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As cinco marcas da missão para o Anglicanismo

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 17 de jan. de 2020
  • 4 min de leitura
Anglicanism_08

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Porque a igreja existe? Qual sua razão de ser? Para que ela serve? Estou certo de que estas questões podem parecer bastante pragmáticas, e de fato, são. No entanto, estou realmente procurando ser pragmático com você que está sendo essas linhas. Afinal, porque Cristo fundaria sua Igreja? O que ele teria em mente? Qual seria sua intensão em fazer isso? Estas questões foram levantadas seriamente pelos Anglicanos e, diante delas, chegamos a algumas conclusões. E, para responder quais as marcas que traduziriam a Missão, dentro de uma perspectiva Anglicana, o Conselho Consultivo Anglicano, reunido em 1984, desenvolveu esses cinco elementos que todos os Anglicanos deveriam observar como parte de sua missão no mundo.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que, se Jesus realmente chamou um grupo de discípulos e os enviou ao mundo para realizar algo, então existe uma missão que a Igreja Cristã deve cumprir. Em segundo lugar, me parece razoável dizer que a missão da Igreja Cristã está, de alguma forma, associada à missão do próprio Cristo, e, em última instância, com a própria missio Dei. Assim, se queremos compreender algo sobre a missão de nossa Igreja nesse mundo, acredito que devemos olhar, primeiramente, para a forma como Jesus cumpriu sua missão entre nós. Dizer isso, significa que podemos encontrar na missão de Jesus, pelo menos cinco elementos que também deveríamos encontrar na missão da Igreja Cristã nesse mundo.

  1. Proclamar as boas novas do Reino de Deus (kerygma).

O primeiro elemento que constitui a missão da Igreja no mundo se resume na palavra “proclamação”. A Igreja tem algo muito importante a dizer para toda a humanidade. E este algo está relacionado à chegada do Reino de Deus e de seus valores entre nós. A partir de hoje, cada pessoa desse planeta precisa se manifestar frente à essa novidade, ou seja, a esse evangelho (boa-nova). Aqui está a mensagem (kerygma) que a Igreja Cristã proclama. Deus se fez carne, habitou entre nós, e todos aqueles que o receberem tornar-se-ão filhos de Deus.

  1. Ensinar, batizar e nutrir os novos crentes (didaskalia).

Mas a missão da Igreja – como a de Jesus -, não se limita a chamar as pessoas pelo anúncio da chegada do Reino. Ela também precisa se envolver em discipular essas pessoas, e isso implica em fortalecer o ministério do ensino (didaskalia) para que esses novos crentes possam ser ensinados, batizados e nutridos. A missão da Igreja não para quando Deus traz alguém para seu Reino, mas ela continua por meio da Igreja, nutrindo, fortalecendo e alimentando essa pessoa para prepara-lo até o batismo, que é a confissão pública de compromisso com o Reino, com Deus e com a Igreja que é o Corpo de Cristo.

  1. Responder às necessidades humanas com amor (diakonia).

A Igreja, além de ser um espaço onde as pessoas conhecem pessoalmente Jesus Cristo e desenvolvem uma relação de discipulado mais profunda com ele, é também um espaço em que todas as necessidades humanas podem ser saciadas. Isso significa que a Igreja Cristã deverá criar espaços para dar respostas às necessidades físicas, existenciais e emocionais dos que chegam até Cristo. A Igreja não é um santuário repleto de anjos, mas um hospital que existe para ajudar a curar as dores das pessoas. Muitos chegam machucados precisando de perdão, de amor, de companheirismo, ou mesmo de um simples abraço. A Igreja Cristã não pode ser um instrumento de reprodução de uma ideologia exclusiva e preconceituosa. Ela precisa refletir o próprio Cristo e fazer o que Jesus faria. Em outras palavras, ele existe não só para anunciar e nutrir, mas também para servir (diakonia) ao próximo em suas necessidades.

  1. Procure uma transformação das estruturas injustas da sociedade, desafie toda a espécie de violência e busque a paz e a reconciliação (metanóia).

A missão da Igreja vai além do que foi dito até aqui. Sim, ela implica em anunciar, em nutrir, em acolher, mas também implica em transformar as realidades malignas em espaços de justiça e paz. Isso significa que a Igreja precisa utilizar sua voz para denunciar as estruturas injustas e malignas que destroem – bem como as ideologias que lhes dão sustentação -, e procurar ajudar na transformação da realidade concreta na qual vivemos em um espaço onde a justiça e a paz se encontrem. Aqui encontramos um papel político que precisa ser exercido pela Igreja Cristã e, acerca do qual, jamais podemos abrir mão.

  1. Lutar para salvar a integridade da criação, sustentar e renovar a vida na terra (soteria ampla).

Finalmente, a missão da Igreja se completa quando vislumbramos as palavras do Apóstolo Paulo afirmando que toda a criação geme, esperando o momento de sua redenção. Sim, mesmo a criação está nos planos de Deus. E isso ocorre porque a criação é um instrumento de anuncio da vontade de Deus. Por isso o salmista escreveu que os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento declaram as obras de suas mãos. Sabemos que nosso planeta vem sofrendo pelo crescimento do efeito estufa e que as consequências serão terríveis para as futuras gerações. Como Igreja não podemos nos calar. Afinal, destruir a criação é o mesmo que destruir um instrumento de anunciação da glória de Deus! Mas, um dia, haverá um novo céu e uma nova terra, na qual habitará justiça e um novo povo, o povo de Deus. A salvação (soteria) será, portanto, ampla e envolverá não apenas as pessoas, mas toda a criação.

Para terminar, quero deixar bem claro que a missão da Igreja Cristã e, por óbvio, da Igreja Anglicana, não se resume (como parece ser para alguns padres e bispos em nosso país) a apenas realizar casamentos. Ao que parece, em alguns lugares, tudo o que se faz é isso! Não se anuncia o Evangelho; não se investe na formação e no discipulado; não há espaço para acolher os feridos; não existe denúncia das estruturas injustas e nem luta para salvar nosso planeta. Essas pessoas somente se preocupam e celebrar casamentos.

A Igreja precisa se voltar para toda a missão que recebeu de Deus. Por isso e para isso existimos. Eis o talento que recebemos de Deus. Não podemos nem devemos enterrá-lo. Ao contrário, teremos que dar conta daquilo para o qual fomos chamados a fazer. Que naquele dia, ele nos chame de servo bom e fiel, abrindo-nos as portas de seu Reino – dimensão da qual nunca saímos.

 
 
 

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