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COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO DÉCIMO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

O texto do Evangelho escolhido para este Décimo Domingo depois de Pentecostes diz assim: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder. Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize! Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão. Porque, daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três. Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha, filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra. Disse também às multidões: Quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logo dizeis que vem chuva, e assim acontece; e, quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?” (Lucas 12:49-56).

Quem imaginaria algo assim? Jesus trazendo conflitos, guerra e divisões? Ele não é o emissário da paz e da concórdia? Não foi o perdão aquilo que ele mais ensinou? Parece que há algo errado aqui. E, na verdade está. É nossa forma de interpretar esse texto. Aparentemente Jesus está dizendo que ele é o agente e o causador das lutas, dos conflitos e das divisões familiares. No entanto, quando lemos melhor o contexto, descobrimos que não é bem isso que ele quer dizer.

E quando vislumbramos esse texto, descobrimos em primeiro lugar, que Jesus era alguém profundamente consciente do que deveria pregar. Ele não pregou uma religião, não fundou uma nova doutrina nem procurou estabelecer um reino que fosse “desse mundo”. Sua mensagem sempre esteve associada à instauração do que ele chamava de “Reino de Deus”. Para George Ladd, “o reinado eterno de Cristo é sinônimo de seu domínio. Quando Jesus disse que o Seu reino não era desse mundo (Jo 18:36), não Se referia ao estado governado por Ele; queria dizer que o Seu domínio não era derivado da autoridade terrestre, mas de Deus, e que o Seu governo não se manifestaria como um reino humano, mas de acordo com o propósito divino” (LADD, In ELWELL, 1990, Vol III, p. 263). O precisamos ressaltar é que esse reino, muito embora ainda não tenha se manifestado plenamente, ele já está no meio de nós. Ou seja, o reino de Deus já é uma realidade em nosso meio, mas ele exige que nos comprometamos com um projeto que se realizará plenamente, no futuro.

Em segundo lugar, quando lemos o texto dentro de seu contexto – próximo e remoto -, descobrimos que ele é composto e construído ao redor de valores, projetos e concepções que confrontam, contrapõe e afrontam justamente aqueles valores e conceitos que dirigem as existências, orientam os desejos e norteiam as práticas e a vida dos cidadãos desse velho mundo. É por isso que o ódio, a vingança, a destruição, a ruptura, o conflito, são aceitos com naturalidade para que alcancemos a glória, a vitória, o lucro, o poder, o sucesso, o consumo, e atinjamos os padrões sociais, econômicos e estéticos necessários para sermos admirados e bem-vistos. Assim, para que atinjamos os fins estabelecidos pelo mercado e por essa sociedade, qualquer preço a ser pago é legítimo.

Finalmente, em terceiro lugar, e como consequência lógica do confronto e do conflito entre o que prega o Reino de Deus e o que preconiza o mundo no qual vivemos, cria-se uma realidade de conflito. Assim, as crises e divisões familiares descritas por Jesus é o preço que, quem resolveu seguir os padrões associados ao Reino de Deus, acaba pagando. Assim, todos os que defendem valores como justiça, equidade, perdão, misericórdia, paz, respeito ao outro, solidariedade, ou seja, tudo aquilo que marcava a vida de Jesus, acabam sendo atacados e hostilizados pela escolha que fez. Os valores do Reino mexem e desestabilizam as impurezas, os erros, os vícios, as injustiças e as opressões, indiferença e desprezo. Pregar contra isso e anunciar que devemos amar a todos, independentemente de sua cor, condição social e econômica, ou sua realidade sexual, acaba produzindo um discurso de ódio por muitos, inclusive por quem se considera religiosos.

Por causa de tudo isso, cada um de nós precisa fazer uma escolha diária. Ou bem seguimos os valores do reino de Deus, ou bem capitulamos e seguimos a onda dos anti-valores defendidos por essa sociedade maléfica. A escolha é sua. Mas, saiba, ele sempre redundará em rupturas, confrontos e abandono.

 
 
 

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