ACERCA DO QUE NOS FAZ SOFRER
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 4 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Reverendo Jorge Aquino
Se existe algo de enganoso em relação à vida conjugal, é a crença absurda de que os problemas vão desaparecer se você não falar sobre eles. Quem age desta forma está, realmente, tentando colocar a sujeira debaixo do tapete. Sobre isso, acredite, vai chegar um momento em que não haverá mais tapete que dê conta de esconder os problemas.
É claro que, como diz a bíblia, devemos “buscar a paz com todos”. Mas buscar a paz em casa não significa que você tenha que evitar falar sobre questões que desagradam, simplesmente porque ele ou ela não gosta de falar sobre tal assunto.
Quando não falamos sobre o que nos faz sofrer, acabamos gerando algumas consequências inevitáveis. Em primeiro lugar, acabamos produzindo amargura em nosso coração. A amargura é a condição de quem tem uma alma amarga, acre ou azeda. A amargura da alma tem o condão de esmagar e sufocar todos os sonhos de um coração. Quantas pessoas que conhecemos são assim, amargas! Mas saiba, elas não apenas fazem os outros sofrerem seu amargor. Elas também são pessoas extremamente sofridas. E sofrem, na maioria das vezes, de forma solitária e abandonada. Ninguém ouve as suas dores e, por isso, elas acabam por terceirizar sua dor e tratar os outro com azedume e rispidez. Acredite, muitas das pessoas amargas que conhecemos, são assim, por falta de se sentirem amadas.
Em segundo lugar, quando não falamos sobre o que nos faz sofrer, inflamamos nossas feridas. Quando algo em nós inflama, a primeira consequência é a febre. Esta é uma resposta biológica natural de nosso corpo para matar os agentes patológicos que nos invadiram. Ocorre que, antes que se inventasse os antibióticos, quando havia uma infecção em qualquer lugar de nosso corpo, o mais comum era que isso evoluísse para a morte ou para a amputação. Se a penicilina tivesse sido inventada antes da Primeira Guerra Mundial, muitos soldados não teriam morrido ou amputado suas pernas ou braços. Quando evitamos falar sobre o que nos faz sofrer, corremos o grave risco de amputar, de nossas vidas, alguém que nos é importante, mas com quem temos dificuldades de nos abrir honestamente. Quanta dor isso pode causar!!
Por fim, em terceiro lugar, quando não falamos sobre o que nos faz sofrer, acabamos sufocando a relação. Quando sufocamos algo, estamos reprimindo, contendo ou abafando. O resultado é o mesmo para quem quer colocar um saco plástico na cabeça: fica sem ar e morre. Sem que o casal se abra e permita que novos ares entrem, trazendo vigor e odores suaves para ambos, a relação perecerá sufocada por falta de ar. Somente sendo capaz de ouvir sobre o sentimento do outro seremos capazes de sermos verdadeiros companheiros. Em outras palavras, é o amor e a empatia que nos faz comer o mesmo pão que nosso cônjuge está comendo. E somente assim, entenderemos pelo que ele está passando. É, portanto, se abrindo ao outro, que permitimos que a relação sobreviva.
Ora, uma vida conjugal saudável não pode existir na presença do temor. Não podemos permitir que o receio de falar sobre algo ou de ferir nosso cônjuge ao dizer de nosso desconforto em certas circunstâncias, nos leve até à condição de quem sofre a amargura ou a dor de não se sentir amada(o) ou respeitada(o). Uma conversa entre um casal adulto e amável não precisa ser algo tão drástico a ponto de produzir uma briga ou uma guerra. Afinal, o que se quer é que o amor seja capaz de sarar todas as dores e gerar vida, e vida abundante nas relações. Portanto, que cada casal aprenda a enfrentar suas dores, dificuldades e problemas com maturidade, evitando definitivamente, a tentação de varrer a sujeira para debaixo do tapete.

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