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COMENTÁRIO AOS 10 MANDAMENTOS - 3º Mandamento: “Não tome o nome do Senhor, seu Deus, em vão"

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Reverendo Jorge Aquino.

Não tome o nome do Senhor, seu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êxodo 20:7).

Chegamos agora, ao terceiro mandamento da Lei de Deus. Aparentemente, tudo indica que o texto se refere apenas à proibição de tomar o nome de Deus de forma desrespeitosa. No entanto, o significado desse mandamento é muito mais profundo do que essa leitura superficial nos leva a crer. Daí a importância de parar para refletir mais detidamente sobre este tema. Assim, refletindo mais detidamente sobre esse tema, acreditamos em primeiro lugar, ser necessário afirmar, positivamente, aquilo que todos nós devemos fazer em relação a esse terceiro comando. Desta forma, refletindo positivamente, acerca da finalidade deste mandamento, nos deparamos com uma expressão clara que nos vem da lavra de Calvino, quando ele escreve que “O fim deste mandamento é que o Senhor quer que a majestade de seu nome seja, para nós, sagrada e que a tenhamos em grande veneração. Portanto, em resumo, que ele não há de ser profanado por menosprezo ou por falta de reverência. (...) Nos ensina, pois, que tanto de coração como oralmente cuidemos de não pensar nem falar de Deus nem de seus mistérios, senão com grande reverência e sobriedade” (CALVINO, 1981, II.viii, 22). Outro que se expressa sobre a finalidade desse mandamento é Reifler, ao dizer que “A finalidade do terceiro mandamento é afirmar a santidade de Deus. Não devemos profaná-Lo nem tratá-Lo irreverentemente. Não se deve pensar em Deus ou em Seus mistérios sem a devida sobriedade e reverência. Não se deve difamar o nome de Deus ou desacreditar Suas obras, mas antes dizer a verdade e reverenciar Seu nome, porque santificar nossa atitude para com Deus é santificar o nome de Deus. Deus reivindica para Si este direito de santificar Seu nome” (REIFLER, 2009, p. 81).

