11. AMAR É... Tudo sofrer

Padre Jorge Aquino.

Ao entrarmos no sétimo versículo do capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios, encontraremos mais quatro características do amor. É assim que diz o texto grego transliterado “panta stegei, panta pisteuei, panta elpizei, panta hupomenei”. Diante deste versículo chegamos ao décimo primeiro elemento que marca a essência do amor: ele “tudo sofre”, ou, no grego, “panta stegei”.

A raiz desta última palavra “stegô” é bastante reveladora. Isidro Pereira tanto a traduz como “cobrir, proteger, defender, encobrir, ocultar, encerrar, conter” como também traduz por “suportar, resistir a, renunciar a”. Taylor, por seu turno, parece fazer uma tradução mais interpretativa à medida em que ele diz que a palavra significa “suporto (etim., cobrir de teto, daí esconder, assim defender-se contra, resistir, suportar)”. McKibben, finalmente, é bem lacônico à proporção em que traduz a palavra simplesmente por “sofro, suporto”. Um exemplo do uso desta palavra pode ser visto em I Coríntios 9: 12 quando Paulo diz “pelo contrário, suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo”.

As traduções da Bíblia em português seguem na mesma direção. A Versão Almeida Atualizada traduz “tudo suporta”; a tradução da CNBB diz: “Ele desculpa tudo”; a Bíblia de Jerusalém, bem como a versão Pastoral da Bíblia, traduz: “Tudo desculpa”. É assim que também traduz a Bíblia Tradução Ecumênica. Destoando das traduções citadas, a Bíblia na linguagem de hoje, novamente, quase parafraseando o texto, traduz: “o amor nunca desanima”.

Estas aparentes divergências na tradução da palavra “stegô” como “suportar” ou “cobrir” ou, ainda, “sofrer”, pode ser explicado pelas palavras de Rienecker e Rogers (1985, p. 320) quando traduzindo “stegô”, dizem: “cobrir (como um teto). O significado é ou cobrir no sentido de proteger, ou suportar como um teto (Barrett) ou aguentar, ter paciência”. Desculpar aqui, tem o sentido de cobrir, ou de encobrir o erro. E, para tanto, é preciso ter paciência para com o infrator. Leon Morris é ciente das duas possibilidades de tradução. Por isso ele diz: “O verbo stego contém a ideia básica de ‘cobrir’” (MORRIS, 1983, p. 149). Daí vem a significar, “esconder cobrindo”, “desviar cobrindo”, “suportar”. É possível que aqui tenha o primeiro sentido. O amor apaga aquilo que em outrem é desagradável. Mas é mais provável que tenha o ultimo sentido (como se á em 9: 12, “suportamos tudo”). O amor não recua facilmente; aguenta” (sic) (MORRIS, 1983, p. 149).

É interessante, diz o comentário de Broadman (BROWN, 1984, p. 435) que neste verso 7 Paulo já não se refere ao que o amor é, mas ao que o amor faz. Ele tudo sofre. Ele aguenta tudo. E continua: “Ele sobrevive à tristeza, à decepção, à crueldade, à disposição da verdade, à indiferença”. Uma tradução livre nos faria ver que o verdadeiro amor tolera a fraqueza dos outros. É o que nos ensina Pedro em I Pd 4:8 “Tende, antes de tudo, ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados”. Este é um comportamento muito semelhante ao de Deus para conosco. Ele encobre nossos pecados, suportando-os e perdoando-os. Chaplin (s/d, p. 209) nos diz que a palavra “sofre” é derivada de um termo grego que significa telhado. E é seguindo este pensamento que ele diz: “o telhado cobre, protege, ‘suporta’ a tempestade, conservando no bem-estar os que estão no interior da casa”.

Na essência do verdadeiro amor conjugal está a capacidade de encobrir no sentido tanto de “colocar um véu por cima”, quanto no sentido de oferecer um espaço onde os erros não serão levados em conta e nós poderemos ser perdoados e curados de nossas mazelas. Por mais difícil que possa parecer, se amamos nosso cônjuge, precisamos estar sempre dispostos a “encobrir” nosso companheiro no recôndito de nosso amor. Quando assim o fazemos, o retiramos da ação das intempéries e o colocamos em um lugar seguro, protegido e guardado de todo o mal. O verdadeiro amor “encobre” o amado para protege-lo, sempre.

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