A Diversidade Anglicana
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 20 de jun. de 2019
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Reverendo Cônego Jorge Aquino
Muita gente desconhece o Anglicanismo. Para boa parte das pessoas em nosso país, falar em “Anglicanismo” não significa muita coisa: impera a ignorância. Devemos dizer que ser “Anglicano” é estar ligado – ainda que apenas conceitualmente – à tradição cristã que se desenvolveu nas ilhas britânicas. Isso significa acolher a tradição celta primitiva, a influência da tradição romana e as tendências produzidas pela Reforma Protestante do século XVI. Assim, os Anglicanos conseguem abarcar várias tradições cristãs com equilíbrio e respeito. No entanto, de uma perspectiva histórica, o anglicanismo se desenvolveu concretamente em cinco movimentos diferentes.
1) Igrejas ligadas à Comunhão Anglicana.
O que chamamos de “Comunhão Anglicana” de 46 Igrejas autônomas (chamadas de Províncias) espalhadas por 165 países. Ela gira em torno do Arcebispo de Cantuária e congrega cerca de 90 milhões de pessoas. No Brasil, a Comunhão Anglicana se faz representar pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
2) Igrejas Anglicanas Autônomas.
Existem duas grandes igrejas que representam esse movimento: a Igreja Episcopal Reformada e a Igreja Livre da Inglaterra. Ambas surgiram no final do século XIX em reação ao Movimento de Oxford e assumem uma postura mais associada à “igreja baixa” ou ao evangelicalismo. No Brasil esse movimento é representado pela Igreja Anglicana Reformada do Brasil.
3) Igrejas Anglicanas Continuantes.
A origem do anglicanismo continuante ocorreu nos Estados Unidos, no seio da Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América, e teve como estopim, a aprovação da ordenação feminina. O surgimento desse movimento se deu em 17 de setembro de 1977, na cidade americana de Saint Louis, quando ocorreu um congresso denominado de Sociedade dos Clérigos Zelosos, que aprovou uma resolução conhecida como Afirmação de Saint Louis, e pretendendo continuar sendo Anglicanos, mas mantendo a fé católica, na ordem apostólica, na tradição ortodoxa e no testemunho evangélico da Igreja Anglicana tradicional, fazendo todas as coisas necessárias para se continuar igual. Depois desse congresso, surgiu uma igreja dissidente com o nome provisório de Igreja Anglicana na América do Norte. Em três anos esse grupo acabou se dividindo em outros três ramos: a Igreja Católica Anglicana, a Província Anglicana de Cristo Rei e a Igreja Episcopal Unida da América do Norte. No Brasil existem cerca de cinco Igrejas Continuantes.
4) Igrejas Anglicanas Convergentes
O Movimento de Convergência é um movimento sincrético que uniu igrejas evangelicais e carismáticas nos Estados Unidos, tendo como foco o Livro de Oração Comum. O movimento se inspirou na peregrinação spiritual de autores como Thomas Howard, Robert Webber e Pete Gillquist. Estes homens, além de teólogos eram pastores e, em 1973, no Campus Crusade for Christ, o missionário Peter E. Gillquist (1938–2012) de Chicago estabeleceu uma aliança de Igrejas nos Estados Unidos chamada de The New Covenant Apostolic Order (NCAO). No Brasil, o representante desse movimento é a Igreja Episcopal Carismática, com sede em Recife.
5) Igrejas Anglicanas de Realinhamento
As Igrejas Anglicanas de Realinhamento são aquelas que, em reação a dois eventos envolvendo a sexualidade humana, acabou criando a ACNA (Anglican Church in North America). O primeiro evento foi em 2002, quando uma decisão da Diocese de New Westminster, no Canadá, autorizou o rito de bênção de união de pessoas do mesmo sexo. O Segundo evento foi a Convenção Geral da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, que ratificou a eleição de Gene Robinson, um gay não celibatário, como bispo da Diocese de New Hampshire. No Brasil, quem representa esse movimento é a Igreja Anglicana do Brasil. O que caracteriza esse movimento é o reconhecimento da Comunhão Anglicana e a tentativa de ser recebido como um dos membros legítimos dessa Comunhão.
Portanto, caro leitor, desconfie sempre quando alguém chegar para você e disser que faz parte da única Igreja Anglicana verdadeira. Desde o princípio, o Anglicanismo se caracterizou como a união de Províncias autônomas e independentes. Assim como a vida, a religião na pós-modernidade também se tornou algo bastante diversificado; cuidado com quem quer simplificar tudo.
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