A ESSÊNCIA DO ANGLICANISMO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 27 de ago. de 2019
- 8 min de leitura

Uma adaptação da Declaração de Montreal sobre a Essência do Anglicanismo, 1994
feita pela Igreja Anglicana Paraguaia,1996
[Prefácio da versão original em Inglês: Como membros da Igreja Anglicana do Canadá, representantes de cada província e território do país, e como participantes na “Conferência Sobre o essencial”, em Montreal, 1994, juntos adoramos a Deus por sua graça salvadora e pelo companheirismo que desfrutamos com nosso Senhor e uns com os outros,]
Afirmamos os seguintes pontos essenciais da fé cristã:
CREMOS EM UM DEUS TRINO
Há um só Deus que se auto-revelou como três pessoas, “de uma substância, poder e eternidade”, o Pai o Filho e o Espírito Santo. Por causa do evangelho, rejeitamos qualquer proposta para modificar ou marginalizar estes nomes e afirmamos seu justo lugar na oração, na liturgia e no canto dos hinos. Pois o evangelho nos convida, pelo Espírito Santo a compartilhar companheirismo eternamente com o Deus trino, como filhos adotados na família de Deus na qual Jesus é por sua vez nosso salvador e nosso irmão. (Dt 6:4; Is 45:5; Mt 28:19; II Co 13:14; Gl 4: 4-6; II Tss 2: 13,14; I Pd 1:2; Jd 20,21. Ver Artigo I dos 39 Artigos, Livro de Oração Comum).
CREMOS EM DEUS: CRIADOR, REDENTOR E SANTIFICADOR
O Todo-Poderoso Deus trino criou um universo que em todo sentido era bom até a queda e confusão produzidas pela rebelião de suas criaturas. Havendo-se introduzido o pecado, Deus em amor se propôs restaurar a ordem cósmica com:
o chamamento de um povo com o qual fez um pacto, ou seja, Israel;
a vinda de Jesus Cristo para nos redimir;
o derramamento do Espírito Santo para nos santificar;
o surgimento e a edificação da Igreja a fim de cultuá-lo e testemunhar no mundo;
– a Segunda vinda de Cristo, em glória, para fazer novas todas as coisas. Através da história o desenvolvimento do plano de Deus tem se caracterizado por suas obras milagrosas. (Gn 1-3; Is 40:28; 65:17; Mt 6:10; Jo 17:6; At 17:24-26, 28; I Co 15:28; II Co 5:19; Ef 1:11; IITm 3:16; Hb 11:3; Ap 21:5. Ver Artigo I)
AFIRMAMOS QUE A PALAVRA SE FEZ CARNE
Cremos em Jesus Cristo o filho encarnado de Deus, nascido da Virgem Maria, em vida sem pecado, ressuscitado dos mortos corporalmente e agora reinando em glória, embora presente com seu povo pelo Espírito Santo.
Ele é ao mesmo tempo, o Jesus da história e o Cristo das Escrituras.
É Deus conosco e único mediador entre Deus e a humanidade, a fonte da salvação e o doador da vida eterna à Igreja universal. (Mt 1:24,25; Mc 15: 20-37; Lc 1:35; Jo 1:14; 17: 20,21; At 1:9-11; 4:12; Rm 5:17; Fp 2:5,6; Cl 2:9; I Tm 2:5,6; Hb 1:2; 9:15. Ver Artigos II-IV; O Credo de Nicéia).
CREMOS EM JESUS CRISTO, O ÚNICO SALVADOR
O pecado humano é uma orgulhosa rebelião contra a autoridade de Deus. Se expressa em nosso desprezo a viver em amor tanto para com o Criador quanto para com suas criaturas. O pecado corrompe nossa natureza e seu fruto é a injustiça, a opressão, a desintegração tanto a nível pessoal como social. Portanto somos culpados diante de Deus.