No entanto, muito embora concordando com as palavras do ilustre pensador de Genebra, bem assim com as do ilustre Dr. Reifler, é preciso que compreendamos a razão para se ter tanto respeito pelo nome de Deus. E, neste sentido, quem pode nos ajudar é o Dr Honeycutt Jr., quando nos esclarece que “O nome, no pensamento bíblico, resumia a essência de uma pessoa, compreendendo todo o ser de alguém em uma forma única, articulada (...). Isto não era menos verdade em relação a Deus do que em relação aos homens, e o nome de Deus expressava a conotação particular de Deus para a pessoa que dava o nome” (HONEYCUTT JR. In CLIFTON, Vol. 1, 1988, p. 488). Eis a razão pela qual deveríamos ter tanta reverência com o nome de Deus. Essa reverência e respeito se estendia e incluía sua pessoa. Quando percebemos isso, compreendemos que nossa relação para com Deus precisa estar envolta em pleno e absoluto respeito. Nesta relação não existe espaço para a vulgaridade, para a irreverência ou para o desrespeito. Nossa aproximação de Deus, por conseguinte, sempre deve se dar em um ambiente eivado de temor e deferência, pois se aproximar de seu nome é se aproximar de sua pessoa. Pensando nisso, lembramos que, quando Deus revelou seu nome à Moisés, ele exigiu que este retirasse as sandálias dos pés, pois mesmo o lugar onde ele pisava era santo (Êxodo 3:4,5). É nesse momento que Deus revela seu nome, por meio do sagrado tetragrama “YHWH” (היהו), que é traduzido em português por Senhor, Yavé, Javé ou – equivocadamente – por Jeová. Ora, sabemos que o hebraico é uma língua consonantal, e que os sons vocálicos somente seriam acrescentados à esse idioma em torno de 500 d.C. Ora, considerando que os judeus levavam tão a sério esse mandamento que sequer mencionava o nome de Deus – substituindo-o por “adonai” (meu Senhor) -, eis a razão pela qual, hoje já não se pode ter certeza sobre a verdadeira pronúncia do tetragrama YHWH. Apesar da impossibilidade de termos certeza da verdadeira pronúncia do Tetragrama, sabemos com toda a certeza, no entanto, que ele se origina no verbo hebraico havah, que significa “ser” ou “estar”. Eis a razão pela qual quando Deus se apresenta em Êxodo 3:14, Ele se apresenta como o “eu sou o que sou”. Quem descreve essa realidade de forma bastante clara é Reifler, quando diz que: “Em Êxodo 3.13-15 lemos ’ehyeh ’aser ’ehyeh. ’Ehyeh é a primeira pessoa do imperfeito do verbo hebraico hayah, que literalmente significa ‘tornar-se’. O imperfeito indica indefinição e, portanto, a frase pode significar: ‘eu era quem eu era’; ‘eu estou sendo quem estou sendo’; ‘sou quem eu sou’ (Êx 3.14) ou ‘eu serei o que serei’ (Êx 3.12). Neste nome o Senhor revela Seu caráter imutável, inescrutável, insondável e incomparável. Deus não muda e nem deseja mudar Seus princípios, Seu caráter ou Seu eterno plano de salvação (Ml 3.6; Hb 13.8)” (REIFLER, 2009, p. 82). Como podemos verificar, o Tetragrama nos fala daquele que é, sendo sempre, ou seja, do Eterno. Apesar das dificuldades em torno do nome de Deus, ao revelar o seu nome ao seu povo, Deus nos dá o privilégio de nos relacionar e de adorar, não uma divindade anônima, remota ou distante, mas um Deus pessoal que se relaciona com seu povo e que, com ele, estabelece uma aliança. Em Jesus, vemos a forma mais plena na qual Deus se aproxima de nós. Afinal, Jesus é o Emanuel, ou seja, o “Deus conosco”. Assim, devemos lembrar continuamente que sempre podemos recorrer a um Deus que, em Jesus, se revelou plenamente e que habita em nós por meio do Espírito Santo.

Em segundo lugar, é preciso destacar àquilo que nos é claramente proibido pelo mandamento. A relação dos habitantes daquela região, naquele momento histórico-cultural, com seus deuses era bastante peculiar. Assim, quando observamos os ensinamentos de P.C. Craigie, vemos que, segundo ele, “Nas religiões do antigo Oriente Próximo, a magia era uma prática comum, que envolvia o uso do nome de Deus, e que, segundo se acreditava, controlava o poder de deus, em certos tipos de atividades que visavam aproveitar o poder divino para os propósitos humanos. Assim, o tipo de atividade proibida pelo terceiro mandamento é a magia, a tentativa de se controlar o poder de Deus por meio do Seu nome, visando um propósito pessoal e indigno” (CRAIGIE In ELWELL, Vol 1, 1988, p. 455). Em outras palavras, o Deus que nos abençoa com sua graça e se inclina a dar o que necessitamos, não deve e nem pode jamais ser manipulado ou controlado por quem quer que seja. Somente Ele é o Senhor, somente Ele é excelso, e nossa relação para com Ele é, sempre, a de servos, jamais a de senhores. Portanto, peca todos os que acham que podem manipulá-lo utilizando seu nome como quem usa um amuleto, “declarando” ou “estabelecendo” levianamente o que quer que deseja seu coração obscurecido e não se submetendo à vontade do Eterno. Neste sentido, conforme assevera o Catecismo jovem da igreja católica, “O nome de Deus não deve ser invocado sem respeito, porque só o conhecemos por Ele no-lo ter confiado. O Seu nome é, de fato, a chave do coração do Onipotente” (YOUCAT-Brasil, 2011, p. 198). Antes de encerrar esse segundo ponto, contudo, acredito que precisamos ressaltar que, estritamente falando, tudo o que falamos até esse momento é o mesmo que tratar o nome de Deus de forma vã, trivial ou superficial. Esta palavra, é bastante peculiar. Muito embora este termo (אשול) “shawe”, hebraico aponte para a vacuidade, para a nulidade e para a inexistência de propósito (para aquilo que é vaidade), ele provavelmente trazia consigo acepções malignas que iam além do limitado conceito de falsidade. Assim, toda invocação do nome do Senhor de forma vazia ou irresponsável, como em geral ocorre com os hipócritas, é um exemplo desse pecado. Nesse sentido, Jesus já ensinava que “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mateus 7:21). Em outras palavras, não se trata de se fazer um discurso ou uma proclamação do que é doutrinariamente correto – chamar Jesus de Senhor -, mas de fazer as coisas que, de alguma forma, se coadunam ou se harmonizam com a vontade de Deus. Nesse sentido, assim como havia uma inafastabilidade entre o nome e a pessoa, em Jesus, aquilo que confessamos deve ser inafastável daquilo que fazemos. Ou seja, nossa agenda deve se adequar à nossa credenda.

