AFINAL, VALE OU NÃO VALE?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 11 de mai. de 2018
- 3 min de leitura

Padre Jorge Aquino
Quando a gente pensa que se está vivendo em um mundo esclarecido em que todos têm acesso à informação, até porque todo mundo vive com um celular na mão acessando recebendo notícias o tempo todo, ainda nos surpreendemos com algumas pessoas com as quais cruzamos pela vida.
Essa semana, minha esposa encontrou a mãe de uma pessoa cujo casamento eu realizei, e ela, sem nenhum constrangimento, disse que não acreditava que o casamento anglicano tivesse validade. Como já escrevi um artigo bastante fundamentado sobre esse tema, gostaria apenas de pontuar algumas informações resumidas para nossos leitores.
O primeiro elemento que eu pontuaria é uma questão de base: “Vale para quem?” Em outras palavras, você está preocupado se o casamento Anglicano vale para Deus, para a sociedade ou para a Igreja de Roma? Em primeiro lugar, eu gostaria de afirmar que Deus não é propriedade de nenhuma religião e não está manietado dentro de uma estrutura eclesial, seja ela qual for. Portanto, se duas pessoas que se amam, querem se unir e constituir família, não importa se são cristãos, budistas, judeus, muçulmanos, xintoístas, etc; Deus os reconhecerá como casados. Ou será que todas as pessoas que não são cristãs vivem em adultério? Absurdo isso!
Uma segunda questão que seria o desdobramento da primeira é: o casamento vale para a sociedade? Quanto questiono pela sociedade, pergunto, será que a sociedade inglesa (e a mundial) vai reconhecer como válido o casamento do príncipe Herry com a atriz Meghan Markle, que vai ocorrer na Capela Anglicana de São Jorge, no dia 19 de maio próximo, realizado pelo Arcebispo Anglicano de Cantuária? O que posso dizer é que, no Brasil, o Estado reconhece as uniões religiosas celebradas com efeito civil por qualquer religião instituída, inclusive os Anglicanos.
Por fim, a terceira questão era a que estava na mente daquela senhora. Será que a Igreja de Roma reconhece o casamento Anglicano? Vamos direto à resposta: o Guia Ecumênico, publicado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil reconhece que “a Igreja Católica considera que o matrimônio entre batizados é verdadeiro e próprio sacramento, sempre que à sua celebração não se oponha um impedimento dirimente” (CNBB, 1984, p. 186). Ou seja, se as duas pessoas são batizadas validamente, não importa se a cerimônia foi feita por um ministro não-romano. Mas, para os mais questionadores, vamos citar as palavras do cônego católico-romano José Luiz Villac que, falando a respeito dos luteranos, afirma que: “Na igreja evangélica luterana, em que o batismo é válido, o casamento entre os fiéis dessa confissão é reconhecido também como válido pela Igreja Católica, inclusive como sacramento, pois o contrato matrimonial entre cristãos batizados é sempre sacramento” (A palavra do sacerdote, disponível em <http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=1CFD7480-3048-560B-1C9DE101FAB64D65&> acessado em julho de 1998). Ora, como o batismo Anglicano também é reconhecido pelos católico-romanos (CNBB, 1984, p. 26, 27), a situação é exatamente a mesma, ou seja, o casamento Anglicano é reconhecido pela igreja de Roma. Mas, para aqueles que são realmente incrédulos, cito o texto da Comissão Bilateral Anglicanos – Católicos Romanos, aprovado em 1975, segundo o qual, quando se trata de casamento envolvendo uma situação padrão – noivos adultos, exercendo sua liberdade, sem grau de parentesco e solteiros ou viúvos, “Sobre o matrimônio, a Comissão não encontra nenhuma diferença fundamental de doutrina entre as duas Igrejas, no que diz respeito ao casamento de sua natureza ou aos fins a que se destina a servir”.
Agora, se o padre de sua paróquia terminou o seminário e não leu nada mais que foi publicado sobre esse assunto, aí, com todo respeito, quem precisa estudar mais é ele, antes de ficar dizendo bobagens e fazendo as pessoas incorrerem em erro.
P.S.: A foto que antecede o artigo é da Rainha Elizabeth II e de seu Marido, o Príncipe Phipli, Anglicanos que comemoraram 70 anos de casados no dia 20 de novembro de 2017. Será que esse casamento valeu? Sem comentários…
Referências Bibliográficas:
ARCIC, Vida em Cristo: Moral, Comunhão e a Igreja. Edições Paulinas: São Paulo, 2001.
CNBB. Guia Ecumênico. Edições Paulinas: São Paulo, 1984
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