O pecado destrói a esperança e nos conduz a um futuro sem Deus e separados de todo o bem. O único que pode nos salvar da culpa, da vergonha e do poder do pecado é Jesus Cristo. Ele é o único que pode nos tirar do caminho do pecado. O arrependimento genuíno e a verdadeira fé em Jesus são os únicos caminhos que nos levam à salvação.
Por seu sacrifício propiciatório na cruz por nossos pecados, Jesus venceu os poderes da escuridão e assegurou nossa redenção e justificação; por sua ressurreição corporal garantiu a futura ressurreição e a herança eterna dos que creem; e pelo dom regenerador do Espírito restaura nossa natureza caída e nos renova à sua imagem. Portanto afirmamos:
Em cada geração Ele é o caminho, a verdade e a vida para indivíduos pecadores e o único arquiteto e construtor da comunidade humana restaurada (Jo 14:6; At 1:9-11; 2:32,33; 4:12; Rm 3:22-25; I Co 15:20-24; II Co 5: 18,19; Fp 2:9-11; Cl 2:13-15; I Tm 2:5,6; I Pd 1:3-5; I Jo 4:14; 5: 11,12; Ver Artigos II-IV, XI, XV, XVIII, XXXI).
CREMOS NO ESPÍRITO DE VIDA
O Espírito Santo, “o Senhor e doador da vida”, enviado a Igreja pelo Pai e pelo Filho,
revela a glória de Jesus Cristo,
nos convence do pecado,
transforma nosso ser interior,
nos leva à fé,
nos fortalece para viver com justiça,
cria a comunhão,
nos dá poder para o serviço.
O Espírito Santo transforma nossa natureza humana e nos dá uma verdadeira antecipação dos céus. A unidade em amor dos cristãos e das igrejas plenos do Espírito Santo é sinal poderoso da verdade do cristianismo. (Gn 1:2; Ex 31:2-5; Sl 51:11; Jo 3:5,6; 14:26; 15:26; 16:7-11, 13-15; I Co 2:4; 6:19; 12:4-7; II Co 3:18; Gl 4:4-6; 5:22-26; Ef 1:13-24; 5:18; I Tss 5:19; II Tm 3:16. Ver Artigo V; o Credo de Nicéia).
A AUTORIDADE DA BÍBLIA
As Escrituras canônicas do Antigo e Novo Testamento são “a palavra de Deus escrita”, inspirada e autorizada, verdadeira e confiável, coerente e suficiente para a salvação. “A Palavra de Deus escrita” tem vida e é poderosa como guia divino tanto para a conduta quanto para a fé cristã.
A fé trinitária, cristocêntrica, orientada para a redenção, que se encontra na Bíblia, está encarnada nos credos ecumênicos históricos e nos documentos anglicanos fundamentais. Em cada época, o Espírito Santo conduz o povo de Deus, a Igreja, a submissão às Escrituras como seu guia. Para isso, usa sempre como ponto de referência o respeito às santas tradições, o uso humilde da razão humana e a oração.
A Igreja não pode se constituir juiz das Escrituras, descartando e selecionando ensinos. As Escrituras mesmas, sob a autoridade de Cristo, julgam a Igreja no que tange à sua fidelidade a verdade por ele revelada. (Dt 29:29; Is 40:8; 55:11; Mt 5:17,18; Jo 10:35; 14:26; Rm 1:16; Ef 1:17-19; II Tm 2:15; 3: 14-17; II Pd 1:20,21. Ver Artigo VI- VIII, XX).
A IGREJA DE DEUS
Aquela sociedade sobrenatural denominada “a Igreja” é a família de Deus, o corpo de Cristo, o templo do Espírito Santo. É a comunidade dos crentes, justificados pela fé em Cristo, incorporados à vida ressurreta de Cristo e posta sob a autoridade das Sagradas Escrituras como a palavra de Cristo. A Igreja na terra está unida por meio de Cristo à Igreja dos céus, na comunhão dos santos. Através do ministério da Igreja, ou seja, da palavra e dos sacramentos do evangelho (o Batismo e a Santa Comunhão), Deus ministra vida em Cristo aos fiéis, e desta maneira capacitando-os para a adoração, para o testemunho e para o serviço.
