
Padre Jorge Aquino.
Certo dia, em um encontro com um casal de noivos, perguntei quanto tempo faltava para o casamento. A noiva, prontamente respondeu: tantos meses, tantos dias e tantas horas... Fiquei surpreso ao ver que ela tinha todas estas informações de forma tão detalhada. Mas percebi que ela revelava uma certa ansiedade envolvendo aquele dia.
O filósofo romano Sêneca escreveu em seu livro a Brevidade da vida o seguinte: “finalmente, constrangido pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido”. Em outras palavras “o tempo flui” e nós não conseguimos dominá-lo.
Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que um certo grau de ansiedade é algo saudável e normal, tanto quanto o medo ou a raiva. O problema está no exagero que acomete cerca de 25% da sociedade e que se revela como uma síndrome do pânico ou outras fobias que imobilizam nossas vidas. Lamentavelmente inúmeras noivas sofrem muito com a ansiedade.
Em segundo lugar, existem aspectos físicos que acometem fortemente algumas noivas. Em geral pessoas muito ansiosas têm tremores, suores, opressão e dor no peito, boca seca, palpitações, tonturas, etc. Este conjunto de fatores pode acabar nos levando ao hospital.
Em terceiro lugar, noivas ansiosas, que procuram realizar todas as coisas rapidamente e ao mesmo tempo, acabam por não se aprofundar em nada. Pessoas assim vivem na superficialidade do que a vida poderia dar. Elas provam apenas “pedaços da vida” ou, conforme o termo da moda criado para descrever esta cultura, vivemos em uma “snack cuture”, ou cultura aos pedaços. O que fazemos, como nos divertimos, como vivemos, revela que estamos em uma cultura que é feita pra ser consumida em pouco tempo. É fácil encontrar, nas livrarias, livros do tipo “Heidegger em 90 minutos”. Até a comida tem que ser fast food. A saída mais comum para estas noivas e contratarem alguém para decidir por elas tudo a fim de que elas não tenham que passar pelo estresse de ter que tomar decisões. Estas pessoas são os famosos assessores.
O problema, diz o sociólogo Zigmunt Baumann, é que a cultura snack atingiu os relacionamentos. Segundo ele “A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. (...) É preciso correr. (...) Não importa o que aconteça, propriedade, situações e pessoas, continuarão deslizando e desaparecendo numa velocidade surpreendente”.
Para escapar das graves consequências da ansiedade é preciso compreender três verdades: primeiro, precisamos parar, respirar, pensar um pouco, e compreender que não se pode controlar tudo. Assim diz o psiquiatra Edward Hallowel, não podemos “Forçar o vinho a envelhecer depressa, as arvores a crescerem rápido, (...) forçar o amor a vir mais cedo, o amanhã a chegar hoje”. Em segundo lugar, temos que assumir a direção de nossas vidas e das nossas escolhas. Kierkegaard escreveu certa vez: “aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo”. Somente quando tomamos nossa vida em nossas mãos damos sentido a ela.
Finalmente, devemos receber o conselho do Apóstolo São Paulo que escreveu: “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças” (Fil 4: 6). Descansem em Deus, façam suas próprias escolhas, tomem suas vidas em suas mãos, assumam suas decisões e esperem, calmamente, pois aquele dia que virá cheio de felicidade.
Faz pouco tempo realizei um casamento no qual, antes de seu início a noiva me confessou que acordou vinte vezes durante a noite, esperando amanhecer. Sei que a ansiedade é grande, mas procure relaxar nesse momento e esperar em Deus. Afinal, as pessoas mais competentes estão ao seu lado, cuidando para que seu sonho se realize.
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