Por fim, em terceiro lugar, diante deste comando, precisamos destacar aquilo que se devemos ensinar aos outros. Assim, verificamos que neste terceiro mandamento, Deus chama nossa atenção para o elemento fundamental que precisa existir em nossa relação para com Ele e para com as coisas sagradas, qual seja, o respeito, a deferência e a reverência. Assim, precisamos sempre anunciar que, no trato com o sagrado, há que haver sempre respeito, reverência e consideração. Eis a razão pela qual o ilustre reformador alemão, Martinho Lutero, comentando este Mandamento, ensinava que “Devemos temer e amar a Deus, de maneira que em seu nome não amaldiçoemos, juremos, pratiquemos a feitiçaria, mintamos ou enganemos, porém o invoquemos em todas as necessidades, oremos, louvemos e agradeçamos” (LUTERO, 1983, p. 367). Nestes onze verbos utilizados pelo pai da Reforma do século XVI, claramente percebemos seu pleno respeito pelo Senhor, a quem eternizou, ao chama-lo de “Castelo Forte”. Da mesma forma, o Catecismo de Heidelberg (publicado em 1563) contém o ensinamento dos demais reformadores na região da Holanda que, ensinava dominicalmente seus filhos por meio do Catecismo e, acerca desse mandamento postulava “Que não blasfememos nem façamos mau uso do Nome de Deus por maldição, perjúrio ou votos desnecessários, e que não participemos, por omissão silenciosa, desses terríveis pecados. Antes devemos usar o santo nome de Deus somente com temor e reverência, para que possamos confessá-lo corretamente, invocá-lo, e glorifica-lo com todas as nossas palavras e obras” (HEIDELBERG, 2023, questão 99). Eis o primeiro elemento que precisamos resgatar, particularmente em uma sociedade na qual a palavra “Deus” se tornou um termo quase sem sentido ou uma mera metáfora. Urge, no entanto, que demonstremos e ensinemos que esse primeiro ensino que somos convidados a difundir ao mundo - a devida reverência à nosso Senhor e Deus -, caminha ao lado de um segundo ensino igualmente relevante, e que também precisa ser lembrado aos nossos contemporâneos, qual seja, a de que cada um de nós tem uma possibilidade plena de desenvolvermos uma relação pessoal e íntima para com Ele, que em Jesus, se encarnou e se tornou o Emanuel, ou seja, o “Deus conosco”. Essas duas realidades – ser o Totalmente Outro e ao mesmo tempo o Deus Conosco – aparentemente antagônicas, são, na verdade concorrentes, no sentido de que “correm com” ou “correm juntas”, lado à lado, nos fazendo crer que nosso Deus é, sim o Deus abscôndito, mas também é o que que nos estende os braços e nos acolhe amorosamente e nos aperta em seu peito, pleno de carinho.

 
 
 

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