Na vida da Igreja só se deve sustentar como essencial para a salvação aquilo que pode ser comprovado pelas Escrituras. O não essencial não deve ser requerido de ninguém como crença, nem exigido como matéria de doutrina, disciplina ou culto. (Ef 3:10-21; 5:23,27; I Tm 3:15; Hb 12:1,2; II Tm 3:14-17. Ver Artigo XIX, XX e XXI).
A NOVA VIDA EM CRISTO
Deus fez os seres humanos com sua imagem divina para que pudessem glorificá-lo e gozá-lo para sempre. Desde a queda que o pecado nos alijou a todos de Deus e trouxe confusão às nossas motivações e ações. Assim como a propiciação e a justificação nos restauram a comunhão com Deus e nos perdoa o pecado, a regeneração e a santificação também nos renovam a imagem de Cristo, para podermos vencer o pecado. É o Espírito Santo quem nos ajuda a levar uma vida disciplinada e a praticar as disciplinas cristãs. Nos transforma, através das mesmas, de forma crescente.
Não nos é outorgada neste mundo a ausência total do pecado, nem a nível pessoal, nem na Igreja nem na sociedade. Os cristãos seguirão sendo defeituosos “em pensamentos, palavras e obras” até serem aperfeiçoados no céu. (Gn 1:26-28; 3; Jo 3:5,6; 16:13; Rm 3:23,24; 5:12; I Co 12:4-7; II Co 3:17,18; Gl 5:22-24; Ef 2:1-5; Fp 2:13; II Pd 3:10-13. Ver Artigos IX-XVI).
O MINISTÉRIO DA IGREJA
O Espírito Santo outorga dons diferentes e distintos a todos os cristãos, com o propósito de glorificar a Deus e edificar sua Igreja em verdade e amor. Todo cristão recebe em seu batismo um chamado a ser um ministro, seja qual for seu gênero, raça, idade ou condição socio-econômica. Cada filho de Deus deve desenvolver seus dons na forma do serviço para o qual Deus o chamou e equipou.
Dentro do sacerdócio de todos os crentes, honramos o ministério da palavra e dos sacramentos, para os quais são separados principalmente os Bispos, Presbíteros e Diáconos. (Rm 12:6-8; I Co 3:16; 6:11; 12:4-7,27; II Co 5:20; Gl 2:16; Ef 4:11-13; I Tm 3:1, 12,13; 5:17; Hb 2:11; I Pd 2:4,5,9,10. Ver Artigo XIX, XXIII).
O CULTO DA IGREJA
O chamado primordial da Igreja, como de cada cristão, e oferecer culto, em Espírito e em verdade, ao Deus da criação, da providência e da graça. As dimensões essenciais do culto são a adoração e a ação de graças por todas as coisas boas, a proclamação e celebração da glória de Deus e de Jesus Cristo, a oração pelas necessidades humanas e pelo avanço do reino de Cristo, e o oferecimento de nos mesmos como sacrifícios vivos. Todas as formas litúrgicas – sejam informais, escritas, musicadas ou cerimoniais – devem desenvolver-se sob a autoridade das Escrituras.
O Livro de Oração Comum provê um padrão doutrinal fundado na Bíblia, e deve ser guardado como a norma para toda alternativa litúrgica. Não deverá ser revisado drasticamente, em um clima de confusão teológica como o que se encontra em muitas partes das Igreja contemporânea.
Nenhuma forma de culto pode exaltar a Cristo verdadeiramente nem lhe promover uma devoção verdadeira sem a presença e o poder do Espírito Santo. A oração, pública e privada, é central para a saúde e renovação da Igreja. A oração para a cura divina, tanto espiritual quanto física, é um bom elemento do culto anglicano. (Jo 4:24; 6:8-15; At 1:8; 2:42-47; Rm 12: 1; I Co 11:23-26; 12:7; II Co 5:18,19; Ef 5: 18-20; Cl 3:16; I Tess 1:4,5; 5:19).
