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A POSTURA CORAJOSA DE UM PADRE GAY

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Atualizado: 20 de jun. de 2022


Padre Jorge Aquino.

Na semana passada a cidade em que moro foi sacudida por causa do vazamento de um áudio contendo uma conversa bastante controversa. Entre os personagens estavam um padre e um casal que havia sido unido em matrimônio por aquele sacerdote. O problema é que, até alguns dias antes da cerimônia, o padre manteve uma série de encontros sexuais com o noivo. Depois do escândalo, a Arquidiocese suspende o padre e o assunto foi abafado.

Eu inicio citando esse fato porque o que ocorreu em minha cidade não é algo incomum. Gostaria de lembrar o que ocorreu no Vaticano em outubro de 2015. Tratava-se do padre polonês Krzysztof Charamsa, que à época tinha 43 anos e era membro da Congregação para a Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício, e secretário adjunto da Comissão Teológica Internacional do Vaticano na Pontifícia Universidade Georgiana de Roma, onde vivia há 17 anos.

Segundo afirmou o monsenhor Charamsa: “Quero que a Igreja e minha comunidade saibam quem sou”, disse ele, “um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da própria identidade. Estou disposto a sofrer as consequências, mas é o momento de a Igreja abrir os olhos em relação a seus fiéis gays e entenda que a solução proposta para eles, a abstinência total da vida de amor, é desumana”. Nesta entrevista ele afirmou que existiam inúmeros padres gays no Vaticano, todos dentro do armário.

Em outro momento, longe de se acovardar ao ser expulso da Comissão, ele respondeu apresentando seu namorado, Eduard - de origem catalã - à sociedade, estimulando “tantos sacerdotes homossexuais que não têm forças para sair do armário” a seguir seu exemplo e acusando o Vaticano de homofobia.

Ele foi honesto ao dizer: “Peço perdão por todos os anos durante os quais sofri em silêncio diante da paranoia, da homofobia, do ódio e da rejeição aos homossexuais que vivi no seio da Congregação para a Doutrina da Fé, que é o coração da homofobia na Igreja. Não podemos continuar odiando as minorias sexuais, porque assim odiamos parte da humanidade”.

O padre Charamsa, admite que a data do anúncio de sua condição homoafetiva não foi casual. Ao tornar pública sua declaração um dia antes que 270 padres sinodais - bispos, cardeais, religiosos e especialistas - se sentem para refletir sobre os novos modelos de família, o prelado polonês queria, realmente, agitar o debate. Disse ele: “Queria dizer ao Sínodo que o amor homossexual é um amor familiar, que tem necessidade de família. Toda pessoa, incluindo os gays, as lésbicas e os transexuais, têm no coração um desejo de amor e familiaridade. Toda pessoa tem direito ao amor e esse amor deve ser protegido pela sociedade, pelas leis. Mas sobretudo deve ser cuidado pela Igreja”.

Apesar de ser padre desde 2003, o monsenhor Charamsa afirma que sempre soube de sua condição homoafetiva, mas que no início não queria aceitar porque “ia contra o princípio da Igreja”. O prelado disse que passou da negação à felicidade de ser gay “graças ao estudo, à oração, ao diálogo com Deus e à confrontação com a teologia, a filosofia e a ciência”. Conclui o prelado que, ainda que o catecismo considere a homossexualidade uma tendência “intrinsecamente desordenada”, ele - que pelo menos até agora foi professor de teologia na mais prestigiada universidade pontifícia - não encontrou na Bíblia sequer uma página que fale de homossexualidade. Ele disse que não conseguia mais suportar o “ódio homofóbico da Igreja, a exclusão, a marginalização e a estigmatização” dos homossexuais que têm “direitos humanos negados” pela instituição. Charamsa agradece ao Papa Francisco por sua postura mais branda em relação as pessoas homoafetivas, mas afirma que a palavra do pontífice só será eficiente quando a postura do Vaticano for alterada e determinados documentos revogados.

Sejamos honestos. A postura assumida pelo monsenhor Charamsa exigiu muita coragem e correção. Ele é um exemplo claro de como deveria se comportar os sacerdotes gays e que se escondem por medo das consequências ou – lamentavelmente em outros casos -, por razões relacionadas à perda do poder, da condição de vida e da admiração pública. É verdade que a Igreja reagirá com força porque não aceita essa prática e compreende que ela é pecaminosa. Na verdade, nenhum padre deveria quebrar seus votos de celibato e de castidade. No entanto, a complexidade da vida faz com que algumas pessoas se vejam diante de situações difíceis. Foi o que ocorreu com o padre Charamsa. Mas, afinal de contas, qual deveria ser a postura de um padre que se descobre incapaz de manter seus votos? Ou bem ele permanece mentindo para ou outros – e para si mesmo – e quebrando os votos que fez, ou bem ele abre mão do sacerdócio Romano, uma vez que a Igreja Católica não aceita essa prática. Monsenhor Charamsa assumiu uma postura honesta para consigo mesmo e para com todas as pessoas ao redor. Ele abriu seu coração e expôs sua condição o que, por óbvio, impõe em retorno, não apenas a sanidade e a coerência interna, mas também todos o nosso apoio e nossa admiração.

Reitero minha admiração ao padre Charamsa que, hoje, vive feliz com seu marido na Espanha e ocupa seu tempo escrevendo e dando palestras sobre o tema da homofobia e da sexualidade – vez que ele é doutor em bioética pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Esperamos que no futuro muitos outros padres vençam seus medos e os demônios que os amedrontam e vejam que ele são amados por Deus, que os acolhe e os abraça com seus braços paternais, quer sejam heteroafetivos ou homoafetivos. Deus não deixa de nos amar por causa de nossa condição sexual. Precisamos saber disso e compreender as dores, as dúvidas e os sofrimentos que muitos sacerdotes passam, reafirmando sempre que o amor de Deus é maior do que qualquer coisa. Que as pessoas ajam sempre com transparência, honestidade e sejam consequentes em seu comportamento.

 
 
 

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