Acerca dos “Padres casamenteiros”
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 21 de jan. de 2019
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Muitas vezes, em diversos lugares, ouvimos a expressão “Padres casamenteiros”. Algumas vezes, essa expressão é utilizada apenas como uma designação de ministros que se dedicam, mais do que os demais, à prática do rito sacramental do Matrimônio. No entanto, boa parte das vezes, ouvimos essa expressão como se ela se referisse a algo errado, ruim ou mesmo pecaminoso. Pensando nisso gostaria de fazer algumas considerações acerca do tema.
Em primeiro lugar, eu diria que no sacerdócio – como de resto em qualquer função – existe a atividade “fim” e a atividade “meio”. Como sacerdotes, nossa atividade fim é sermos “servos dos servos de Deus”, despenseiros das verdades de Deus e ministros da Palavra e dos Sacramentos, conforme a vontade de Deus. Assim, nossa atividade “fim” não é celebrar matrimônios e sim, pregar a Palavra de Deus e ministrar os Sacramentos. É claro que cada ministro possui sua “vocação” bem definida. Para uns é o serviço; para outros o ensino; outros ainda se dedicam à oração. Mas somos sacerdotes, por isso celebramos a eucaristia e atendemos o povo de Deus. Presidimos matrimônios não como “meio de vida”, como tanta gente faz, mas como consequência de nosso “ministério” pastoral. Quem precisa celebrar casamentos para viver, acabará entrando em um “negócio” e, muitas vezes, fará de tudo para “queimar” seu concorrente. E muitos fazem isso muito bem, principalmente usando grupos de whatsapp.
Em segundo lugar, é preciso que se diga que, um padre não é um “fornecedor” do casamento – ao lado de tantos outros – nem mesmo um mero “contratado”. É claro que para que haja segurança jurídica para ambas as partes, é conveniente que exista um contrato com os elementos mínimos que envolvem a celebração. Mas um padre não “vende” seu serviço como se fosse um dos demais fornecedores. Ele vai ministrar uma bênção e, para tanto, recebe seu pagamento na condição de espórtulas ou ofertas e donativos. Em minha cidade todos sabem que, em quase trinta anos, jamais pedi uma taxa que fosse superior a um salário mínimo. Essa é a razão pela qual você jamais verá um padre sério alugando um espaço em uma “feira de noivas” para oferecer um “bem” ou “serviço” ou abrindo uma “rodada de descontos promocionais” – ou Black Friday -, como se estivesse em um mercado vendendo ou comercializando uma mercadoria ou um produto. Ele não oferece um “serviço” remunerado no mesmo sentido em que os demais profissionais oferecem. Quem assim age, se aproxima dos que cometem o pecado de simonia e “mercadejam a palavra de Deus” (II Coríntios 4: 2). É certo que costumo receber um salário mínimo para a celebração matrimonial, mas também é certo que já fiz vários casamentos por outros valores e até gratuitos, em razão da condição dos noivos.
Em terceiro lugar, não resta dúvida de que existem sacerdotes que são mais procurados para celebrar matrimônios do que outros. Isso é um fato. Essa procura se fundamenta, contudo, em circunstâncias supervenientes e não na apresentação de ministério exclusivamente voltado para a celebração de matrimônios. Muitos casais me procuram 1) porque não querem um padre que não sabe falar corretamente nossa língua; 2) outros, porque não querem uma cerimônia enfadonha, chata e extremamente grande; 3) outros porque sabem que eu não vou dar aula de religião ou lições de moral na cerimônia, mas falar do amor dos noivos; 4) outros ainda porque querem um casamento bilingue (inglês, espanhol ou italiano); 5) outros porque querem um casamento ecumênico; 6) alguns porque desejam casar em um local proibido pela Igreja Romana; 7) outros porque pretendem casar com alguém que já vem de uma relação anterior e, em razão disso, são proibidos (por sua igreja) de se casarem novamente; 8) por fim, outros, simplesmente porque pretendem casar com alguém que é casado e que, por isso, sabe – na prática – o que é ser casado, quais seus desafios, e que é feliz em seu casamento. Mas não existe – ou pelo menos não deveria existir – um ministro que apenas realize matrimônios e que faça dessa prática uma profissão.
Em quarto lugar, a atuação do Ministro religioso deve estar pautada pelo aspecto pastoral. Isso significa que, se você precisa de um sacerdote, ele deverá estar presente para ajudar, guiar ou proporcionar as orientações que forem necessárias. Mesmo que o sacerdote tenha uma notória vocação para tratar com casais, ele deverá levar em consideração que seu tratamento deverá ser pautado pela ética sacerdotal e buscando, sempre, o bem daqueles que o procura. Isso, obviamente, significa que seu tempo e seu cuidado pastoral são imprescindíveis. Um “padre” que só olha para você no dia no seu casamento é – em condições normais -, no mínimo, estranho. É claro que existem casais que ou bem porque moram em outros lugares, ou bem porque não querem, preferem não buscar as orientações necessárias para o matrimônio. Mas essa é uma escolha pessoal e ninguém poderá impor sobre o outro uma exigência que ultrapasse aspectos geográficos ou convicções pessoais. Não se aconselha quem não pode ou não quer ser aconselhado. Geralmente essas pessoas só procuram o padre para satisfazer uma exigência social. Terminada a cerimônia – que para eles não tem importância alguma -, eles passam para o que realmente importante: a festa; e o padre é simplesmente esquecido. Essa é a norma para os casais que querem apenas dar uma “satisfação” religiosa para a família.
Cabe ao sacerdote identificar com que tipo de casal você está lidando e, procurar aproveitar pelo menos a oportunidade da cerimônia, para falar aos presentes sobre o amor de Deus por todos e de como o mundo seria melhor se as pessoas que se amam cumprissem os compromissos assumidos. Quanto ao mais, devemos ser apenas um instrumento e deixar que o Espírito Santo faça sua obra por intermédio dos seus ungidos.
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