
Padre Jorge Aquino.
Em uma sociedade na qual as pessoas estão cada vez mais endurecendo suas mentes, se inclinando à uma postura inflexível, dura e imutável, aprender a dialogar seria uma das exigências mais prementes para todos nós.
A palavra “diálogo”, oriunda do grego (di: dois + logos: discurso) é a possibilidade de que duas pessoas apresentarem seu pensamento em uma conversa ou um colóquio. Nada mais desejável do que ver, em todos os níveis da sociedade, pessoas aptas ao diálogo.
Ocorre que para que exista um verdadeiro diálogo, duas exigências precisam ser cumpridas. Essas exigências foram muito bem expostas pelo ilustre educador Moacir Gadotti, quando disse: “o diálogo somente se dá entre os iguais e diferentes, nunca entre os antagônicos”. O que ele queria dizer com isso? Refletindo sobre esse ensinamento, é-nos possível fazer pelo menos três afirmações. Em primeiro lugar, ele estava querendo dizer que, para a existência de um verdadeiro diálogo, é necessário que os envolvidos sejam vistos como ontologicamente iguais. Quando se dialoga, é necessário que todos os envolvidos gozem de uma condição ontológica igual, ou seja, eles devem ser vistos como seres aptos para tal. O que não pode ocorrer é o diálogo entre um “ser” e um “não-ser”. Ambos os membros do diálogo precisam gozar da mesma condição ontológica. Não existe diálogo quando o “outro” não é reconhecido como um “igual-a-mim”, mas como um “não-ser”, ou um “algo” que ainda não atingiu a condição de ente.
Em segundo lugar, ele estava querendo dizer que, para a existência de um verdadeiro diálogo, é necessário que os envolvidos sejam vistos como conceitualmente diferentes. Muito embora os que estavam envolvidos no diálogo precisem reconhecer a igualdade ontológica de seu oponente, é imprescindível que exista uma diferença conceitual clara que diferencie os oponentes. Assim, o “outro”, muito embora seja visto como um “igual”, ele precisa ser “diferente” em seu conceito, para que haja espaço para a existência de um diálogo. Falar com o igual – que concorda comigo - não é diálogo, é monólogo. Para que exista um diálogo é absolutamente fundamental que existam diferenças conceituais.
Por fim, em terceiro lugar, ele estava querendo dizer que, para a existência de um verdadeiro diálogo, é necessário que os envolvidos jamais sejam antagônicos ou antagonistas. Este termo, também oriundo do grego (antagônitês), que é a junção do prefixo anti (anti), que significa “oposto, contrário”, com a raiz agon (agôn), que significa luta ou combate. Dessa forma, quando estamos diante de duas realidades opostas, estamos diante de uma realidade antagônica. Se as pessoas envolvidas não reconhecem ao menos a mesma condição ontológica, nenhum diálogo é possível. Não pode haver diálogo quando uma das partes não reconhece o “ser” ou a “dignidade” do outro, ou seja, quando o “outro” é associado a um “não-ser”, ou a alguém sem a dignidade necessária para dialogar. Impõe-se, nesse caso, a vontade do mais forte.
Que em nossa sociedade existam sempre pessoas que, mesmo se vendo como diferente de outras, sejam capazes de reconhecer a dignidade do outro e se abra para um espaço dialógico fundamental para o amadurecimento e o crescimento de cada um de nós.
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