
Padre Jorge Aquino.
Embora existam muitas biografias sobre Sidarta Gautama (c.563-483 aC.), a maior parte delas foram escritas séculos depois de sua morte e diferem muito entre si em vários fatores. Com certeza, porém, sabemos que ele nasceu em Lumbini, onde hoje é o Nepal. Ao que tudo indica, ele era filho de uma família nobre e teve uma vida luxuosa, privilegiada e cheia de luxúria. Descontente com essa vida, abandonou sua família (esposa e filho) para dedicar-se à espiritualidade e o equilíbrio ou caminho do meio entre a sensualidade e ascetismo. Uma vez tendo encontrado a “iluminação”, passou a viajar pela Índia difundindo seus ensinamentos.
Embora reverenciado pelos budistas, Gautama jamais se imaginou ser uma espécie de messias ou profeta, muito menos uma ponte entre Deus e os homens. Sua busca foi sempre a de encontrar a sabedoria, portanto, nossa abordagem não será religiosa, mas filosófica.
Dentre os seus ensinamentos encontramos o que ele chama de “quatro nobres verdades”. Quais seriam elas? Primeiro que o sofrimento faz parte da nossa vida desde o nascimento até a morte; segundo, que a causa do nosso sofrimento está no desejo pelos prazeres sensuais e no apego aos bens materiais; em terceiro lugar, que o sofrimento pode chegar ao fim por meio do desapego; finalmente, em quarto lugar, está o que ele chama de “caminho Octoplo”, ou seja, o caminho para a superação do ego e eliminação do desejo.
Aquele que quiser alcançar a felicidade na vida deverá buscar: a ação correta, a intenção correta, o modo correto de vida, o esforço correto, a concentração correta, a fala correta, a compreensão correta e atingir a consciência correta.
É interessante perceber que há muitos pensadores que tangenciaram esse caminho. Para fins didáticos apresentaremos apenas três pensadores que muito se aproximam do pensamento de Buda. O primeiro deles é Sócrates (470-399 a.C.). Este insigne pensador acreditava que o estudo da virtude tem início com o estudo da atividade humana que tem nela o seu fim. Para ele a virtude está ligada à natureza humana. Ademais, para ele, a virtude só seria encontrada no conhecimento de si e no seu próprio desenvolvimento e não nas riquezas materiais. É preciso, portanto, valorizar a amizade e o sentido de comunidade.
O segundo pensador a ser destacado é Aristóteles (384-322 a.C.) que, também voltando-se para a ética, pregava o caminho do meio ou a via media. Nesta via média precisávamos evitar os extremos do excesso ou da falta, que ele chama de “vícios” e buscar a moderação e o equilíbrio da “virtude”.
Finalmente, devo citar o livro bíblico de Eclesiastes. Escrito na Palestina no III século a.C., lá lemos que a verdadeira felicidade não está na riqueza, nos bens, na luxúria, no trabalho e nem mesmo na erudição ou na dominação que era exercida pelos poderosos da época. Ao invés de cair em desespero, é preciso compreender duas verdades: primeiro, que Deus é o Senhor absoluto do mundo e da história; segundo, que Deus está sempre ao nosso lado sendo ele próprio, um “dom concreto da vida para homem” a cada momento de sua existência. Entender isso é compreender que precisamos viver intensamente cada momento da vida, vendo neles, um lugar de relação pessoal com o Deus da vida. Quando vivemos o presente intensamente, ele se transforma em uma antecipação da eternidade saciando nossa sede de vida.
Os cristãos, desde o início do século XX, tiveram algumas experiências de diálogo inter-religioso com o budismo. Os dois intelectuais mais influentes nesta área foram Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) e Thomas Merton (1915-1968). Hoje existem comissões bilaterais em várias igrejas e denominações (incluindo Anglicanos e Católicos Romanos) que discutem os temas comuns nas duas tradições.
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