A NOIVA QUE NEM O PADRE DESEJA TER
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 18 de out. de 2018
- 3 min de leitura

Reverendo padre Jorge Aquino.
Antes de mais nada, tenho que reconhecer que esse título é bastante estranho. Talvez você ache até bizarro, mas, sinceramente, em quase trinta anos de experiência pastoral, lidando com fornecedores e com todos os tipos de noivas, eu posso elencar algumas atitudes que realmente prejudicam a relação noiva-padre, transformando o casamento em um ato meramente formal.
Em primeiro lugar a opção de manter distância. Eu já fiz e faço, inúmeras cerimônias que envolvem pessoas que moram em outros países e em outros estados da federação, mas sempre que essas pessoas estão vindo até aqui, elas entram em contato e nós acabamos encontrando um espaço na agenda para conversar sobre a cerimônia ou sobre outras questões que envolvem a celebração ou a vida à dois. No entanto, existem pessoas que fazem questão de manter distância. Elas vêm à cidade, passam dias, feriados, postam as fotos no facebook e sequer se preocupam com o casamento. E pior, mentem, dizendo que estão doentes ou inventam outra desculpa. Simplesmente, elas não “estão nem aí” para aquele dia. Penso que para essas pessoas o casamento é apenas um rito religioso chato, porém “obrigatório” – por causa da família -, e que não precisam saber de nada. Não é bem assim. Principalmente se o casamento for religioso com efeito civil. Existem trâmites legais que precisam ser feitos e prazos que precisam ser respeitados. Eu até respeito aquelas pessoas que realmente não estão a fim de encontrar o padre e debater sobre questões que envolvem a cerimônia. Sem problemas. Mas isso pode ficar claro desde o início e essa pessoa, para o seu bem-estar, não deveria fazer um casamento com efeito civil.
Em segundo lugar, a ausência de respeito. Parece estranho, mas a impressão que tenho é que os ministros religiosos (como os professores e outros profissionais) já não despertam em algumas pessoas nenhum respeito. Quando me refiro a “respeito”, não estou com isso dizendo que as pessoas precisam me chamar de “reverendo padre”; não! Não há problemas sequer que me chamem pelo meu nome. Minha dificuldade é a mentira e a falta de seriedade com que tratam os compromissos. Quantas vezes saí de minha casa, dirigi por vários quilômetros até chegar ao local acertado com um casal para termos um encontro, e saber, depois de chegar lá, que o casal havia viajado e sequer havia se lembrado de avisar ao padre? Compreende-se um breve atraso, mas as pessoas hoje sequer estão preocupadas em avisar o padre que não vão estar presentes no lugar e no dia marcados. Se isso não for falta de respeito e consideração, o que é?
Isso nos leva a um terceiro problema que vejo, a falta de gentileza. Acho que é por causa de minha idade, mas tenho a impressão que as pessoas de hoje não gostam mais de falar ao telefone. Existem pessoas que simplesmente não atendem suas ligações; e pior, sequer retornam. Parece que a gentileza desapareceu do mapa. Nem mesmo quem usa o tal do whatsapp é capaz de escrever palavras como: “Bom dia”, “Obrigado”, “Desculpe”, “seria possível?”. Tudo é escrito no imperativo e já não existe espaço para que as pessoas simplesmente perguntem “se pode ser”, se “há aquela data disponível” ou se eu poderia fazer isso ou aquilo.
Talvez eu devesse mudar o título do artigo. Sim, porque a impressão que tenho é que esses problemas estão generalizados e não atingem apenas as noivas. Mas, é que quando eu penso em uma noiva, ainda me vem à mente aquela imagem – quase que oriundo de um sonho – de uma pessoa tranquila, sonhadora e amável, que deseja que seu casamento seja o momento mais mágico de sua vida. Talvez eu tenha que acordar desse sonho.
Para encerrar esse texto, tenho que fazer um registro: essas noivas complicadas representam a exceção e não a regra. A esmagadora maioria das noivas que já tive a oportunidade de conhecer, perfazia uma plêiade de pessoas gentis, amáveis, atenciosas, educadas, e preocupadas em que seu grande dia fosse o dia mais maravilhoso de suas vidas. Meu sonho é ajudar a concretizar esse desejo.
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