O que significa ser Anglicano?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 26 de fev. de 2020
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Atualizado: 28 de fev. de 2020
Esta é uma pergunta intrigante. Durante o período que costumamos chamar de “Modernidade”, as identidades eram definidas por aspectos racionais e intelectuais. Nestes dias de “Modernidade líquida”, definir a identidade tanto de uma religião quanto de uma pessoa, se torna bem mais difícil.
Em primeiro lugar devemos dizer que ser Anglicano não significa afirmar a crença nos elementos dos credos Apostólico e Niceno. Se assim fosse, todos os Romanos, Ortodoxos e Protestantes seriam Anglicanos. Todas estas igrejas creem em “Deus Pai Todo-Poderoso Criador dos Céus e da Terra”, etc. Pela mesma razão, em segundo lugar, ser Anglicano também nada tem a ver com a crença no “episcopado histórico”. Os romanos e ortodoxos também creem assim e não são Anglicanos. Todos as denominações cristãs afirmam que as Escrituras do Antigo e do Novo testamento possuem todas as informações necessárias para nossa salvação. E elas não são Anglicanas. E todas elas acreditam que o batismo e a Eucaristia foram sacramentos instituídos por Cristo, anda que administrem de forma diversa.
O que nos resta, então, se a “credenda” Anglicana é a mesma das demais denominações cristãs? Resta a “agenda”, ou seja, a prática. Por isso acredito que “ser Anglicano” não se define pela crença que afirmamos, mas pelo nosso etos (maneira de ser e viver) que é inclusivista e compreensivo e pela nossa adoração – associada ao Livro de Oração Comum.
Os Anglicanos não são contra os métodos contraceptivos; não negam a comunhão ou o segundo casamento aos divorciados; não negam a comunhão nas duas espécies; não proíbem o casamento de seus sacerdotes nem se consideram a única igreja que representa Deus na terra. Na administração os Anglicanos defendem uma “autoridade dispersa” que nega o poder absoluto dos bispos, aproximando-se mais – na esfera sacular – de um parlamentarismo constitucional do que de uma monarquia absolutista.
O Anglicanismo é compreensivo porque seu primeiro gesto frente ao “outro”, à “alteridade”, ao “diferente”, não é julgá-lo ou condená-lo, mas entendê-lo, compreendê-lo e, quem sabe, aprender com ele e acrescentar algo a mais em nossas virtudes. Afinal, “ninguém é tão ignorante que não possa ensinar algo e ninguém é tão sábio que não possa aprender algo mais”.
Quero afirmar que sou um cristão Anglicano. Cristão porque o Cristo confessado nos Credos históricos é meu Salvador pessoal; Anglicano, porque aceito toda a “credenda” e a “agenda” Anglicana sem qualquer reserva mental, mas quero registrar que sou um cristão Anglicano porque não vejo espaço em nenhuma outra tradição cristã para fazer com que as Escrituras, a razão e a tradição possam dialogar – não livre de tensões -, mas criativamente. Sei que existem várias denominações Anglicanas no Brasil hoje. E depois de ter conhecido algumas das principais tradições Anglicanas em nosso país, hoje me considero um Cristão Anglicano free lance com fortes afinidade com a história e os elementos trazidos da Reforma do século XVI.
