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ANGLICANOS INVOCAM A INTERCESSÃO DOS SANTOS FINADOS?

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

Recentemente uma pessoa me questionou se os anglicanos pedem a intercessão dos santos falecidos. Para responder rapidamente a essa questão, resolvi escrever esse breve texto. Assim, observando o aspecto da tradição anglicana, nos damos conta que, se você se der ao trabalho de ler os Trinta e Nove Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra, perceberá que o mesmo artigo que rejeita o purgatório também rejeita a invocação de santos falecidos. Contudo, se você fizer uma pesquisa na internet sobre o assunto, vai certamente encontrar alguns anglicanos defendendo essa ideia dizendo que isso é possível, trazendo dúvida para muita gente.

Estes anglicanos dizem que os 39 Artigos estão historicamente condicionados e que eles representam apenas uma das formas de encarar o assunto entre os Anglicanos. Essas pessoas se identificam como “anglo-católicos”, mas rejeitam alguns de seus ensinamentos históricos mais básicos e continuam a dizer que os Anglicanos invocam os santos falecidos, pedindo sua intercessão. A grande ironia reside no fato de que estas pessoas se auto proclamam anglicanos da “igreja alta”.

De fato, esta terminologia existe e nada podemos fazer a respeito. Mas me parece irônico que um movimento que se afasta do anglicanismo – em termos de sua teologia histórica – possa ser considerado como um Anglicanismo “alto”. É comum encontrar sites “Anglo-Católicos” defendendo a oração pelos santos e venerando suas imagens, ao mesmo tempo em que invocam a intercessão de santos como Thomas Cranmer e William Tyndale, teólogos que, seguramente, ficariam horrorizado com essa prática. Um dos tópicos que marcou a reforma da liturgia realizada por Thomas Cranmer – o que marcou a teologia Anglicana – foi justamente a remoção de todas as referências a preces aos santos falecidos, para que intercedam por nós.

É interessante saber que quando os 39 Artigos foram escritos, eles eram 42. E um dos que foram retirados por Elizabeth I (o de nº 40), dizia justamente que o sono da alma não existe. Isso foi feito porque naquela época muitos acreditavam que a alma estava dormindo, ou seja, de que os mortos não estão conscientes. Parece que a crença no sono da alma havia se espalhado na Inglaterra. Entre os que defendiam essa crença, nomeamos John Wycliff, William Tyndale, John Frith e George Wishart, tutor de Jonh Knox. Recentemente John Stott revelou sua crença na “imortalidade condicional”, doutrina irmã do “sono da alma”, revelando que entre os Anglicanos essas posições conviviam com os que afirmavam a imortalidade da alma. O que precisamos compreender é que, aqueles que acreditam no “sono da alma”, obviamente não pediriam a intercessão dos santos mortos.

Um outro detalhe que é preciso utilizar é a razoabilidade. Os santos falecidos, por mais exemplares e puros que tenham sido, sempre continuarão sendo o que sempre foram, ou seja, seres humanos. Ora, imaginar que eles tenham, de onde que estejam, acesso aos nossos pedidos e orações, é o mesmo que dizer que eles gozam de onisciência, que é um atributo devido apenas à Deus. Portanto, não nos parece razoável acreditar que se eu invocar a atenção de um santo falecido, ele possa me ouvir.

Para utilizar um raciocínio bíblico, podemos perceber que existe um texto no qual se diz que as almas dos santos que estavam “debaixo do altar” e que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram, “clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Apocalipse 6:9,10). Ao que parece, eles estão pedindo a Deus que seja breve em vingar os habitantes da terra e o derramamento de seu sangue. Mas isso não nos parece uma intercessão pessoal e sim um pedido genérico. Diferentemente disso, Paulo é absolutamente claro ao dizer que “há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (I Timóteo 2:5). Assim, as Escrituras nos autorizam a dizer que somente Jesus é nosso único intercessor junto ao Pai, ainda que as almas dos que estão no céu possam clamar genericamente pela justiça divina.

Em resumo, se existem Anglicanos que oram aos santos que partiram, eles com certeza não o fazem com base nem na teologia anglicana nem nas Escrituras. Mesmo na liturgia usada pelas Igrejas Anglicanas ao redor do mundo, os santos falecidos são exaustivamente mencionados, mas apenas como grandes exemplos de fé e como pessoas que se entregaram nas mãos de Deus, motivo para darmos graças ao Senhor por suas vidas e, para deles recebermos inspiração. Ou seja, para os Anglicanos, os santos falecidos não são intercessores, mas exemplos que nos inspiram e fortalecem para que sigamos seus passos. Sim, você até poderá encontrar algum ícones ou imagens em templos Anglicanos, mas raramente verá um Anglicano orando, pedindo a intercessão desse ícone ou dessa imagem.

 
 
 

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