ACERCA DA PRIMEIRA COMUNHÃO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 31 de jul. de 2018
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Pelo batismo, todos nós passamos a fazer parte da comunidade dos cristãos e, portanto, da família de Deus. Mas eis que, terminado esse assunto, logo surge um outro que vem gerando debates até os dias de hoje: a questão da “Primeira Comunhão”. O grande problema é: a partir de quando devemos oferecer a comunhão às crianças?
Entes de iniciarmos qualquer forma de argumentação, gostaríamos de dizer que entre os Anglicanos co-existem, pacífica e respeitosamente as duas correntes de forma bem distintas. Existem aqueles que praticam a Primeira Comunhão quando a criança já está em uma idade que lhe permita conhecer – ainda que em parte – o significado e o sentido daquele gesto, e existem aqueles que dão a comunhão eucarística às crianças desde o momento do batismo, portanto, quando ainda bebês.
Qual a argumentação utilizada por ambas as correntes? Aqueles que esperam que as crianças tenham uma certa idade chamada de “idade da razão”, entendem que as crianças precisam ter algum conhecimento mínimo sobre o sentido e o significado do rito eucarístico com a finalidade de evitar que eles comam “sem discernir o Corpo de Cristo”, como diz são Paulo aos Coríntios, e assim não recebam as condenações citadas por Paulo no texto.
Aqueles que argumentam que a comunhão deve ser ministrada às crianças desde o batismo se utilizam de outros argumentos. Primeiro eles entendem que quando Paulo batizou e deu a comunhão ao carcereiro de Filipos e à sua família, seria natural supor que existiam crianças entre eles. O mesmo argumento é utilizado para os demais textos que são conhecidos como “ele e a sua casa”.
Mas existem outros argumentos. Os que pregam a pedocomunhão argumentam que, se as crianças podem receber o sacramento do batismo sem entender o que ele significa, também podem receber a comunhão. Ademais, existem muitos adultos que comungam e não possuem qualquer conhecimento sobre o sentido do sacramento. Ademais, quando Paulo se refere aos que comungam sem “discernir o corpo”, ele está se referindo à Igreja de Corinto, que estava cheia de questiúnculas internas dividindo os irmãos. Comungar sem “discernir” o que está acontecendo é que é significa “comer e beber para sua própria condenação”.
Um outro fator importante é que aquele texto de Coríntios só pode ser aplicado aos que podem fazer um auto-exame para se aproximarem da Mesa do Senhor. Por isso Paulo diz: “Examine-se, pois e coma”. Ora, nenhuma pessoa em sã consciência, depois de se auto-examinar pode se julgar digna de participar do Corpo e do Sangue de Cristo. Mas será que podemos dizer que um bebê recém batizado é igual a um adulto? Se nós, pecadores, nos aproximamos da Mesa do Senhor confiados em sua graça, muito mais uma criança que sequer cometeu pecado algum.
Em segundo lugar os pedocomungantes dizem que, se a comunhão nasceu em uma festa do amor, da qual todos os cristãos faziam parte e celebravam a participação na mesma família, será que não seria correto dar o alimento sagrado às crianças desde cedo, para que elas se sentissem desde cedo, também, membros da família de Deus? Ou será que impedimos que nossos filhos almocem ou jantem conosco à mesa? Se nossos filhos têm acesso à mesa familiar, também devem ter acesso à mesa do Senhor e, dessa forma, desde cedo, saberão que participam de uma grande família. Ademais, esta festa do amor é um reflexo da páscoa judaica, na qual toda a família – inclusive as crianças – estão reunidas para celebrar e participar de todos os elementos.
Mas o principal argumento dos pedocomungantes tem sido o histórico. Segundo nos ensina Francisco Taborda: “A Igreja Oriental conserva, até hoje, a comunhão batismal de bebês. O adiantamento da eucaristia para quando a criança chegasse ao ‘uso da razão’, não pareceu decisão evidente, mesmo na Igreja Latina. (…) Até o séc. XII a comunhão batismal das crianças de colo era prática generalizada no Ocidente e ainda no séc. XVI é testemunhada, aqui e ali” (TABORDA, 2001, p. 23). É fato indiscutível que a Igreja Oriental ainda preserva a prática primitiva de dar a comunhão poucos minutos depois do batismo da criança.
De uma perspectiva meramente histórica, conforme já vimos, somente a partir do XII é que essa prática começa a declinar e, no Concílio de Trento, será proibida. A normatização mais recente desse tema foi feita pelo papa Pio X que, em 08 de agosto de 1910, lançou um decreto estabelecendo que a primeira comunhão seria admitida a partir dos 7 anos.
Quanto aos Anglicanos, todos entendem que na Primeira Comunhão a criança se torna um participante pleno na comunidade dos redimidos e na família de Deus. Entendem também que, por meio dessa experiência sacramental os comungantes tendem a crescer de fé em fé, sempre em comunhão com Cristo e com sua vontade (João 6: 52-54). Mas diferem sobre em que momento esse processo deve ter início.
Particularmente, me insiro entre os pedocomungantes, que dão a comunhão às crianças desde o batismo e que, em um momento certo – a idade da razão – inicia a preparação da criança para que seja confirmada pelo bispo.
Referência Bibliográfica:
TABORDA, Francisco. Nas fontes da vida cristã. São Paulo: Loyola, 2001
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