
Padre Jorge Aquino.
Em geral, discutir sobre a instituição do casamento pode fazer surgir uma série de considerações advindas das mais diversas áreas. Sociólogos, psicólogos, juristas e teólogos, todos acham que têm algo a dizer sobre o tema, e de fato, têm. Neste pequeno opúsculo, nos limitaremos a fazer uma aproximação bíblico-teológica da instituição do casamento na esperança de que traga alguma luz àqueles que estão pensando no assunto para o futuro. Tendo dito isto, podemos destacar três aspectos bíblicos da instituição do casamento.
A. Sua motivação (Gn 2:18)
O texto de Gênesis descreve poeticamente a criação do universo e também da humanidade. E é neste contexto que o matrimônio é instituído por Deus. O texto citado acima diz: “não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade”. Sabemos que quando falamos em “linguagem poética” não estamos falando em algo “mentiroso”, mas em uma descrição fenomênica dentro de uma realidade pré-científica. Em outras palavras, o texto bíblico revela que a grande razão de ser, ou a motivação do matrimônio é a superação da solidão.
Em nossa sociedade convivemos com a solidão, com a desconfiança e com as consequências destes sentimentos, ou seja, a depressão. O casamento é o espaço existencial adequado para que sejam vencidos todos estes inimigos que esmagam as pessoas. Encontrar um companheiro de vida não apenas (está provado cientificamente) faz bem a saúde como dá sentido à vida. Esta é a primeira razão bíblica para a instituição do casamento.
B. Suas exigências (Gn 2: 24)
Uma aproximação bíblica do casamento nos faz ver, em segundo lugar, que há exigências a serem cumpridas. No texto de gênesis citado acima encontramos a segunda verdade acerca da instituição do casamento. Vejamos o texto: “É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa”.
Neste texto, o autor fala, poeticamente, que é necessário deixar as referências antigas (pai e mãe) no passado para se construir uma nova realidade existencial no futuro: “se tornam uma só pessoa”. A exigência do casamento é, portanto, um abandono do passado para se criar, a dois, um novo futuro a dois, uma nova realidade a dois. O casal assume a preferência em relação aos pais, ou seja, o futuro assume a preferência em relação ao passado. Não quer dizer que vamos abandonar ou esquecer nossos parentes, mas compreender que agora temos uma nova família.
C. Sua finalidade (Gn 1: 28)
O casamento também possui um aspecto teleológico, ou seja, uma razão de ser. Qual a razão de ser ou a finalidade do casamento. No texto bíblico citado acima, encontramos a seguinte expressão: “e os abençoou dizendo: - tenham muitos e muitos filhos, espalhem-se por toda a terra e a dominem e tenham poder sobre os peixes do mar, sobre as aves que voam no ar e sobre os animais que se arrastam pelo chão”.
Neste texto encontramos algumas verdades importantes. O matrimônio tem como razão de ser a frutificação, ou seja, a criação de frutos, de filhos. A ideia por traz do texto é a do crescimento da humanidade. Temos também a ideia análoga de “tenham muitos filhos”, em outra tradução “multiplicai-vos”. Vemos aqui a importância de gerar descendência. Finalmente a dominação da terra, destacando os aspectos do trabalho e da manutenção.
O casamento é o espaço em que os dois não apenas geram filhos, mas também é o espaço e que os dois, por meio do domínio dos meios de produção, crescem também financeiramente. Afinal, como disse certo autor, “casais inteligentes enriquecem juntos”.
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