
Padre Jorge Aquino.
Certo dia recebi uma pessoa em minha casa que, quando soube que eu era sacerdote e que celebrava casamentos, imediatamente pontificou: “para mim o casamento é uma instituição falida”. Procurei entender o que ela estava tentando dizer com aquela afirmação e ela usou o mesmo argumento das pessoas que têm este discurso, qual seja, o aumento dos divórcios. Pois bem. Eu não acredito que o casamento seja uma instituição falida, pelo contrário, é uma instituição muito prestigiada. Mas acho que preciso fazer algumas considerações a respeito.
1. É fato que o número de divórcios está muito elevado em relação às décadas passadas. Mas isso não nos autoriza a dizer que o casamento é uma instituição falida. No máximo, poderíamos dizer que as pessoas é que não estão buscando resolver seus problemas como antes se buscava. Hoje, as pessoas casam muito cedo, sem um lastro de sustentação sólido e de autoconhecimento firme e vivem em uma sociedade em que tudo tem que ser resolvido “ontem”. Natural que desistam do casamento diante do primeiro problema. Conversar e discutir gasta tempo e custa caro. É mais fácil buscar outra pessoa. Em nosso mundo as pessoas parecem que não tem mais paciência para nada.
2. Em segundo lugar, da década de quarenta do século passado até o dia de hoje, a vida média das pessoas passou de 45 para 75 anos de vida. Ora, quando vemos o aumento da expectativa de vida associado à esta mudança de perspectiva da realidade com um aumento da velocidade das coisas, e com a dificuldade de resolver as demandas, é natural que aumente os divórcios. Lamentavelmente, a política de quem está com seu aparelho celular quebrado, não é buscar concertar, mas comprar outro.
3. Outro fator que fez com que os conflitos familiares aumentassem foi a inabilidade dos homens em conviver com mulheres que trabalham ou que, em alguns casos, ganhem mais que eles. A entrada da mulher no mercado de trabalho acabou fazendo com que os homens as observassem como iguais e isso feria a programação sócio-genética do macho da espécie homo sapiens-sapiens que sempre foi o provedor e mantenedor da família. Há homens que não sabem conviver com mulheres assim. Eles se sentem diminuídos e, como consequência, muitas vezes, para demonstrar seu domínio, partem para a violência, que por sua vez, muitas vezes, acaba em divórcio.
4. Apesar disso, desafio qualquer leitor a se dirigir a qualquer igreja ou salão de recepções e procurar uma data para casamento em algum sábado nos próximos seis meses. Simplesmente não há mais agenda. Tudo está ocupado! O casamento é a cerimônia mais comum nestes lugares a cada semana.
Por isso, e por outras razões afirmo: o casamento não é uma instituição falida e jamais foi. Reconheço, sim, que o modelo familiar passou por grandes transformações nos últimos 50 anos. Casais sábios compreendem isso e se adaptam a estas mudanças, garantindo um casamento longevo. Mas, casar está – e sempre esteve – na moda.
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