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ACERCA DOS DESINGREJADOS

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

Uma das questões mais prementes que está surgindo em muitos países do Ocidente é o movimento dos desingrejados. Este movimento é real, no entanto, não deveria ser chamado de “movimento”, porque essa palavra dá a impressão de que existe uma organização e uma postura organizada de pessoas caminhando em uma certa direção, e não é isso que está acontecendo.

É verdade, no entanto, que muitos líderes religiosos, ligados aos estamentos de poder de suas igrejas, estão preocupados com esse êxodo que, na verdade, revela a incapacidade ou inaptidão desses mesmos líderes em atender pastoralmente as pessoas. Lembro de uma tarde em que fui almoçar com um pastor da maior igreja de seu estado, logo depois de uma aula que assistimos juntos. Durante o almoço, fomos atendidos por uma jovem vestida bem peculiarmente. Ao final, aquele pastor perguntou à garçonete: “Você é evangélica?”. Ao que ela respondeu: “sim, sou”. Em seguida ele fez uma segunda pergunta: “De qual igreja você é?”. E ela disse, com um ar bem tranquilo: “Da sua”. Nem vou tentar explicar o diálogo que veio em seguida. Mas na verdade, o que aquele pastor poderia fazer, se sua igreja tem mais de 5 mil pessoas?

Essa é uma questão que muitos dos críticos desse “desingrejamento” precisam compreender. Acusa-se os desingrejados de serem vítimas de uma sociedade cuja cultura individualista os leva a procurar viver uma vida religiosa sem uma instituição, mas eles não fazem a mesma crítica contra a cultura do sucesso que leva os pastores a buscarem igrejas com milhares de pessoas, afastando-se das ovelhas. Não acredito que alguém possa ser um verdadeiro pastor de uma congregação que tenha mais do que 200 pessoas. Nenhum pastor nessas condições pode, efetivamente, chamar cada uma de suas ovelhas pelo seu nome, ou cuidar de cada uma dela em suas dores. Pastorear não é a mesma coisa que criar uma administração eclesiástica dirigida por conceitos de Bussiness Intelligence ou estratégia de marketing que se pareça com uma estrutura episcopal. Na verdade, existem alguns mitos sobre os desingrejados que precisam ser denunciados.

Em primeiro lugar, os desingrejados não são, necessariamente, contra as “instituições”. Não existe um movimento organizado que se levanta e se revolta contra as organizações religiosas e defendem que as pessoas deveriam abandoná-las. Mas não podemos deixar de atentar para o fato de que, existe sim, muita frustação e um sentimento de abandono em razão de várias circunstâncias, dentre as quais, questões sociais, raciais, sexuais e de muitas outras naturezas. Na verdade, muitos dos desingrejados são pessoas que foram feridas dentro das igrejas; elas sofreram durante muito tempo até que resolveram abandonar aquele espaço que, ao invés de ser uma comunidade terapêutica, era uma comunidade patológica.

Em segundo lugar, os desingrejados acreditam, sim, que a verdadeira “Igreja” de Cristo não se encontra “engarrafada” em uma denominação. Elas não mais acreditam naquela verdade medieval que afirma: extra acclesiam nulla salus (fora da igreja não há salvação). Nem mesmo os grandes defensores das grandes verdades denominacionais questionam isso. Contudo, a verdade hoje é: Fora de Cristo não há salvação. Nesse sentido, os desingrejados são tão críticos quanto os reformadores o foram, no século XVI. Eles entendem que, se a igreja romana tem um papa infalível que não pode ser questionado, os evangélicos possuem centenas.

Por fim, em terceiro lugar, os desingrejados acreditam que a verdadeira Igreja deve manter àquelas marcas apresentadas pela Reforma, mas deve apresentar uma outra, o amor. Durante a Reforma do século XVI os reformadores deixaram claro que a verdadeira Igreja de Cristo não se identificava com prédios ou catedrais, mas com dois elementos fundamentais: 1) a pregação da Palavra de Deus e, 2) a correta administração dos sacramentos. Notem que os desingrejados mantém uma enorme submissão às Escrituras e, sempre que podem, buscam os sacramentos. No entanto, elas acrescentaram um terceiro elemento como sinal da verdadeira Igreja de Jesus. Esse elemento foi apresentado pelo próprio Senhor: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:35). Em outras palavras, além da pregação da Palavra de Deus e da correta administração dos Sacramentos, a verdadeira Igreja de Jesus, é uma Igreja em que o amor se revela em todos os aspectos e relações. A verdadeira Igreja de Jesus não exclui, não odeia, não destrói e não humilha. Ela perdoa, acolhe e cura as pessoas. Ela reflete o caráter de seu Senhor, que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir. O que os desingrejados entendem é que, para se ser igreja, não são necessárias paredes, mas amor.

De tudo o que foi dito, compreendemos que, para os desingrejados, “não se trata de religião, se trata de Deus”. Essas pessoas tem um profundo desejo de desenvolver sua espiritualidade, mas elas sabem que a espiritualidade é algo distinto das denominações religiosas.

 
 
 

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