ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O GAFCON
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 19 de jul. de 2018
- 4 min de leitura

“Nem todos os Anglicanos Evangelicais apoiam os objetivos do movimento”
O terceiro encontro do GAFCON aconteceu no mês passado em Jerusalém. Certa manhã, houve uma empolgante interpretação do hino “Minha única esperança está em ti”, com a qual eu me juntei, através do fluxo do Facebook, como parte de minhas devoções matinais. Postei o refrão do hino “De manhã cedo até tarde da noite Minha esperança está em ti” na minha página do Facebook, levando um amigo a perguntar: “Você está bem?” Agora percebo que o contexto é tudo.
Se os anglicanos estão “bem”, esta é uma questão importante. Há certamente razões para se alegrar pelo fato de que a reunião em Jerusalém atraiu 1950 anglicanos (316 bispos, 669 clérigos e 965 leigos) de mais de 50 países. A Igreja da Inglaterra foi representada por dois bispos aposentados, dois servindo como bispos sufragâneos e muitos clérigos e leigos. Não havia nenhum bispo diocesano presente.
O texto “Uma Carta às Igrejas”, publicada no final da assembleia criticou não só a constituição informal e os instrumentos da Comunhão Anglicana, mas também expressou preocupação de que o evangelho não estava sendo pregado com clareza ou convicção. Houve uma reafirmação da singularidade de Cristo, e um lembrete de que a fé não poderia ser edificada sobre qualquer outro evangelho, seja o “evangelho da prosperidade” ou aquele revisado para se adequar às sensibilidades modernas e costumes culturais atuais.
A Carta também defendia que Lambeth 2020 deveria ser boicotada se o Arcebispo de Cantuária não convidasse tanto os bispos da Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA) como os da nova Igreja Anglicana no Brasil para a Conferência, e se convidasse bispos das Províncias que autorizaram a bênção da união de pessoas do mesmo sexo.
FULCRUM é uma cadeia de trabalho teológico de Anglicanos Evangélicos, e um dos membros de nosso time de líderes, Dr Andrew Goddard, esteve presente ao GAFCON III em uma capacitação pessoal. Em seu retorno de Jerusalém, nós refletimos enquanto grupo e chegamos a algumas considerações.
Primeiro, a Carta do GAFCON cita seletivamente Lambeth 1.10. por exemplo, ele diz que Lambeth 1.10 “afirmava o Ensino de Jesus em Mateus 19 diz que existem apenas duas expressões fidedignas da sexualidade: o casamento entre um homem e uma mulher por toda a vida ou a abstinência”; “corretamente nos chamou para o cuidado pastoral para com aqueles que se sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo”; e “descreveu a prática homossexual como ‘incompatível com as Escrituras’ e rejeitou tanto a autorização da Igreja para dos ritos para o mesmo sexo e a ordenação daqueles que estão em união com pessoas do mesmo sexo”.
A Carta, contudo, não cita a seção c de Lambeth 1.10, que nos compromete “a escutar[ando] a experiência das pessoas homossexuais e… a assegurá-las que elas são amadas por Deus e que todos os batizados, crentes e pessoas de fé, independentemente de sua orientação sexual, são membros plenos do Corpo de Cristo”. Nem reafirma, como a seção d da resolução, o chamado para “condenar o medo irracional dos homossexuais, a violência dentro do casamento e qualquer trivialização e comercialização do sexo”.
Segundo, embora apreciemos, como o site Church of England afirma, que a Comunhão “não seja mantida junta por uma constituição formal ou uma lei internacional das igrejas, mas antes, por uma tradição compartilhada, por formas de adoração e por relacionamentos — os ‘laços de afeição’ — entre seus membros ao redor do mundo”, nós estamos preocupados que GAFCON pareça ter atuado unilateralmente: qual é a base eclesiológica de sua reivindicação por autoridade? Como ela é capaz de definir o que constitui uma Província da Comunhão Anglicana?
Terceiro, a Carta é altamente crítica de frases atribuídas ao Arcebispo de Cantuária, tais como “Andando juntos” e “boa discordância”, que diz “são perigosamente enganosas na tentativa de persuadir as pessoas a acomodar falsos ensinamentos na Comunhão”.
Mas a Carta não leva suficientemente em consideração o contexto que fez surgir estas expressões. Após o encontro dos Primazes em janeiro de 2016, por exemplo, o Arcebispo Welby falou das diferentes partes da Comunhão “caminhando juntos, ainda que a distância”. A segunda parte é tão significativa quanto a primeira: caminhando “a distância” é preferível, certamente, que “caminhando separado”.
Quarto, nós notamos que, na GAFCON, existiram vozes que enfatizaram a importância de permanecer dentro da Comunhão. Elas incluíam o Arcebispo do Quênia, o Reverendíssimo Jackson Ole Sapit; o Bispo do Chile, Reverendíssimo Héctor Zavala; e o Arcebispo em Jerusalém, o Reverendíssimo Suheil Dawani. Nós nos surpreenderemos se essas vozes dissidentes continuarão sendo ouvidas agora que a supervisão do GAFCON passou do Primaz de uma Província da Comunhão, o Arcebispo da Nigéria, Reverendíssimo Nicholas Okoh, para o Primaz de uma Igreja que não é parte da Comunhão: Arcebispo Foley Beach, Primaz da ACNA.
OUTRAS HISTÓRIAS
Cuidado com a Church of England “gratis-para-todos”, adverte o novo Bispo da Gafcon para a Europa, Andy Line.
LAMENTAVELMENTE, GAFCON demonstra ter a intensão de caminhar separado, preparando uma estrutura alternativa assim como ramos e incluir bispos consultores, clérigos e representações leigas, que formarão um concílio sinodal que apresentarão recomendações, em uma forma que imita as estruturas e atividades da Comunhão.
Por 150 anos, a Conferência de Lambeth tem sido a forma principal por meio da qual os Anglicanos expressaram sua comunhão “em uma estrutura de relações e tomada de decisões conciliares. O GAFCON acredita que a Conferência de Lambeth teve seu tempo?
Existem muitos Anglicanos Evangelicais que não acreditam assim e, apesar das tensões na Comunhão, estão comprometidos a caminhar juntos, quer seja mais perto ou à distância.
(A Rev. Rachel Marszalek é Vigário da All Saints’, Ealing, e Secretária Geral da Fulcrum)
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