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A LÓGICA DO MERCADO E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A IGREJA

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 17 de nov. de 2021
  • 3 min de leitura

Reverendo Jorge Aquino.

Neste breve texto pretendo demonstrar que alguma coisa vem mudando na igreja nos últimos vinte e cinco anos e que estas mudanças estão intimamente relacionadas à noção de mercado e de consumo.

Nosso ponto de partida é a observação clara de que ocorreu uma mudança no conteúdo discurso e na prática litúrgica da igreja, agora marcada por uma maior flexibilidade e pelo abandono das liturgias oficiais.

Como fundamento teórico, nos baseamos no pressuposto do “Paradigma do Mercado Religioso” que tem em autores como Peter Berger (1985) e Houtard (2003), os principais pensadores que formularam esta tese sobre as modificações religiosas.

Os dois grandes problemas que as religiões enfrentam no Brasil hoje são, a nosso ver, sua adequação à uma nova realidade epocal e, em segundo lugar, a concorrência com as demais instituições religiosas, o que, significa, que o grande desafio da religião é a questão da sobrevivência em um mundo cada vez mais plural.

No que diz respeito à mudança epocal, é fato que o movimento denominacional é fruto do período moderno. Foi a partir do século XVI que surgiram as grandes denominações cristãs com seu discurso fortemente embasado em uma interpretação racional da Bíblia. Hoje, vivemos em uma realidade pós-moderna e, portanto, pós-denominacional. A fidelidade das pessoas deixou de ser a um programa doutrinário racional e coerente e passou a ser voltada para aspectos mais subjetivos como, por exemplo, o carisma do pastor ou do padre, o sentir-se bem naquele lugar, o “louvor” da banda que toca naquele lugar ou as promessas de bem-estar e prosperidade que são feitas ali.

O segundo problema tem a ver com uma questão de sobrevivência. Se o seu culto ou sua missa não se adequar à lógica do mercado sua igreja fatalmente vai definhar até a morte. Mas que lógica é essa? A lógica do mercado é aquela que produz nas pessoas o aumento da importância de determinados bens simbólicos, cria a necessidade e o desejo de tê-los, e os oferece como um “produto” na liturgia da celebração, satisfazendo assim a demanda por esse bem.

Observe-se que essa lógica é absolutamente fundamentada no marketing e trata os fiéis como consumidores dos bens simbólicos que a religião pode prover. Se estamos diante de uma “lógica de mercado”, é óbvio que esta lógica determinará as mudanças e as transformações necessárias nos modelos instituídos pela religião.

Ora, o que é “mercado”? É o lugar onde se estabelecem os preços dos bens e onde eles são negociados. A ideia é transformar nosso produto religioso em algo o mais atraente possível a fim de que – em termos de eficácia simbólica – satisfaça as necessidades dos fiéis. Foi por isso que o estilo das celebrações mudou, bem como a temática e a duração dos sermões, as práticas do ritual, da Eucaristia. Até mesmo o público alvo mudou. Agora ele é composto majoritariamente pelas elites dominantes ou os setores médios da população, para quem se oferece uma espiritualidade e um misticismo que os tranqüiliza diante das disparidades sociais. O discurso se torna mais leve na forma e mais conservador no conteúdo, valorizando a Bíblia, a espiritualidade, a conversão, certos retiros espirituais, etc. A moral pequeno burguesa é resgatada e ninguém fala mais sobre política ou sobre o “outro”.

O que ninguém esperava é que com a mercantilização da religião ela passasse para um outro grau que chamo de religião “faest food”. Agora não importa mais a origem religiosa do fiel. Ele consegue criar um “prato” recheado de elementos que incluem as mais diversas matizes religiosas apenas para satisfazer o seu paladar pessoal. No mundo pós-moderno não precisamos de “coerência” intelectual em nossa crença. Basta que a pessoa se “sinta bem” para que ela “esteja certa”. Afinal a verdade é determinada pelo caráter subjetivo de cada um. E é para satisfazer a esta demanda que os padres e pastores pop stars estão ai. Com a “aeróbica do Senhor”, dizendo que “Deus é Dez” e satisfazendo ao povo. Afinal não é isso que importa? Bom para quem acredita que a verdade varia de pessoa para pessoa, sim. Para quem ainda defende algumas verdades duras, fica difícil aceitar esta nova proposta religiosa.

Eis a grande questão: a quem agradar? Ao mercado ou a Deus? Satisfazer os desejos do consumismo religioso às custas do que a Escritura diz ser certo ou errado e, dessa forma, ser impopular e perder fiéis, ou buscar fazer a vontade de Deus e apontar erros e acertos, colocando o dedo nas feridas e desagradando eventualmente alguém que faça uma grande contribuição regular à igreja? Ser popular ou ser honesto com Deus?


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, P. L. O Dossel Sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulinas, 1985

HOUTART, F. Mercado e Religião. Rio de Janeiro: Cortez, 2003.




 
 
 

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