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ACERCA DO CELIBATO OBRIGATÓRIO

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 15 de jan. de 2020
  • 4 min de leitura
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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Recentemente o mundo vem discutindo acerca dessa questão extremamente importante para a vida religiosa dos sacerdotes Católicos Romanos, que é o celibato. Essa situação se agudizou quando o Sínodo para a América Latina chegou a prever a possibilidade de que homens casados e com conduta ilibada, possam atuar como padres em lugares onde os padres diocesanos não têm conseguido atingir.

Diante dos grandes debates em torno do assunto, gostaria de tecer alguns comentários sobre o assunto. Para iniciar, devemos saber o que é o “celibato”. Como qualquer bom dicionário pode dizer, o celibato é a situação de quem não é casado e se abstém de qualquer prática sexual. No entanto, antes de aprofundar o debate, seria importante ouvir o que a própria Igreja Romana diz sobre o assunto. No número 1579 do Catecismo da Igreja Católica, lemos: “Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes, (…) vivem em celibato e pretendem manter o celibato ‘por causa do Reino dos Céus’ (Mt 19, 12). Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a ‘cuidar das coisas do Senhor’, entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado” (Catecismo da Igreja Católica, 1993, p. 443). Com base nesta apresentação autoritativa do tema, podemos fazer algumas observações.

Em primeiro lugar, de uma perspectiva bíblica, não existe nenhum texto bíblico que dê sustentação a esse tipo de crença, ou seja, a de que o celibato seria aplicável a “Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceção dos diáconos permanentes”. Muito ao revés, a Bíblia é bastante clara quando diz que “se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus)” (I Tm 3: 1-5). Em outras palavras, desde o início da Igreja Cristã, os Bispos (e presbíteros) eram casados, e isso jamais se constituiu problema para a Igreja. Essa é a realidade, inclusive, nas Igrejas Orientais Uniatas, ou seja, naquelas Igrejas Orientais que estão ligadas à Roma. Lá, um padre casado não representa nenhum tipo de problema.

Em segundo lugar, é uma falácia afirmar que o celibato deve ser vivido “por causa do Reino dos Céus”. Utilizar esse argumento para impedir e tolher que homens tenham uma vida plena em todos os seus aspectos – incluindo o sexual – é um verdadeiro absurdo. Na realidade, a Igreja de Roma (Latina) é a única Igreja cristã que faz essa exigência. Nenhuma das Igreja Ortodoxas Orientais, nenhuma das Igrejas de orientação Reformada, nem os Anglicanos e nem mesmo as própria Igreja Orientais ligadas à Roma, possuem essa postura. Mesmo na Igreja Romana, a exigência do celibato obrigatório não era uma realidade nos primeiros mil anos de sua existência. Segundo Adolfo Robleto (1977, p. 101), “não foi senão até o século onze, quando, durante o papado de Gregório VII, se obrigou a cumprir o celibato do clero” na condição de regra teórica e não de dogma. Segundo afirma Collete (1912, p. 269) foi no ano de 1074 que Gregório VII “impôs ao clero o celibato obrigatório. O matrimônio dos sacerdotes não foi proibido por completo até os dias de Gregório VII que separou os clérigos das suas legítimas esposas e os obrigou a fazer voto de continência, e excomungou os rebeldes”. No entanto, na vida prática de milhares de sacerdotes cristão não-Romanos, ter uma esposa e filhos significa ter a possibilidade de viver muito mais intensamente a humanidade, e poder auxiliar famílias com muito mais propriedade, além de satisfazer a ordem de Deus: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2: 18).

Em terceiro lugar, dizer que “O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado” é outra afirmação vazia de sentido. A Igreja de Roma parece estabelecer o celibato como uma condição pela qual o sacerdote teria um contato irrestrito e absoluto com a transcendência, muito embora não se lhe fosse permitido ter qualquer espécie de acesso ao que é imanente. Ou seja, a Igreja Romana não apenas divide a humanidade em duas partes (a imanente ou material e a transcendente ou espiritual), mas hierarquiza essas duas realidades, colocando a esfera espiritual como superior ao aspecto material da vida humana.

Infelizmente, o celibato acaba aprisionando a sexualidade dos sacerdotes que, quando eventualmente se liberta, pode acabar eclodindo de uma forma inadequada e perigosa – como é o caso da prática da pedofilia. Em sua sabedoria, o apóstolo Paulo já ensinava que era muito melhor casar “do que ser tentado continuamente, embora seja certo que as responsabilidades familiares possam limitar o tempo disponível para a obra de Deus (I Coríntios 7:1, 2, 9)” (WALKER, 1981, p. 46). Não questionamos que se alguém se dedica exclusivamente à Igreja, ela logrará muito mais do que ganharia se um sacerdote tivesse seu tempo dividido com uma família ou com um emprego. No entanto, o próprio Apóstolo Paulo afirma que ele mesmo “fazia tendas” para não ser pesado às Igrejas (Atos 18: 3; 20: 34; I Coríntios 4: 12; I Tessalonicenses 2: 9). Também não negamos que São Paulo faz referência a pessoas que vivem de forma celibatária. Mas vejamos suas palavras: “Gostaria que todos os homens fossem como eu; mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus; um de um modo, outro de outro. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas: é bom que permaneçam como eu. Mas, se não conseguem controlar-se, devem casar-se, pois é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo” (I Coríntios 7: 7-9). Em outras palavras, para Paulo, o celibato é um “dom da parte de Deus”. Nem todos (e ele nem está se referido ao clero) possuem esse dom e, por isso, não é sábio nem justo exigir o celibato de todos os sacerdotes.

Referências bibliográficas:

Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis/São Paulo: Vozes/Loyola, 1993

COLLETTE, Carlos Hastings. Inovações do romanismo. Lisboa: Livraria Evangélica, 1912

ROBLETO, Adolfo. O catolicismo romano. Rio de Janeiro: JUERP, 1977

WALKER, Luísa J. Qual o caminho? Flórida: Vida, 1981

 
 
 

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