CELIBATO OU CASTIDADE?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 22 de mai. de 2018
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Padre Jorge Aquino
Muitas pessoas que até mesmo se consideram religiosas e são frequentadoras da Igreja, não sabem exatamente que o voto de celibato é diferente do voto de castidade. Existe uma confusão entre eles e um desconhecimento que precisa ser elucidado. Para diferenciá-los e procurar elucidar as dúvidas existentes, buscaremos tratar do tema de uma forma bastante simples e didática.
Em primeiro lugar, examinemos a questão do voto do celibato. Para iniciar o tema, é preciso que saibamos que o celibato obrigatório é uma exigência feita pela igreja Romana, por meio da qual, tanto os padres e monges, como também as freiras, devem abster-se do casamento. Esta exigência é feita apenas para os membros da Igreja Latina. Ou seja, as igrejas orientais – chamadas de Igrejas Uniatas, que são ligadas à Roma e submissas ao Papa, não são obrigadas à exigir isso de seus clérigos.
É preciso registrar que o celibato eclesiástico obrigatório vem sendo encarado, por setores da opinião pública, como um dos temas mais necessários para serem revistos pelos atuais líderes da igreja Romana. A impressão que se tem é que o celibato obrigatório não apenas é encarado como algo que contraria as Escrituras, mas algo antinatural e que tem sido apontado como a razão para muitos comportamentos impróprios, por parte de setores do clero Romano.
O celibato não é visto pela Igreja de Roma como um dogma, mas como uma disciplina. Isso significa que, se o Papa desejar, ele pode anular essa prática que se tornou obrigatória para o clero desde o século X. Veja bem, sabemos que nos primeiros anos da Igreja os Bispos deveriam casar – segundo a ordem de São Paulo em I Timóteo 3: 2-4. Neste texto encontramos o seguinte: “Esta é uma declaração digna de todo crédito: Se alguém almeja o episcopado, de fato, deseja algo excelente. É fundamental, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só esposa, equilibrado, tenha domínio próprio, seja respeitável, hospitaleiro, capacitado para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não amante do dinheiro. O bispo deve também governar bem sua própria família, sabendo educar seus filhos a lhe serem submissos com todo o respeito”. Esta foi a prática da Igreja cristã até sua proibição em 1073. Na realidade, até o concílio de Elvira (306), um sacerdote poderia, inclusive dormir com sua esposa na noite anterior à celebração da Eucaristia. Treze anos mais tarde, em Nicéia, fica decidido que, uma vez ordenado, um sacerdote não poderia mais casar-se. O casamento só seria possível antes da ordenação. Foi Gregório VII quem considerou o casamento de padres algo herético sob a argumentação de que ele distraia os ministros do serviço de Deus e que contrariava o exemplo de Cristo. A grande questão é: como explicar que 39 papas foram casados? (ver: http://www.padrescasados.org/archives/1194/39-papas-foram-casados/).
Em segundo lugar, a questão da castidade é bem mais sensível e complicada. O voto de castidade, que também é exigido do clero, impõe a abstinência de relações sexuais. Como pode ser visto, é possível, para um sacerdote Romano, que ele se mantenha celibatário (não case), mas que abra mão de seu voto de castidade e tenha uma vida sexual ativa. Essa realidade faz com que não seja incomum encontramos muitos padres vivendo um concubinato em uma relação hetero ou mesmo homoafetiva, (quando não, na prática do crime de pedofilia) em diversas paróquias, principalmente as que estão mais distantes do centro do poder. O que é crime precisa ser denunciado. Mas o exercício natural de uma vida sexual ativa, nos parece próprio do ser humano e seria importante que a Igreja compreendesse isso e permitisse o casamento.
No fundo, o centro da questão é o mesmo: nega-se a um ser humano, que exerça sua humanidade de forma plena, completa e integral. As palavras ditas pode Deus, quando criou o homem, também se aplicam a um sacerdote: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2: 18). Acredite, Deus tem mais sabedoria do que muitos dos líderes de nossas igrejas!
PS. Na foto vemos o padre Alberto Cutié que, para poder casar, deixou a igreja Romana na Flórida e tornou-se Anglicano.
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