ACERCA DO QUE A BOCA FALA
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 9 de mai. de 2018
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Padre Jorge Aquino
Quem nunca conheceu alguém que se vangloriava de dizer tudo o que pensava? Pessoas que acreditavam que sua sinceridade era uma verdadeira virtude, um exemplo a ser seguido. E quanta agressividade é dita em nome da transparência! Mas será que esse deve ser o comportamento adequado para alguém que se diz cristão? Ou para um casal cristão? Examinemos alguns textos bíblicos que tratam desse assunto e procuremos aprender algumas verdades com eles.
A primeira verdade que a bíblia nos revela é que, quando abrimos nossa boca para falar, estamos revelando quem de fato nós somos. Nosso Senhor Jesus Cristo usou uma metáfora para explicar isso. Segundo ele, “Considerem: uma árvore boa dá bom fruto; uma árvore ruim, dá fruto ruim, pois uma árvore é conhecida por seu fruto. Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:33,34). Em outras palavras, não espere que uma árvore ruim (um mau coração) saiam frutos ou palavra boas. Desse texto, aprendemos que nós falamos aquilo que se coaduna com a nossa natureza ou com a nossa índole. Logo de chofre estamos diante de um critério utilizado para qualificar alguém como um seguidor de Cristo ou um não cristão. Que tipo de fruta cai de sua árvore?
A segunda verdade que a bíblia nos revela um padrão positivo de palavras que o cristão deve valorizar e utilizar. O apóstolo são Paulo, escrevendo aos Efésios nos diz quais os elementos que devem caracterizar nossa fala e nosso discurso. Vejamos: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem”. (Efésios 4:29). Sobre as palavras torpes veremos mais tarde. Mas as palavras que devem marcar positivamente a linguagem do cristão são: 1) a que for boa para promover edificação, ou seja, as que constroem, erguem e elevam (ao invés de destruir), e 2) as palavras que produzam “graça aos que a ouvem”, ou seja, palavras que produza enriquecimento e evolução nas pessoas, tornando-as melhores do que já são. Em outro texto Paulo diz: “a vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Colossenses 4:6). A palavra que sai da boca de um cristão deve ser também 3) “agradável”, aprazível e deleitoso e não algo ríspido, agressivo e grosseiro além disso, Paulo uma palavra: 4) “temperadas”, ou seja, condimentada sem azedume ou sem gosto algum. Desses textos aprendemos, portanto, o padrão positivo que deve dirigir e modelar aquilo que nós falamos. Estamos buscando modelar nossas palavras com esse padrão?
A terceira verdade que a Bíblia nos revela é que há um padrão negativo de palavras que nunca devem estar presentes na boca de um cristão. Novamente o apóstolo São Paulo, escrevendo aos Colossenses diz: “Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca” (Colossenses 3:8). Aqui Paulo nos diz que existem tipos de palavras que jamais deveria estar presentes na boca de um cristão. O texto começa com Paulo dizendo: “despojai-vos”, usando, no grego original, o termo apothesthe, que faz referência a jogar algo fora ou a apostatar um comportamento. Em seguida ele enumera esse grupo de palavra que jamais deveriam sair da boca de um cristão. Essas palavras são as que envolvem: 1) palavras que envolvem “ira” (orgên), ou seja, as que sejam produzidas por ela ou que a produzam; 2) “cólera” (thymon), as que implica em uma ação motivada pela fúria descontrolada; 3) “malícia” (kakian), as que são cheias de astúcia e esperteza para tirar vantagem de outrem; 4) “maledicência” (blasfêmian), que implica em falar mal dos outros; e, finalmente, 5) palavras “torpes” (sapros), ou seja, palavras vergonhosas, indecente, imoral, repugnante e impudicas. Originalmente, esta palavra era empregada para se referir a algo “estragado” ou “podre”, assim como os peixes, carnes, frutas e outros alimentos que já passaram do tempo de serem consumidos. Palavras torpes são aquelas capazes de provocar “mal-estar” nos outros.
Mas há ainda uma quarta verdade na Bíblia, sobre o nosso falar, que precisamos compreender. Escrevendo aos Efésios, Paulo disse: “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo (Efésios 4:15). É claro que o cristão não deve mentir para evitar que alguém fique chateado com aquilo que é verdadeiro. Afinal Cristo disse: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mateus 5:37). No entanto se nossa palavra deve ser sempre “Sim, sim; Não, não”, isso não significa que sejamos grosseiros com os outros. Afinal Paulo disse que deveríamos seguir “a verdade em amor”. Note: “verdade sem amor”, agride e mata; mas “amor sem verdade”, se omite e se exime do que é certo. O amor e a verdade devem marcar nosso falar.
Sabemos que, segundo Tiago, “todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito” (Tiago 3:2). E, um pouco mais a frente ele diz: “Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam” (Tiago 3:3). Dessa forma, também precisamos colocar freios em nossa própria boca, por que a nossa língua, diz ele, “é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia” (Tiago 3:5). De fato, a língua pode ser um pequeno membro, mas pode fazer um estrago imenso. Queremos isso para nossa vida e para nossas relações? Espero que não. Sendo assim, peça a Deus para que Ele coloque um “freio” em sua língua e de sua boca só sairão palavras edificantes e temperadas, para a glória de Deus.
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