A PRIORIDADE DO EVANGELISMO
Evangelizar significa proclamar a Jesus Cristo como Salvador divino, Senhor e Amigo, de maneira a convidar as pessoas a se aproximarem de Deus por meio dEle, a render-lhe culto e a servi-lo, e a buscar o poder do Espírito Santo para sua vida de discipulado na comunidade da Igreja. Todo cristão é chamado a testemunhar de Cristo, como sinal do amor que temos a Ele e ao próximo. A tarefa, que é um assunto prioritário, demanda treinamento pessoal e uma constante busca por métodos apropriados para atingir uma comunicação persuasiva e convincente. Nós semeamos a semente e esperamos que Deus envie o fruto. (Mt :13-16; 28:19,20; Jo 3:16-18; 20:21; At 2;37-39; 5:31,32; I Co 1:23; 15:2-4; II Co 4:5; 5:20; I Pd 3:15).
O DESAFIO DA MISSÃO MUNDIAL
Segue sendo necessário responder à Grande Comissão de Jesus Cristo com um compromisso evangelístico e com um cuidado pastoral que vá além de nossa própria cultura. A ordem de Jesus Cristo em pregar o evangelho por todo o mundo, de fazer discípulos e plantar igrejas, continua em vigência. A missão deve caracterizar-se pelo serviço.
Cristo e sua salvação tem que ser proclamado em todo lugar com sensibilidade, porém energicamente, tanto em nosso país como no estrangeiro. A missão transcultural tem que ser apoiada com oração, generosidade e ofertas, e envio de missionários. A missão global envolve companheirismo e intercâmbio. (Mt 28:19,20; Mc 16:15; Lc 10:2; Rm 15:23,24; I Co 2:4,5; 9:22,23; II Co 4:5; 8:1-4,7; Ef 6:19,20; Fl 2:5-7; I Tss 1:6-8).
O DESAFIO DA AÇÃO SOCIAL
O evangelho constrange a Igreja a ser “sal” e “luz” do mundo e a mostrar coerência em sua vida diária e nos ensinamentos bíblicos para que se ordene corretamente a vida social, econômica e política e para que haja uma boa mordomia da criação. Os cristãos devem se preocupar pela causa da justiça e em fazer atos de compaixão. Embora não se possa identificar nenhum sistema social com o Reino de Deus, a ação social é parte integrante de nossa obediência ao evangelho. (Gn 1:26-28; Is 30:18; 58:6-10; Am 5:24; Mt 5:13-16; 22:37-40; 25:31-46; Lc 4:17-21; Jo 20:21; II Co 1:3,4; Tg 2:14-16; I Jo 4:16; Ap 1:5,6; 5:9-10. Ver artigo XXXVIII).
O NOVO COMEÇO
Juntos reafirmamos nossa confiança no cristianismo anglicano que se expressa nos padrões históricos dos credos ecumênicos, nos Trinta e Nove Artigos e no Livro de Oração Comum. O respeito por estes padrões reforça nossa identidade e comunhão. Como pecadores, reconhecemos que em princípio fomos desobedientes ao Senhor da Igreja. Com ajuda de Deus resolvemos guardar nossa herança e transmiti-la intacta e integralmente. Esta plenitude de fé é necessária tanto para a renovação anglicana quanto para a proclamação eficaz das Boas Notícias de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.
Convidamos a todos os anglicanos a se unirem a nós, afirmando que esta declaração contém o essencial da fé para o discipulado e a prática cristã para nossos dias. Nesta declaração cremos estar insistindo somente naquilo que é genuinamente essencial. No que tange ao não essencial, devemos pedir a graça do Senhor para reconhecer e respeitar a liberdade dos outros que tem caracterizado tradicionalmente nossa herança anglicana.
Traduzido e adaptado pelo Rev. Cônego Jorge Aquino
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