Afinal, em que mundo estamos?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 31 de jan. de 2019
- 3 min de leitura

Reverendo Cônego Jorge Aquino.
Existe uma questão que deve estar presente na mente de todos aqueles que procuram interpretar o mundo ao seu redor: afinal como olhar para o mundo “fora de nós”, se nós estamos “dentro dele” e “fazemos parte” do mundo que nos cerca? Esta questão coloca diante de nós um dilema sobre o qual não podemos encontrar respostas. Podemos deixar de olhar para o mundo sem uma perspectiva subjetiva? Existe alguma objetividade em nossa leitura da realidade que nos cerca?
Todas essas questões podem parecer meros devaneios filosóficos, mas não são. O que está por trás dessas questões é a possibilidade ou não, de observarmos a realidade livres de nossos condicionamentos internos, de nossos pré-conceitos, pré-noções, de nossas ideologias, enfim, de nossa subjetividade. Minha resposta para essa questão é não. É impossível observar e interpretar o mundo a partir de um ponto de vista “fora dele”. Aceite; isso é um fato contra o qual você não poderá lutar.
Mas, há uma outra verdade que também precisamos entender: a história da humanidade nos mostra que, de tempos em tempos, a mentalidade se modificava e, portanto, era possível ver o mesmo mundo que se via antigamente, de uma forma diferente. Para os pensadores que começaram a discutir esse assunto na década de sessenta do século passado, essas mudanças de visões eram chamadas de mudanças de “paradigmas”. Um outro autor, Michael Foucault, dizia que cada realidade possuía sua “episteme”, outro termo para descrever a forma como formulamos nossas verdades. O que não podemos negar, é que as pessoas tinham uma perspectiva do mundo e de suas verdades durante a Idade Antiga ou a Idade Média.
Nosso mundo, diferente do mundo antigo ou medieval, também passa por uma espécie de gestação de uma nova “episteme” ou um novo “paradigma”. Nós, que nascemos no período que se convencionou chamar de Moderno, estamos vendo nascer – diante de nós – uma nova realidade com novos valores, ideologias e padrões de pensamento que, quer queiramos ou não, nos influenciarão e influenciarão cada aspecto daquilo que chamamos de civilização. O que chamávamos de Modernidade parece não ter conseguido atingir as metas para as quais se propôs. E essa falência ou fracasso em seu projeto, nos fez – aos poucos – romper com suas teses, suas crenças, suas verdades, suas ideologias e suas visões de mundo.
O que nos resta agora? Ainda não sabemos ao certo. Mas sabemos que a porta de entrada para um outro mundo se abriu. Nós ainda não ultrapassamos os limites que nos levam a essa nova realidade. E é por isso que vivemos com uma nostalgia do passado associada à uma esperança de um mundo melhor. Se este mundo, que alguns já chamam de Pós-Moderno, será melhor ou não, não podemos dizer ainda. Mas ele, inevitavelmente nos fará olhar para o mundo e suas realidades com outros olhos. Esta nova “episteme”, ou este novo “paradigma”, ainda está nascendo. Não existe nada que possamos fazer para impedir sua vinda.
Mas, uma vez que ele chegue, somente teremos três alternativas: ou bem o acolhemos e nos aliaremos aos seus padrões de verdade e às suas ideologias; ou bem nós o rejeitaremos, nos tornando seres proscritos, párias e representantes de um grupo de pessoas que vivem a olhar pelo retrovisor, rejeitando o inevitável; ou bem nós assumiremos uma postura de leitura crítica, compreendendo que, como cristãos, não fazemos alianças ideológicas; no máximo podemos ter um comportamento de cobeligerância, mas não uma rendição plena e total.
Para responder à questão que dá título a esse breve texto, estamos em mundo em mudanças, e mudanças muito profundas. No entanto, mesmo em mundo de mudanças, ainda existem algumas verdades que devemos afirmar e relembrar sempre. Não importa em qual mundo vivamos, qual a “episteme” que o caracteriza ou qual seja o “paradigma” dominante. Como cristãos, devemos sempre deixar claro que, existem valores acerca dos quais, jamais poderemos abriremos mão.
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