ACERCA DO ÓDIO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 7 de mai. de 2018
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Padre Jorge Aquino
Um dos sentimentos mais tristes que o ser humano pode ter é o ódio. Ele é um sentimento direcionado a uma pessoa em particular ou a um grupo de pessoas que possuem uma característica comum ou a quem atribuímos uma determinada “culpa” por algo que nos aconteceu ou aos nossos iguais. Geralmente ele é visto como uma aversão intensa motivada por medo, raiva ou injúria sofrida e, comumente ele está associado ao rancor.
A pessoa que odeia, em geral possui algumas características ou, quando essas características se acumulam, acabam por desenvolver uma síndrome. O primeiro elemento característico de uma pessoa que sofre da síndrome do ódio, é a baixa auto-estima. O “outro” é visto por essa pessoa como alguém tão superior, tão mais forte, e tão mais elevado, que ela passa a desenvolver uma auto-estima extremamente baixa. Isso faz com que ela odeie visceralmente cada vez mais aquela pessoa. Para ela, a simples existência dessa pessoa é uma prova de que ela não é ninguém. E é por isso que é preciso eliminar essa pessoa.
Uma segunda característica de pessoas que sofrem dessa síndrome do ódio, é a imaturidade emocional. Ela pode ser uma pessoa intelectualmente muito bem formada; ela pode advir de uma família de posses e abastada. Mas ela, simplesmente não amadureceu, em seus aspectos emocionais, para poder lidar com frustrações, enganos, erros, ou os defeitos, seus e dos outros. E, uma vez que os outros fazem mal a estas pessoas, é preciso que eles sejam eliminados. A sobrevivência, ou pior, a felicidade de alguém a quem essa pessoa odeia é vista por ela como um atestado de seus fracassos pessoais. É por isso que quem sofre dessa síndrome precisa “eliminar” o objeto de seu ódio.
Como consequência da união ou do somatório dessa baixa auto-estima e dessa imaturidade, eis que surge a intolerância. Pessoas que odeiam não sabem equilibrar seus gestos, sentimentos ou planos. Tudo lhe é extremado, é radical, e por isso, eles são intolerantes. Estas são pessoas que não entenderiam o discurso Aristotélico para quem, “a virtude está no meio”. Elas vivem nos extremos. Vivem portanto, para usar o termo do estagirita, no “vício” dos extremos. Essas pessoas não toleram os erros dos outros. Por isso os outros precisam ser eliminados. Alguém que tenha uma “ideia errada”, uma “moral errada”, que tenha a “cor errada”, ou que faça parte de um “estamento social” errado, deve ser eliminada. É por isso que as bases do ódio racial e do ódio pessoal são as mesmas.
Mas há uma verdade que todos nós precisamos saber sobre o ódio. Essa verdade nos vem de um escritor anônimo que disse: “O ódio é um veneno que se toma na esperança de que o outro morra”. Eis o dilema daquele que odeia. Quanto mais e mais forte ele odiar, maior será sua dor e mais trágica sua morte. E não estou me referindo apenas a questões emocionais; falo de dores concretas como a gastrite, úlcera, pressão alta, problemas cardíacos, AVC, cânceres, etc. Esse é o triste fim de quem tanto odeia, de quem tanto se envenenou com o mau sentimento, o rancor e com o ódio.
Por fim, acredito que devemos sempre lembrar as palavras sábias de uma pessoa que passou quase duas décadas presa por causa do ódio racial e nem por isso desenvolveu em seu coração esse mesmo sentimento. Me refiro ao preso político e depois presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que disse: “Ninguém nasceu com ódio. Aprendeu a odiar na terra. E se aprendeu a odiar, também pode aprender a amar”. Resta saber se a baixa auto-estima, a imaturidade emocional e a intolerância permitirão que tais pessoas aprendam a amar. Não é impossível, na verdade; mas exige muita disciplina, por isso, não é a porta mais larga e sim a mais estreita; e são poucos os que entram por ela.
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