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ACERCA DA RELIGIÃO E DA HISTÓRIA DAS MENTALIDADES

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 8 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura
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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Faz relativamente, pouco tempo que a humanidade se voltou para um aspecto desconhecido ou desconsiderado durante muito tempo na academia: a história da mentalidade. Talvez, ao invés de falar em “história da mentalidade”, fosse mais interessante falar em “história psicossocial”, já que esse parece ser um termo menos controvertido e indicando o primado dos aspectos psicológicos sobre as retratações reais no aspecto histórico. No entanto, desde que Marc Bloch escreveu sua Introdução à história – e se tornou o criador da história dos anales – que era um erro entender a história como “a ciência do passado” (BLOCH, 1987, p. 25), mas dos homens, e “temos que acrescentar, ‘dos homens no tempo’” (BLOCH, 1987, p. 29), este aspecto da relação atropológico-temporal passou a ter uma enorme relevância. E o tempo, é mais do que a soma de instantes, é “o próprio plasma em que banham os fenômenos, e como que o lugar de sua inteligibilidade” (BLOCH, 1987, p. 30). Ora, se plasmar e moldar implicam em acomodar e dar uma forma, é no tempo – em função dele – que o homem se torna quem é.

Ademais, se o homem e por via de consequência, a história é formado “tanto por seus sonhos, fantasias, angústias e esperanças quanto por seu trabalho, leis e guerras” (p. 149), é preciso compreender bem o primeiro elemento – o homem – para que sejamos capazes de compreender melhor o segundo. De uma forma mais clara, não queremos atribuir todas as mudanças da mentalidade, nos servindo de uma perspectiva determinista, apenas a aspectos econômicos, politicos e sociais. Mas precisamos levar em consideração o pano de fundo mental ou, como dizia Le Goff “o nível mais estável, mais imóvel da sociedade” (LE GOFF, In JÚNIOR, 1996, p. 149) a fim de que possamos compreender com profundidade “as motivações e os moldes da história econômica, social, política e cultural. Enfim, aprender a globalidade histórica requer a análise das relações entre os níveis mais dinâmicos e os mais lentos da realidade humana” (JÚNIOR, 1996, p. 149). Neste aspecto, não podemos fugir ao fato de que estamos vivendo uma mudança de paradigma nas motivações e nos moldes que nos fazem compreender a sociedade, a política, a cultura e a religião.

Ainda citando o ilustra historiador francês, a História das mentalidades “situa-se no ponto de junção do individual e do coletivo, do longo tempo e do quotidiano, do inconsciente e do intencional, do estrutural e do conjuntural, do marginal e do geral. (Seu) nível é aquele do quotidiano e do automático, é o que escapa aos sujeitos particulares da história, porque revelador do conteúdo impessoal de seu pensamento, é o que César e o último soldado de suas legiões, São Luís e o camponês de seus domínios, Cristóvão Colombo e o marinheiro de sua caravela têm em comum” (LE GOFF, In JÚNIOR, 1996, p. 149). Esta citação é insuperável, em primeiro lugar pelo fato de nos colocar tanto na condição de sujeito como na de objeto dessa mudança de mentalidade. Estamos nessa “dobra do tempo” no qual não somos mais pertencentes ao passado, mas ainda não aceitamos os conceitos, valores, pensamentos ou, em outras palavras, a mentalidade, do que estar por chegar. Ainda nos atemos ao conforto de termos companheiros de estrada com quem compartilhar paradigmas que já estão sendo questionados. Como César, nos sentimos bem acompanhado com o último soldado de sua legião. Mas não podemos esquecer que os Césares passaram e que Roma caiu sob os bárbaros.

Uma pergunta que se impõe é: podemos captar o conteúdo inconsciente presente na psicologia coletiva que forma a mentalidade de uma realidade histórica? Segundo os historiadores da mentalidade, para se captar esse conteúdo é preciso analisar o imaginário dessa sociedade. Ou seja, estudar o conjunto de imagens, sonhos, visões, representações e aspirações produzidas por aquela sociedade em particular.

Quando observamos os sinais emitidos pelo imaginário mental de nossa sociedade, o que podemos perceber é uma inflação do indivíduo associado ao prazer desmedido, ao consumo e ao poder. Em uma sociedade cujos padrões mentais são plasmados por esses quatro elementos: individualismo, prazer, consumo e poder, a dimensão religiosa precisa aprender duas lições: primeiro, dialogar com esses valores sem abrir mão daquilo que nos faz ser o que somos: cristãos; e, segundo, elaborar um plano que nos possibilite existir enquanto cristãos e defensores dos valores do Reino de Deus, vivendo uma contracultura mental que nos impeça de ceder, de abdicar e de desistir como tantos já fizeram.

Os grandes pastores e padres animadores de auditórios já estão a postos. O poder está sendo ambicionado e disputado por cada um deles avidamente. O indivíduo já é mais importante do que o coletivo e a religião se transformou no mercado que vende os bens simbólicos que trazem satisfação (vitória, saúde, bens) e prazer aos consumidores da fé. Até quando resistiremos a esse paradigma mental? Que o Senhor da História dirija nossa mentalidade.

Referência Bibliográfica:

BLOCH, Marc. Introdução à história. Mira-Sintra: Publicações Europa América, 1987,

JÚNIOR. Hilário Franco. A idade média: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996

 
 
 

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