 1716). Assim, não existe uma postura que agrade a esses dois extremos opostos.
Isto nos leva à terceira verdade que esse texto nos revela. Ele exige uma tomada de decisão de nossa parte, diante dessas duas possibilidades. Em outras palavras, todos os homens precisam optar entre os dois grandes padrões que norteiam nossa existência: preferimos servir à Deus ou servir às riquezas? Deus ou Mamon, eis a questão que está diante de nós. E esse confronto coloca frente a frente dois modelos de vida, dois padrões de comportamento, duas realidade absolutas que exige de nós obediência irrestrita: ou bem servimos ao princípio que privilegia a fraternidade e a partilha, ou bem servimos ao princípio que privilegia a opressão e a opressão. Ou bem vivemos na prática do serviço ao próximo ou bem na de sua dominação e submissão; ou bem seremos empáticos ou indiferentes diante da fome, do desemprego e da miséria que atinge milhões de pessoas ao nosso redor. Precisamos ter a coragem de escolher servir ao Senhor correto, ou seja, a Deus.
Concluímos essas breves palavras com a lembrança do que escreveu S. Paulo quando disse: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Timóteo 6:10). Eis porque não devemos colocar nosso coração – a sede de nossa fidelidade - em mais nada ou ninguém além de Deus.
Referência bibliográfica:
BROWN, C. In: COENEN, L.; BROWN, C. (Org.). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento Vol 2, São Paulo: Vida Nova, 2000
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