
Reverendo Jorge Aquino.
O termo “ontologia” aponta para o que poderia ser chamada de uma doutrina do ser, ou, em outras palavras, a indagação temática acerca do ser ou simplesmente, um sinal de que se vai falar do ser. Por óbvio, não se está pensando aqui em uma espécie de disciplina neoescolástica ou de apresentação fenomenológica com tendência escolástica acerca do ser. Não há dúvida de que o termo “ontologia” vem do grego “On” e que aponta para o “ser”. Heidegger é claro quando diz que “ontologia” nos lembra igualmente “o tratamento de questões acerca do ser transmitidas pela tradição, tratamento que, sobre o solo da clássica filosofia grega, ainda continua multiplicando-se de maneira epigonal. Embora esta ontologia tradicional, mesmo quando pretende dedicar-se às determinações gerais do ser, ainda tem em vista um setor determinado do ser (HEIDEGGER, 2012, p. 7, 8).
Modernamente, lembra-nos Heidegger, o uso linguístico moderno do termo o faz equivales à teoria da objetividade fazendo com que, nesse sentido, a ontologia antiga coincida com a metafísica. Quando nos voltamos para a ontologia moderna, contudo, não a vemos como uma disciplina isolada, ainda que esteja profundamente imbricada com a fenomenologia em seu sentido estrito. Assim, somente por meio da fenomenologia surge um conceito adequado para nossa investigação, por isso, “somente a partir da fenomenologia é possível levantar a ontologia correspondente sobre uma base problemática firme e manter-se num caminho adequado” (HEIDEGGER, 2012, p. 8). Isso significa que quando olhamos para a consciência de..., somente nos deparamos, apenas vemos o de-que, ou seja, o “caráter objetual de um ente” (Ibid, p.8). e, na verdade, é disso que se trata nas ontologias, bem assim, dos caracteres objetuais correspondentes a cada ser. Veja-se, não se trata do ser enquanto tal, ou seja, objetual. Assim, quando falamos de fenomenologia à partir de uma perspectiva estrita, nos deparamos com uma fenomenologia da constituição, mas, em seu sentido amplo, a fenomenologia inclui a ontologia. No entanto, quando tratamos desse tipo de ontologia, não importa tratar da questão acerca do campo do ser de onde vamos retirar o sentido ontológico decisivo, que é o que conduz toda a sua problemática.
Quando tratamos da ontologia tradicional contemporânea, percebemos ser ela duplamente escassa. Primeiro porque, desde sempre, seu tema é o ser objetual, bem assim, “a objetualidade de objetualidades determinadas, e objetualidade para um pensar teórico indiferente” (Ibid, p.9) ou seja, o ser material objetuado para uma ciência específica que dela se ocupa, de sua natureza e cultura. Seu tema está associado com o mundo considerado por meio das diversas regiões objetuais – não o considerado à partir do ser-aí ou de sua possibilidade. Segundo, porque acaba resultando em um bloqueio do acesso ente, bem assim, ao ser-aí para o qual e à partir do qual a filosofia é.
Assim, a designação mais adequada para o nosso ser-aí próprio, caracterizado ontologicamente, é a nossa facticidade. Neste termo lemos nosso ser-aí em cada situação ou ocasião factual ou seja, no que toca ao seu ser. Para Heidegger, “Ser-aí no tocante a seu ser significa: não e nunca primordialmente enquanto objetualidade da intuição e da indeterminação intuitiva, da mera aquisição e posse de conhecimento disso, mas ser-aí está aí para si mesmo no como de seu ser mais próprio” (HEIDEGGER, 2012, p. 13). Assim, urge colocar e lembrar sempre que, o como do ser (to On) tem o condão de abrir e de delimitar o aí possível em cada momento ou ocasião factual.
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