A paz entre as nações e a paz entre as religiões
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 12 de set. de 2018
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Reverendo Padre Jorge Aquino
Um dos maiores teólogos ecumênicos da atualidade Dr. Hans Kung, disse em uma de suas inesquecíveis palestras, que não seria possível haver paz entre as nações sem que houvesse paz entre as religiões. E a razão para uma declaração como esta reside no fato de que as nações refletem suas culturas, e essas, possuem sua alma na religião. Ora se a religião é a alma da cultura e esta é a base da coesão nacional, sem que as religiões sejam capazes de dialogar, as nações estarão condenadas à uma convivência formal na esfera internacional, mas ao acirramento do ódio e da intransigência na esfera particular.
Esta palavra lúcida de alguém que vem sendo sistematicamente – durante anos – vigiado pelas autoridades do Vaticano, parece-nos um lampejo de luz em um mundo já não tanto iluminado pelas “luzes” da razão. De fato, se o projeto Iluminista faliu em produzir uma nova humanidade marcada pelos ideais da razão e da justiça, parece-nos que a religião pode trazer alguma luz quando o assunto é “Um projeto de paz para o mundo”.
Depois do 11 de setembro e depois de tudo o que o presidente George Bush fez com sua mentira deslavada sobre a necessidade de atacar o Iraque em razão da existência de inúmeros arsenais de “armas químicas” – que efetivamente nunca foram encontradas – já não podemos mais pensar que a religião seja algo tão somente adstrito à “esfera privada”. Os atentados em Nova York e as reações truculentas do presidente do Império, acrescido do crescimento do talibã e dos inúmeros atentados realizados por “lobos solitários” em várias cidades da Europa, revelam que as religiões precisam ser levadas a sério daqui para adiante.
As motivações religiosas (dentre outras) estiveram claramente presentes nos gestos suicidas dos terroristas, mas também estavam presentes nas atitudes igualmente terroristas de Bush, um “nascido de novo” (Born again) da igreja Metodista. De nada adiantou a palavra do próprio Bispo presidente da Igreja Metodista americana. Os interesses políticos e indubitavelmente econômicos (e outros eventualmente edipianos) de Bush, fizeram com que ele escolhesse dar ouvidos aos segmentos mais conservadores do protestantismo americano nesta “cruzada” insana contra o mal.
Depois de pouco mais de ano do início dos bombardeios a mentira se revelou. Não havia arsenais de armas químicas no Iraque. Não havia mísseis prontos para atingir Israel e os outros países visinhos. Tudo não passou de uma farsa, de uma estratégia para o lucro financeiro (da indústria bélica e das indústrias petrolíferas) e de uma mentira. Este episodio revelou que os religiosos, de hoje em diante, precisam atentar para aqueles que “usam o nome de Deus em vão”.
Hoje, o Império contra-ataca sob nova direção, mas com a mesma orientação de não respeita os diferentes – principalmente latinos e muçulmanos. Hoje o império contra-ataca querendo construir muros, separando famílias e ameaçando quem discorda com a prisão. Os religiosos e seus líderes precisam buscar a lucidez necessária para que a vida prevaleça. Não podemos, em nome de Deus, aceitar que se reproduzam torturas e autos de fé da Inquisição. Não podemos permitir que a ideologia do “destino manifesto” associado ao fundamentalismo religioso escureça a luz da graça de Deus. A Encarnação de Deus, em Jesus, é uma grande metáfora cristã da dignidade que possui a pessoa humana. Até mesmo Deus desejou se tornar um de nós. E esta Encarnação, por outro lado, elevou a humanidade e a cada um de nós a uma condição jamais sonhada. Foi o amor que levou Deus a se encarnar e a sentir nossa dor. Que este mesmo amor nos constranja a aceitar o outro, com suas diferenças e nos converta à luta pela paz e pela dignidade de todas as pessoas. Juntos, de mãos dadas, a espiritualidade salvará o homem.
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