A PRIMEIRA PREGAÇÃO DE JESUS

Reverendo Padre Jorge Aquino.

O texto sobre o qual fundamentaremos alguns breves comentários é retirado do Evangelho de Lucas. Vejamos o texto in verbis: “Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (Lucas 4: 14-21).

O contexto temporal e geográfico em que esses fatos ocorrem são bem descritos por Lucas. Estamos na cidade de Nazaré – especificamente em uma sinagoga – logo após o batismo de Jesus realizado no rio Jordão. Trata-se, portanto, de sua primeira manifestação oral pública, ou seja, seu primeiro discurso. Depois de ler o texto bíblico (o profeta Isaías), com os olhos de todos fitos nele, Jesus inicia seu discurso dizendo: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”. Ora, o que isso implicava?

Em primeiro lugar, ao afirmar “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”, Jesus traz aos presentes um profundo impacto. Isto implicava no cumprimento de uma profecia acerca da chegada do messias. Somente esse dado já seria de extrema relevância, vez que estamos falando aqui de algo que repousava no peito de todos os judeus: a esperança da vinda do Messias. Jesus, então, segundo registra Lucas, afirma ser ele aquele Messias (do hebraico Cristo, o ungido) esperado por todos os filhos de Abraão.

A segunda verdade revelada aqui nos fala do motor que faz com que tudo isso ocorra: “Então, pela virtude do Espírito” ou, “O Espírito do Senhor é sobre mim”. Tudo o que ocorrerá a partir de agora será sob a ação do Espírito Santo, revelando que seu ministério foi o resultada da ação direta da unção de Deus.

Por fim, em terceiro lugar, o texto nos revela o programa da implantação do Reino de Deus entre nós. Esta implantação implica em: 1) “evangelizar os pobres”; 2) “curar os quebrantados de coração”; 3) “pregar liberdade aos cativos”; 4) “restauração da vista aos cegos”; 5) a “pôr em liberdade os oprimidos”, e finalmente a 6) “anunciar o ano aceitável do Senhor”. Pelo que podemos perceber, o programa de Jesus é o de trazer libertação total para todas as classes de pessoas oprimidas. Eis a razão pela qual sua pregação é chamada de “Evangelho” ou “Boa-notícia”. Eis a manifestação plena e final da glória de Deus, o dia em que todas as pessoas tiverem uma vida digna. Assim, o ano da graça de Deus, o momento da ação graciosa de Deus, já está vindo e virá plenamente no ultimo dia, com a eliminação da pobreza (os explorados), de toda forma de cativeiro (os endividados) e os cegos (enganados pelos pensamentos dos outros).

Comentando este texto, Leon Morris nos diz que “A aplicação que Jesus fez da palavra a Ele mesmo mostra que o senso de vocação que veio com a voz celestial no seu batismo permaneceu forte”. Que todos nós, cristãos batizados, possamos nos encher do Espírito Santo e ir ao nosso mundo, anunciando a Boa-notícia da chegada do Reino de Deus, principalmente aos mais carentes e necessitados. Que nosso anuncio traga sempre alegria, nunca tristeza e medo.